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De Timóteo: Hoje ela completa 104 anos! Parabéns é pouco!

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9 anos atrásno

Geza, que reside no bairro Cruzeirinho, completa, hoje, 104 anos, como atesta o documento dela publicado abaixo
Relembrando a matéria publicada sobre a aniversariante em abril do ano passado.
“Se eu não tivesse aceitado Jesus, acho que já teria morrido”, disse Geza, de 102 anos, mais de 50 deles vividos em Timóteo.
Publicação: Abril de 2014.
Ao nos aproximarmos dos 50 anos de emancipação de Timóteo, a nossa terra, nada mais sugestivo do que nos interessarmos pela história de uma moradora desta cidade, que aqui reside há mais de cinco décadas e está a dois anos do dobro da idade deste município.
Geza Medalha de Jesus, evangélica da CIA – Centro Internacional de Avivamento – nasceu em 27 de novembro de 1911, no vilarejo de Macaquinho, município de Caratinga, em Minas Gerais. Primogênita de uma família de cinco irmãos, Geza, dona de uma voz privilegiada com um timbre que lembra locutor de FM, durante quase todo o tempo da conversa conosco, não deixou de sorrir, chegando a dar gargalhadas, diante de algumas perguntas como, por exemplo, quando desejamos saber ha quanto tempo está viúva. Há mais de uns vinte anos? Ela, para, dá gargalhadas, e diz; “Vinte anos? Nem sei”. Uns cinquenta? “Dai pra lá”, devolveu. Se não recorda de quanto tempo passou a viver sem o esposo, das causas que o levaram à morte não se esqueceu. Nesta hora, a voz ficou empostada e os olhos brilharam. “Ele se chamava José Rufino teve três derrames”, revelou.
Mãe de dez filhos, dos quais apenas dois vivos, Geza nos deu lições de uma memória fotográfica, uma mente prodigiosa e um coração elástico. Ela disse ter sete netos e quatro bisnetos. Sua fala eloquente desfez a imagem de uma mulher tímida e calada. De um português apurado, para quem disse não saber ler nem escrever, a centenária despertava curiosidade a cada perguntava que respondia. Sua vivacidade e senso de observação não a deixaram se embaraçar diante de nenhuma curiosidade nossa. Aliás, curiosidade, era também, de certa forma, fruto do que ela nos dizia e como dizia. Algumas de nossas perguntas foram respondidas com outra pergunta sua.
“Quando eu vim pra qui, minino, estas casas era tudo caixote”, contou Geza. O Santa Maria (bairro) era um barreiro vermelho danado”, descreveu a centenária para, logo em seguida, revelar que é evangélica, há trinta anos, da ‘Quadrangular”, agora CIA.
Mas como está a saúde da mulher de cento e dois anos com quem conversávamos? Este é um dos aspectos que causa admiração em quem convive com ela ou a conhece. “Eu não tenho nada não. Não sinto nada. Não tenho diabetes, não tenho colesterol, não tenho problema nenhum de coração, não tenho problema de pressão alta, nada disso. Nada, nada, nada”, contou nossa entrevistada. Ela disse que tem o cuidado de submeter-se a exames periódicos “e da tudo certo”. Ela descreveu a reação do médico que cuida de si: “A senhora ta melhor do que eu”. Bom, com relação aos seus hábitos como, por exemplo, deitar e acordar? Geza responde: “Eu acordo a hora que eu quero acordar”, disse, desfazendo a ideia de regras quanto a este aspecto em sua vida. “Deito a hora que me da vontade de dormir”, acrescentou.
Geza não gosta de deitar e ficar olhando para as paredes. “Eu fico acordada vendo novela”, contou, em gargalhadas. “Eu gosto daquele “corta pra mim…como que é?”, emendou Geza, se referindo ao programa Cidade Alerta, da Record, lembrando do seu apresentador, Marcelo Rezende, com seu famoso bordão.
Comida. A nossa idosa alegre segue alguma dieta para longevidade? “Eu como de tudo. De tudo. O que tocar pra mim eu to mandando”, falou. A gente vai, agora, perguntar à entrevistada sobre o fato de que ela mais recorda em sua vida. Sem pestanejar, Geza recorda da revolução de 1930, o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha. A centenária lembrou, com riqueza de detalhes, de quando seu pai, o avô e um tio, “passavam o dia no mato e só retornavam para casa à noite”, para não serem mortos. “Minha mãe levava comida no mato para eles”, lembrou. “Eles (os soldados), pegavam os homens, pra brigar, e levava pro mato, pra morrer ou matar”, detalhou Geza. Perguntei o local onde o fato aconteceu e ela respondeu dizendo não saber. “Eu era minina”, justificou.
Agora, mais uma curiosidade sanada pela dona da entrevista. Por que o pano amarrado na cabeça sem o qual a gente não a vê? Com relação ao tempo do hábito ela contou ser de longa data e revelou sua origem. ‘Eu trabalhava na 38 (número de uma antiga rua de um bairro onde é hoje, parte do Cruzeirinho) na casa de uma dona, ajudando fazer comida. Então eu ficava com medo de cair cabelo na comida e, ai, eu usava o lenço e acostumei. Não tiro nem para dormir”, disse Geza, acrescentando possuir três pares do acessório, um deles presente de aniversário. Pergunto se estudou, e a resposta é a seguinte: aprendi a contar minhoca na roça. Eu trabalhava na lavoura dos outros. Ganhava um dia de serviço capinando nossa plantação. Nós trabalhava, eu mais minha irmã, e ganhava um dia de um homem, no cabo da enxada. Até bater pasto nós batia”, enumerou as ocupações que tinha, às quais credita a culpa por não ter estudado.
Será que irmã Geza ainda trabalha? Eu quis saber. “Eu trabalho. Passo roupa pra fora”, respondeu, dizendo, ainda, que se ocupa deste serviço para seis famílias, e prefere o horário da manhã, “devido ao calor”. Geza contou que essas clientes suas são de longa data. Ela informou que o valor que cobra para execução do serviço é de acordo com a quantidade de peças. “Eu tenho tabela mas não cobro por tabela. Eu cobro é pelo meu tempo de serviço”, emendou, com uma sonora gargalhada. “Hoje mesmo eu passei duma minina só, por trinta e cinco reais”, exemplificou. Geza atende passando roupa nos bairros Primavera, Timotinho, Alvorada e Quitandinha, onde reside atualmente.
Nossa entrevistada falou com vê o mundo atualmente. “Muito ruim, tá doido! Nossa, no tempo que eu fui criada, é totalmente diferente! Esquisito demais”! Sobre os namoros da atualidade, Geza responde: “E eles namora, minino? Ês é …”, disparou, se referindo ao tipo de relação entre namorados hoje em dia. Com relação às igrejas, ela avaliou: “Pastor? Tem uns explorador, né? Tem uns que vive direitinho com as igrejas deles, e tudo. Mas tem uns que só quer saber de dinheiro”.
A centenária simpática esteve durante a conversa conosco muito paciente e sentada em uma cadeira, próximo à porta do local onde mora com um neto. De olho nessa paciência, aproveitamos para fazer mais perguntas. Geza fez considerações sobre sua condição de idosa, com relação aos seus direitos. Perguntamos para ela se já teria sido vítima de alguma discriminação quanto à sua idade. “Eles (a sociedade) me respeita. Se não me respeitar eu saio neles”, garantiu. “Um dia desse ai eu fui descer (do ônibus) na…Você lembra quando o ônibus matou aquela mulher aquela vez…?Então eu passava pros fundos do ônibus com o cartão. Ai, quando aconteceu isso, eu panhei medo, porque um dia eu fui descer na porta de trás e o motorista, por um tiquinho, ele quase me espremeu na porta do ônibus. Eu tive que descer na porta de trás. Ai eu gritei com ele: Oh, rapaz, abre esta porta. Você tá em tempo de me prender na porta aqui. Ai eu falei com ele: se você quer conservar seu emprego, rapaz, põe mais sentido, tá? Falei com ele. Se você precisa do seu emprego, põe mais sentido na hora que o passageiro desce. Que pressa é esta? A pressa é inimiga da perfeição”, esbravejou Geza, que disse ainda: “Eu só ando lá na frente. Quer achar ruim, acha”. Ela relatou que um dia destes teve que discutir com outro motorista que afirmou ser ela “obrigada” a fazer um cartão para apresentar na hora de entrar. Geza, após algumas advertências ao condutor, não deixou por menos: “se você quer conservar seu emprego, trata os velhinhos com carinho”, teria dito ao ousado.
Sempre morando de aluguel, a evangélica com mais de cem anos, reclamou do IPTU. Disse que é um “pecado” pagar esse imposto. Em meio à reclamação sobre o sabor amargo do IPTU, fez uma pausa para perguntar ao neto que assistia à entrevista a razão do café que ele fez estar “muito doce”. Aproveitei a oportunidade e perguntei o que ela está achando da atual presidente da República. “Oh, mínimo, tem uma coisa: quando o Lula chegou lá, a gente não tava podendo comer nem arroz. Diariamente tinha uma pessoa no portão da gente, pedindo copinho de gordura, pouquinho de arroz pro meu filho… O Lula entrô lá e, até catando papelão, latinha na rua, as pessoas podia comprar as coisas pra comer. Comprar o óleo, o arroz, o feijãozinho pra comer. Você sabe disto. Depois que o Lula entrô lá, o pessoal sumiu da porta da gente. Ninguém vê o outro na porta pedindo latinha, comidinha, punhadinho de arroz. Agora, a Dilma, tá meia coisa…às vezes ela chega lá, né?”, considerou. Mas que “meio coisa” é essa que ela disse estar a Dilma? Geza explicou: “tá meio vacilada, né?”. Sobre o tempo dos Militares no poder, a entrevistada disse: “esses governos num tava com nada no balaio não”.
Volto à questão da sua saúde e Geza conta que nunca esteve internada em um hospital, nem para dar à luz seus filhos. “Eu nunca internei. Médico nunca pôs a mão ne mim. Médico só me examina se o coração tá bom…O dia que eu tiver de internar é capaz deu morrer”. Sobre os partos, ela disse: “eu ganhei nenem com parteira”. A idosa esbanjou coragem e disse que chega a contrariar algumas sugestões médicas, citando, Dr. Barros. “Você acha que eu vô pro fogão fritar um ovo só pra mim comer?”.
Será qual o segredo de Geza para esta saúde e energia? Ela conta. Antes, porém, me pede para olhar na panela para ver os toucinhos que sempre coloca no feijão. “Deixa eu falar com você: eu já bebi, eu já fumei, já dance muito forró. Se eu não tivesse aceitado Jesus, acho que eu já tinha morrido. Se eu não tivesse largado estas porcariada tudo pra lá, minino, e aceitado Jesus na minha vida, eu já tinha ido…”. Mas a falante entrevista continuou a dar a receita para longevidade. “É Jesus, comer bem, não guardar ódio no coração. Se uma pessoa te faz uma raiva ali, na hora você pode ficar com raiva mas, depois, você deve esquecer aquilo. Não guarda no coração não. Num guarda raiva no coração não que é ruim. Coitado do coração vai indo e não aguenta”, receitou Geza, que nos contou, logo em seguida, um sonho, onde ela estava sozinha, em um globo. Ela disse que, neste sonho, orou e disse: “meu Deus, será que vou perder minha salvação?”. Na sequência do relato, revelou que uns homens, vestidos de branco, passaram por ela, desaparecendo e ela acordando em seguida.
Geza disse que não tem nenhuma superstição. “O que faz mal é o que sai da boca pra fora e não o que entra pra dentro”, filosofou, rebatendo algumas práticas sobre certos tipos de alimentos em datas específicas.
Um dos momentos de emoção da conversa com esta “professora e filósofa” foi quando eu perguntei a ela sobre seu sonho de vida. Com voz, embargada, pausada, disse: “a minha casinha própria Nossa, eu tenho vontade de um dia, antes deu morrer, ter minha casinha. É a única coisa que eu quero. Quero ver a mãe dele (aponta para o neto) com saúde, também. “Tem dez anos que ela não anda, tadinha! Tá na cadeira de rodas. Aí é só com Deus”.
Geza disse que tem medo de sofrer em uma cama antes de morrer. “Eu peço a Deus todo dia: não deixa eu morrer de repente. Eu quero preparar para ir morar com Deus. A gente é pecador, a carne é fraca. Às vez, alguma hora, a gente fala alguma coisa que Deus não agrada. Eu quero que Deus me prepara. Não quero dar trabalho a ninguém, antes de morrer. Isto eu peço a Deus. Num quero morrer debaixo de carro, esses trem não. Quero que Deus me leva igual um passarinho”.
Sobre música, Geza disse gostar “daquela que fala sobre o mar afora…do Lázaro”. Sobre um versículo bíblico de sua preferência disse não ter “porque não sabe ler”. Nesta hora, fez questão de dizer que conhece dinheiro. “Num me dá dinheiro faltando no meu troco não, que eu sei”. Contou que usa o celular para ligar para suas clientes, mas que não sabe qual o número dele. Neste momento o neto entrou em ação para revelar que Geza sabe algumas coisas sobre a internet. “Quando ela vê um efe grande diz que é Facebook”, contou.
Quando perguntada sobre sua personalidade, ele não hesitou em dizer que “dança de acordo com a música”. “Se eu vê que a pessoa não me convém, eu desprezo. Se precisar de mim, me procura que eu to pronta pra valer, mas eu isolo. Não sou de ficar enchendo casa de vizinho, ficar em portão batendo papo”.
Sobre um medo, a idosa disse que a única coisa que a apavora é a violência. “A gente vê na televisão aí cada coisa, rapaz…”, justificou. Mas, segundos depois, recordou de outro medo. Lembrou que tem medo de vento, quando está prestes a chover. “Antes de aceitar Jesus eu tinha medo demais. Dava vontade de enfiar debaixo da cama”, dimensionou o sentimento, provando que, depois de convertida, seu medo diminuiu.
A respeito dos sinais dos tempos, a centenária falou também. Disse: “no fim dos tempos, a pessoa ia ter vergonha de ser honesta, vergonha de ser honesta. O que que é isto? Sabe o que que é? É essas mulher andando pelada aí. Se elas num andar pelada, num tão na moda. Tá um Deus nos acuda”.
Sobre um desejo que não realizou, Geza disse que é ser professora. “Minino, eu queria ser professora”.
Nossa entrevistada, antes de encerrar a conversa, pediu aos jovens para “não encher destas drogas excomunguentas que tá por ai”. Ela disse que se continuar como está, o mundo vai ser formado apenas por adultos. “Os jovens tão acabando tudo”, disse, se referindo ao índice de mortalidade de jovens envolvidos com drogas. “Tá ficando só os veios, e os veios não vão fazer mais fio não, rapaz”!
Geza encerrou a conversa conosco – que durou cerca de quarenta minutos – pedindo ao prefeito que apresse em concluir as “casinhas” do Córrego do Caçador. Seus olhos, mais uma vez, seguraram algumas lágrimas, ao lembrar que seu sonho é de ter uma casa própria.
Deixei aquele barraco simples, de três cômodos, no bairro Quitandinha, onde Geza reside com um neto, convencido de que as frustrações que a vida nos impõe têm antídotos na vida de outras pessoas, como esta mulher, que supera suas dificuldades com sua crença em Deus e fazendo sua parte, como, por exemplo, não deixando que as mágoas invadam seu coração.
O sonho de Geza, de ter sua casa própria, bem que poderia ser um presente nesta data em que Timóteo completa 50 anos. Esta filha adotiva, que deixou a cidade de Caratinga, acreditou nesta terra e não seria justo que partisse para o outro lado sem ver este sonho realizado.
Nossa entrevista é um alento para você que está querendo encurtar sua vida, devido a tanto sofrimento. Geza chegou aos 102 anos e quer viver mais. Que Deus abençõe ela e sua família e que sua vida continue a ser um exemplo de honestidade e responsabilidade com o próximo e de temor a Deus. Ela vive há mais de um século e não elegeu esta contagem de dias como álibi para desistir de ser honesta, ao ver que, embora tenha respirado por tempo, é mais uma pessoa que não viu, ainda, seu sonho de morar no que é seu realizado. Ainda bem que Geza tem uma morada no céu! Geza, é uma medalha de Jesus para você!

Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.