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Governo quer salvar Usiminas

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Ipatinga. A Usiminas emprega diretamente 6.500 pessoas, segundo o sindicato dos metalúrgicos; outros 6.500 empregos são indiretos

QUEILA ARIADNE

Ex-presidente da Usiminas, mas agora do outro lado do balcão, o presidente da Companhia de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (Codemig), Marco Antônio Castello Branco, não esconde a preocupação do governo mineiro com a situação na qual se encontra a maior produtora de aço da América Latina, com quase 60 anos de mercado. Em entrevista à reportagem de O TEMPO, Castello Branco revelou a atuação do Estado, desde o ano passado, na tentativa de mediar um acordo entre a Usiminas e bancos privados para reverter o quadro quase falimentar da empresa. Outra solução seria o aporte de capital dos sócios. No entanto, segundo o presidente da Codemig, uma saída consensual – única salvação da siderúrgica – ainda estaria longe de acontecer.

De acordo com Castello Branco, o governo não tem papel interventor, mas está tentando fazer uma mediação política para impedir o colapso. “O governador está muito decepcionado porque há mais de um ano o Estado tenta mediar, sem sucesso. A solução é aporte de capital. Para isso, eles precisam apresentar um plano de reestruturação, para mostrar credibilidade aos bancos, mas a Nippon (uma das controladoras da Usiminas ao lado do grupo ítalo-argentino Ternium) tem muita resistência”, afirma.

Nos esforços do governo mineiro para ajudar a salvar a Usiminas, Castello Branco revela a possibilidade de acordos fiscais mediados pela Fazenda, além da criação de uma linha de crédito via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). “Sozinho, o BDMG não tem condições de resolver esse problema, mas, junto com outros bancos privados, qualquer ajuda é bem-vinda, e seria possível fazer um plano de recuperação”, afirma.

Segundo ele, desde março do ano passado, o governo tem se reunido com os sócios para tentar mediar um acordo. “Mas é surpreendente ver uma empresa tão importante totalmente imobilizada, sem conseguir andar porque os acionistas não querem ceder”, lamenta Castello Branco, que presidiu a Usiminas de 2008 a 2010.

Na opinião dele, as desavenças vão dificultar até mesmo um pedido de recuperação judicial. “Sem consenso, eles vão direto à falência. O acordo de acionistas exige que os sócios majoritários e a administração votem igual, mas eles não entram em acordo. A empresa vai acabar implodindo. Sem recursos, não vai pagar fornecedores, e eles vão deixar de entregar. E aí, a empresa vai produzir como?”

Minientrevista – Marco Antônio Castello Branco, Presidente da Codemig e Ex-presidente da Usiminas

O governo de Minas Gerais pode fazer alguma coisa para ajudar a Usiminas? 

Não podemos fazer uma intervenção, mas tentamos mediar. Fizemos várias reuniões com os acionistas, tanto da Ternium quanto da Nippon, mas não conseguimos nada. Dá um enorme sentimento de impotência e de ansiedade para cobrar deles. Tem que ter um plano de reestruturação, mas a Nippon nunca mostrou.

Os bancos já não querem financiar a empresa. Qual a solução?

A saída é aporte de capital e, para isso, os sócios têm que ter um consenso. E não adianta só um querendo. Se não tiver aumento de capital, não vão conseguir dinheiro dos bancos. Se não fazem as pazes, que pelo menos deponham as armas nesse período.

 
Se um dos sócios comprar a parte do outro, a situação pode melhorar?

Essa possibilidade já foi discutida, mas a Nippon não quer vender. Eu acho estranho esse conflito porque, quando a Ternium entrou para a Usiminas, foi a Nippon quem convidou. Ela tinha preferência e aceitou a Ternium. Agora eu sinto que a Usiminas está muito longe do Japão. Eu gostaria de ver se essa situação estivesse acontecendo com uma siderúrgica japonesa, se estaria desse jeito.

O que pode significar para o Estado a perda da Usiminas? 

É lamentável. É surpreendente que a população, todos os empregados e o Estado sejam vítimas dessa picuinha.

Ações caíram 90% após início da briga

O setor siderúrgico brasileiro enfrenta um dos momentos mais críticos da história. Segundo balanço do Instituto Aço Brasil (IABR), no momento, existem cerca de 60 unidades desativadas. A China passou a exportar mais, derrubando os preços. Problemas mundiais do setor à parte, a situação da Usiminas começou a ficar mais delicada desde setembro de 2014, quando o então presidente Julián Eguren e outros dois executivos do grupo ítalo-argentino Ternium foram destituídos por recebimento de um bônus considerado irregular pelo Conselho de Administração da empresa. A outra ala, dos japoneses da Nippon Steel, assumiu. 
 
De lá para cá, as ações preferenciais, que, na ocasião, valiam R$ 8, fecharam na sexta-feira em R$ 0,85, uma desvalorização de 90% em pouco mais de um ano. No dia 18, haverá divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2015. Até o terceiro, o prejuízo ultrapassava R$ 2 bilhões, o caixa havia caído 22% e a dívida havia subido 19%. 
O Tempo

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