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11 anos atrásno
Às 10 horas deste sábado, de temperatura amena em Timóteo, mais uma página da história do Ministério Adão Araújo, daquela página que quanto mais o tempo passa mais ela se rejuvenesce, foi virada. Virada daquele modo que sempre volta atrás por um leve sopro da citação do exemplo de valores que se rarefazem na vergonhosa relativação do que é honesto, justo direito e de boa fama. Nesta hora, 283 minutos depois da que ele faleceu no dia anterior, deixava a sede da denominação, no bairro Olaria, o corpo, elegantemente vestido de um terno escuro, do Pr. Messias Rodrigues dos Santos. Este nome, de quem tinha ares de messiânico, de fato, nunca esteve no holofote deste ministério, mas, na base de sua sustentação, era o de um homem que merecia ser descrito como uma das colunas que o sustentou, enquanto deu sua vida como tesoureiro. E como tesoureiro deste ministério, Messias, recentemente consagrado a pastor, ficou durante 27 anos. Sua dedicação a esta pasta, com sua simplicidade e os recursos singelos como caneta e papel, fazia dele um homem comprometido com a obra de Deus.
Sem motorista particular, sem “falar grosso”, sem gabinete e sem ostentação, apenas na sua bicicleta, portando uma bolsa azul, Messias tinha uma atividade diária, nesta função, como um soldado. “Era de segunda a segunda”, disse um parente seu, referindo-se à dedicação do tesoureiro. Seu senso de dever era tão grande que muitas vezes, devido à quantidade de serviço, dividia com um filho um pouco das tarefas. Não eram raras as vezes que foi visto indo em direção ao centro norte da cidade para honrar compromissos da igreja.
Messias combateu o bom combate. Não debateu com o bom combate. Seu nome como alguém que, embora talvez não tivesse tratamento de importante, está definitivamente na galeria dos baluartes da caminhada da Assembleia de Deus do Ministério Adão Araújo. Nenhuma descrição da trajetória desta denominação na cidade merecerá crédito se omitir os feitos deste servo de Deus, que não se serviu de Deus.
Avesso a bajulações, desapegado a títulos e sem ostentar medalhas, Messias, depois de “deixar” a função de tesoureiro, ocupava, sempre, o último banco da igreja, onde assistia aos cultos ao lado, como se preferencialmente, de outro nome de importância na denominação, Waldivino Benjamim, presbítero.
A marca do líder silencioso que foi Messias, fica cravada como de alguém justo, honesto e que não teve seu nome envolvido em suspeitas e nem em falcatruas engenhosas. Bem humorado, era capaz de fazer qualquer um sorrir mesmo quando a situação parecesse de gosto azedo. Viveu como alguém que dava a impressão de nunca ter experimentado uma injustiça. Não murmurava nem contendia. Parecia mais um Messias. De fato, era um Messias santo que tinha Rodrigues.
Seus sobejos exemplos como pai, avô, marido e sogro foram lembrados por um dos filhos na cerimônia fúnebre, presidida pelo Pr. Ranon, momentos antes do caixão com seu corpo deixar o templo. Não era a verve de um rebento apaixonado, mas a voz que, ali, soava como o resumo do sentimento de todos que conheceram o pai do agradecido.
A unanimidade em torno da sua definição como cristão autêntico foi o testemunho da sua conduta. Imparcial, não opinava sobre os fatos, muitos deles enigmáticos, que marcaram o Ministério a que serviu. Como alguém que nada sabia e não ouvia e não via, seguia sua caminhada. Não alardeava seus feitos e não publicava dissabores.
Segundo contou um de seus filhos, os últimos dias vividos por Messias ao lado da esposa Dagmar, foram misteriosos. Segundo o relato, pelas madrugadas vinha acordando e, com as mãos dadas com a esposa, dizia a ela que a amava muito e, se tivesse feito algo que a ofendera nos anos de convívio com ela, que o perdoasse. Este era um comportamento digno de quem foi Messias, mas misterioso para quem foi Messias. Discreto como era, sabia guardar segredos. Era idôneo.
A família, na manhã deste sábado e durante todo o dia de ontem, desde a hora do anúncio da sua morte, se uniu em uma corrente de solidariedade aos filhos, esposa, netos, genros e noras para amenizar a dor da perda do grande homem que foi. Quando seu corpo chegou no templo, na tarde da sexta-feira, assim que foi visto pela primeira vez no caixão, por um dos filhos, Messias foi chamado de “campeão”. Aqui, “campeão” não era a expressão de uma gíria grotesca, mas a definição dada por um filho a um pai que soube ser filho de muitos pais que queria ser filho de um pai como ele.
A partida do Pr. Messias, que salvou com seu exemplo, a vida de muitos, deixa uma lacuna profunda não só no ramo genealógico mas, também, na sociedade onde escolheu para viver. Quase três anos depois de perder uma irmã, Messias foi de encontro ao descanso que merecia, mesmo se comportando como alguém que parecia não conhecer o cansaço. Foi em busca da recompensa que a homens como ele, é o troféu a quem merece a definição dada por um de seus filhos: CAMPEÃO.
Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.