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“TARDE DA BÊNÇÃO” DA ASSEMBLEIA DE DEUS DO MELO VIANA: HÁ DOIS ANOS OS VASOS SE ENCONTRAM AQUI.

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 “Vaso”, que pode significar fragilidade para alguns e “ser melhor do que os outros” para tantos, tem sido uma palavra empregada, no meio evangélico, sobretudo entre os pentecostais, para definir aquela pessoa que acredita em profecia, profetiza, busca profecia, acredita em visão, tem visões, pula quando ora, apoia quem pula quando ora, sapateia e experimenta outras manifestações visíveis da presença do Espírito Santo. O “vaso”, via de regra  confundido com fanático, não tem medo de ver seu comportamento taxado como “meninice”. Ele acredita que está sendo visitado pelo Espírito Santo e fim de papo. “Vaso”, às vezes, até se tornou um tipo de “gíria gospel”. Mas, aqui, “vaso”, a que vamos nos referir, é “vaso” mesmo, daquele que se quebra quando mente, quando compra e percebe que não vai da para pagar, daquele que não dá falso testemunho pra livrar a cara de ninguém e não mente para manter status ou fama de “sabidão”.

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De vermelho, Denísia, responsável pela “Tarde da Bênção” da Assembleia de Deus do Melo Viana, atua como uma maestrina regendo uma orquestra.

Os “vasos” têm sido enxotados de várias denominações, muitos deles de suas próprias, através do que eles chamam de “carnudos” e “bombeiros”. Muitos destes “carnudos” e “bombeiros”, vez por outra, ensaiam uma mudança de atitude e “liberam” um pouco os “vasos” de suas igrejas para terem liberdade no espírito. Porém, a qualquer sinal de “vaso demais” estes voltam atrás e preferem a coisa mais light. “Eu não concordo com isto”, disse, por exemplo, um pastor de Timóteo, quando assistia em sua congregação a um grupo de adolescentes cantando e dançando no espírito. Ele por pouco não foi embora. Abandonou o púlpito, talvez com medo de ver seu gelo derretido. A propósito, os “carnudos” e “bombeiros” amam os “vasos” quando estão passando apertos e destes se lembram para pedirem oração.

Mas nem tudo está perdido. Enquanto houver azeite, vai existir vaso. Os “vasos”, humilhados e marginalizados, vítimas de preconceito de meros religiosos e condenados a ficarem engessados diante de algumas presenças, há  dois anos, encontraram um lugar onde podem, de fato, ser “vasos”. Os “vasos”, há dois anos, ganharam a “Tarde da Bênção” na Assembleia de Deus do Distrito de Melo Viana, município de Coronel Fabriciano, congregação ligada ao Ministério Antônio Rosa da Silva, sob a responsabilidade do Pr. Ubiracy Portilho que disse à nossa reportagem ter sido quem implantou a atividade. Neste culto, que inicia às 14h e, geralmente, não tem hora para terminar, ficar sem pular, glorificar, dançar, “jogar as mãos pra cima”, sapatear e vibrar, é quase impossível para um “crente comum” e é impossível para um “vaso”. Batismo com Espírito Santo, ali, faz parte da liturgia. Não chega ser um milagre como em muitos lugares.

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Conhecido até fora de Coronel Fabriciano pela “comunidade” dos “vasos” e pelos evangélicos – assembleianos ou não – a “Tarde da Bênção”, da Assembleia de Deus do Melo Viana, tem sido um pronto socorro dos necessitados, tanto de bênçãos físicas, quanto espirituais e tem servido como um local de renovação da fé e aferição da vocação para ser “vaso”. Neste culto, uma das peças que acompanham inúmeros de seus participantes, é a toalhinha para enxugar lágrima. Ali ela está para os “vasos” como os leques para as madames.

Nesta quarta-feira, 24, o evento completou dois anos de existência, e nossa reportagem esteve lá. São apenas dois anos e já está um gigante. Foi um dia quase que inteiro de culto. Das 14 às 22h.

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Gente simples ajudando a fazer o culto.

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Chegamos ao local por volta das 14h15. Uma multidão, na sua maioria formada por mulheres, já ocupava os bancos do portentoso templo. A expectativa era daquela muito comum de quem aguarda a hora da chegada de um grande fato. Olhos arregalados, à procura de um melhor lugar para assistir ao culto, era o mais comum de se ver. Do lado de fora, mães com crianças no colo e algumas de mãos dadas com outras, chegavam quase que correndo. Não paravam na entrada do templo. O destino era o andar superior do prédio onde muita gente já estava aguardando a hora da “consulta” com o médico dos médicos.

Uma equipe, composta por mulheres simples, conservadoras dos costumes assembleianos, que marcaram e identificavam a denominação num passado não tão distante, caminhava no templo. Muitas delas deixavam escapar a preocupação com a acomodação do povo que não parava de chegar. Portando crachás, eram como diaconisas servindo o público. Perguntamos a uma delas se era comum aquela cena de gente chegando correndo no templo para disputar um lugar, em plena tarde de quarta-feira. A interrogada, sem pestanejar, respondeu que sim.

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O coral da igreja estava presente.

 Mas, quem é a responsável pela “Tarde da Bênção” em Melo Viana? Fomos conferir. Observávamos as auxiliares até que encontramos Denísia. Sem maquiagem, sem bajulação, trajada decentemente como as que encontramos trabalhando, Denísia é a responsável pelo culto.  Não se fez de importante. Simples, de voz rouca, a dirigente aceitou falar com nossa reportagem. Antes, nossa presença foi comunicada a ela, que aceitou que cobríssemos o culto. Denísia trajava vermelho. Não mediu palavras para nos responder. Foi natural. Foi povo. Sabia que sua fala não a compromete em circunstância alguma. Sabia que não precisaria, depois, nos pedir para retirar o que falou, como fazem muitos, ou negar suas declarações.

São quinze horas, muita gente, e Denísia anuncia o início da “Tarde da Bênção”. O hino, muito apropriado para o momento, falava sobre tempo de guerra. A multidão canta. Mãos se erguem, corpos se movimentam, corpos dançam!  Corpos maquiados, corpos sem maquiagem. Corpos cobertos com grifes, corpos sem grifes. O povo da seu primeiro sinal de fôlego e fogo. A “Tarde”, como as demais ao longo destes seus dois anos de existência, prometia. Seriam momentos de renovação. Momentos de fogo. “Joga as mãos pra cima”, “da três glórias a Deus”. Estes dois pedidos marcariam a liturgia da irmã Denísia. A cada solicitação, como se fosse um grito de guerra, era prontamente atendida. Como uma maestrina, regia aquele coral de uníssonas manifestações de gozo no espírito.

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Até a galeria estava ocupada.

As crianças são convidadas para descerem e ocuparem um lugar especial no templo reservado para elas enquanto os adultos se “queimavam”. Foram, aproximadamente, oitenta crianças, segundo cálculo de uma das “tias” abordada por nós.

A “Tarde da Bênção” prossegue. Louvores eclodem e seus executores são famosos “vasos” do Vale do Aço. Michael Douglas, de Ipatinga, era um deles. Os louvores não obedeciam a um ritual de show de afinação e preciosismos vocálicos. Os louvores eram como lenha atirada na fornalha colaborando para o aumento e intensidade das chamas. Eram aquelas músicas que mexem com os ouvintes. “Trezentos Gideões”, “Eu vim aqui pra falar..”. Era este o tipo de louvor. A cada um deles, o povo se derretia e o local incendiava, ou melhor, continuava incendiado.

Mas, todo aquele clima acontecia em uma denominação onde há unanimidade para o tipo de ocorrência? Onde está o pastor da igreja? Ele não se importa com este “movimento”?. Não tinha figurão à frente. Era uma mulher simples quem dirigia. Onde está o pastor?

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O “vaso” Michael Douglas esteve lá.

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São 15h e Ubiracy Portilho adentra o templo. O fogo não se apaga. Suas labaredas não se arrefecem  com a chegada do líder. Ubiracy entrou e nenhum “vaso” aquietou-se. Nenhum “vaso” deixou de ser “vaso” com a presença do pastor, o que nem sempre ocorre. Alguns destes líderes (vamos colaborar e deixar líder sem aspas) dividem as horas dos “vasos” com o antes e o depois que chegam no local, templo ou não. Muitos não aparecem como pastores, mas se gabam de fazer papel de pais que dizem corrigir “meninices”. Pr. Ubiracy, com uma serenidade que contrasta com seu ar de seriedade, assiste a tudo. Ergue as mãos, sobretudo na hora do “joga as mãos pra cima”. Alegre como alguém a “orgulhar-se” de ter em sua igreja uma reunião famosa como aquela, convida os obreiros presentes para acompanha-lo até o púlpito, deixando as cadeiras disponíveis para mais “vasos”, dirigentes de círculos oração. Ninguém rejeita e acompanham Ubiracy. Entre eles estavam pastores de Timóteo, do Ministério Adão Araújo como, por exemplo, Rogério Trindade, do Alegre, Guilherme Florêncio, sede, e Osmar, Alphaville.

O culto prossegue. Parecia aquelas manhãs de avivamento que, de vez em quando, marcam festividades, no domingo. A galeria está lotada. É uma quarta-feira, à tarde. O que tem naquele culto para atrair tanta gente? “É muito jejum e oração para Deus operar”, disse Denísia, quando perguntada sobre o segredo da “Tarde da Bênção”, atividade que, na maioria dos lugares onde ocorre”, é de baixíssima frequência.

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Mas o público ali presente é formado por fiéis de Coronel Fabriciano, apenas? Não. Nada disto. Ali estavam evangélicos de diversos lugares e denominações do Vale do Aço, inclusive inúmeros de Timóteo, do Ministério Adão Araújo. “A gente vem aqui direto”, revelou um deles.

“Aqui o pau quebra”, disse irmã Denísia a certa altura, entre um e outro louvor. E o “pau” quebrou mesmo. Rajadas de aleluias e glórias a Deus rasgavam os céus de ponta a ponta. Lágrimas inundavam rostos. Rostos sofridos de jovens, adolescentes e anciãos que estavam assentados como passarinhos à espera do alimento da mãe. As horas passavam e ninguém se retirava. Não tinha momento certo da bênção. Ela não viria da pregação de uma celebridade dos “Gideões”. Ela estava ali desde o início. Sair dali era um risco para quem precisava ouvir Deus falar consigo. Não tinha uma profeta endeusada. Muitas das mulheres presentes, aparentemente não freguesas do Boticário, Natura e outras fábricas qualquer de embelezamento artificial, eram usadas e se aproximavam de necessitados, às quais eram apontados por Deus.

Sobre a mesa carteiras profissionais, documentos, curriculums e um molho de chave aguardavam a hora da oração especial.

“Joga as mãos para cima”, bradava Denísia, que contou parte de uma vitória conquistada, “incentivando” a fé de muitos ali.

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Diversos obreiros estiveram presentes. Da direita para a esquerda, o terceiro (de terno) é o Pr. Ubiracy Portilho.

O pregador, quem seria? Teria que molhar a camisa para ver satisfeito seu desejo de manifestações se cumprir? Teria que eleger algum mantra para dizer, depois, que sabe colocar fogo? Não, não teria. Ele só não poderia é ser bombeiro. Até porque, bombeiro, ali, teria se desfeito em chamas ou se retirado. Aliás, bombeiro, ali, era um bem desinformado. Se estivesse ali, é porque não sabia que o lugar tinha espinho para suas pretensões e filosofias.

O pregador é convidado para a mensagem. Denísia não descreve seu curriculum e nem fala sobre quantos foram batizados com Espírito Santo em algum lugar onde ele pregou. Ali não cabia  nem precisava deste estapafúrdio tipo de apresentação. Pr. Francisco Sales, de Belo Horizonte, com poucos raciocínios, mostrou ser do ramo (fogo). Não precisou pedir “vira pro seu irmão ao lado e fala assim…” Ele condenou o gelo na igreja e a preocupação com formação de agenda, simplesmente. Exortou os cantores e pregadores a não buscarem a fama mas, sim, fazerem a vontade de Deus.

Oração e louvor não faltavam. As horas passavam, a tarde dava lugar ao início de noite. Denísia anuncia o fim do primeiro expediente. ÀS 18h teria  mais, inclusive com a presença de caravanas que viriam em dois ônibus especiais.

Nossa reportagem se retira do local. Fomos ao lugar para onde foram convidados os fiéis para um café ou um caldo. A multidão já estava dispersa e poucos, com relação aos que se encontravam no templo, estavam ali.

A notícia que nos chegou foi de que, à noite, o fogo continuou e oito foram batizados com Espírito Santo.

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Reunidas em um local à parte, as crianças participam de um lanche.

A “Tarde da Bênção”, no Melo Viana, tem sido um refúgio para necessitados. Saudosistas de um tempo onde eram comuns cultos de avivamento, para ali têm acorrido nas tardes das quartas-feiras. Assembleianos e fiéis de outras vertentes denominacionais ali se encontram e se confraternizam num ambiente de pentecoste. “Por que não temos um culto deste lá na nossa igreja”?, questionava um fiel de Timóteo. “A gente tem que vir aqui para viver um clima deste”, dizia outro.

Denísia não se vangloria dos resultados do evento que dirige. Não usa sua página no Facebook para arrotar santidade e impressionar. Ela não aceitou ser chamada de famosa. Atribuiu a glória a Deus e sugeriu que conversássemos, também, com seu pastor.

Para os “vasos” do Vale do Aço, a “Tarde da Bênção”, na casa do oleiro, do Melo Viana, até que é um ótimo programa. Para quem gosta de fogo, ali é fogo! De “Tarde da Bênção” para “Encontro de Vasos”, até que não seria uma troca absurda! Faria sentido!

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Pr. Francisco Sales, de Belo Horizonte.

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No final do primeiro expediente, um caldo para os presentes.

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