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O milagre na vida do Kaddimiell contado pelo pai. “Hoje a gente vê que muitos jovens que nunca tinham pensado em Deus, depois do milagre da vida do Kaddimiell, já estão carregando uma Bíblia”, disse.

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10 anos atrásno
O sol causticante, o calor quase insuportável. O asfalto que cobre grande parte do Distrito de Cachoeira do Vale, em Timóteo, refletia a temperatura de assustar. Não obstante a estas condições desconfortantes, por volta das 18h, chegávamos à Rua Guanabara naquele Distrito. Nosso destino era a casa onde reside um jovem que, por várias vezes, foi tido como incapaz de sobreviver ao acidente de que foi vítima no dia 23 de outubro do ano passado.
Assim que chegamos fomos recebidos pela mãe do rapaz, a América. Sorrindo, muito gentil, nos convidou para entrar. Não titubeamos. A alegria de poder falar com mais tempo com o moço que “nasceu de novo” e a necessária tentativa de encontrar um lugar com menos calor nos forçaram a aceitar o convite. Antes de nos acomodarmos, um movimento no quarto contíguo à sala, sublinha a veracidade do que iríamos ouvir dos pais de Kaddimiell sobre o que ocorreu consigo na fatídica noite de 23 de outubro. Aquela movimentação era do moço se submetendo a mais uma seção de fisioterapia, procedimento que vem sendo realizado desde quando deixou o hospital.
Decorridos poucos minutos da nossa chegada àquela residência, o pai, Deusney Julio, serralheiro conceituado e que já foi um dos pastores do ministério Adão Araújo, tempo que lhe rendeu fortes e boas lembranças, como nos revelaria depois, também chega. Deusney sorri e parece contentar-se ao ver que fomos fiéis ao compromisso de ouvi-lo, firmado há cerca de uma semana. Apresentamos ao alegre pai algumas alternativas para a entrevista e ele optou por uma conversa informal, sem áudio. Aceitamos sua decisão e iniciamos a conversa, um relato do milagre que marcou a família. Deusney, que além do filho Kadimiell, de 19 anos, tem o Dyefferson, de 23, discorreria por alguns minutos sobre o fato que marcou definitivamente a família. Durante a conversa a esposa permaneceu a maior parte do tempo calada como se tudo aquilo que ela estava ouvindo a fizesse voltar àquele tempo de expectativas.
O pai começa falar sobre o acidente. Ele diz que a tragédia ocorreu por volta das 23h30 do dia 23 de outubro do ano passado, próximo a um posto de combustíveis, na entrada de Cachoeira do Vale. Deusney relatou que dois amigos do filho o seguiam também de motocicleta, em direção à sua casa. O caminhão, ainda de acordo com o pai, estava estacionado no local, desde as 21h daquele dia. Por volta das 23h seu condutor, em companhia de um amigo, decidiu sair do estacionamento. Quando retornaram para o local, o caminhão invadiu a pista contrária e bateu de frente contra a motocicleta de Kaddimiell. Deusney contou que os funcionários do posto de combustíveis localizado nas proximidades onde ocorreu o acidente foram os primeiros a dar detalhes do acontecimento. Os amigos de Kaddimiell, que seguiam logo atrás e presenciaram a colisão, comunicaram à família sobre o acidente. Deusney e o outro filho seguiram em direção ao local. Chagando lá o pai depara-se com a tragédia e socorre o filho. Nesta hora Deusney se vê de frente com uma situação que fê-lo tremer as bases. “Peguei o Kaddimiell, tirei o capacete dele. Foi um susto muito grande. Na hora em que eu tirei o capacete vi sangue saindo pela sua boca, nariz e ouvido. Ele estava sangrando bastante. Neste momento tive um susto muito grande. Eu percebi que a respiração dele, várias vezes, parava”, disse o pai. De acordo com o boletim de ocorrência feito pela Polícia sobre o acidente, o motorista do caminhão estava embriagado.
Diante daquele quadro de tragédia, onde a perda de um filho era fato quase que consumado, Deusney viu suas forças se esvaírem, mas as recobrou por força de um gesto que o filho ensanguentado fez no trajeto rumo ao hospital. “Naquela hora eu comecei a fraquejar. Mas, num dado momento, naquele em que eu estava praticamente sem força nenhuma – me emociono quando lembro disso – Kaddimiell mexeu com um braço e passou a mão no meu rosto. Naquele momento, eu pensei: se Deus está dando ele condições destes movimentos nesta situação é porque pode dar ele a vida também”, detalhou o pai. A cena daqueles movimentos e a recepção ao chegar ao hospital com o filho foram decisivas para a reação da fé de Deusney. “Na hora em que chegamos ao hospital eu tive a certeza de que Deus já tinha assumido o controle daquela situação. Na hora em que eu desci com Kaddimiell nos braços eu não dei três passos e já foi chegando uma maca. Assim que nós adentramos o hospital já tinha uma junta médica aguardando para cuidar do Kaddimiell. Parece que já tinha ido alguém na frente, preparado tudo e avisado os médicos. Não teve um segundo de espera. Nunca fomos tão bem tratados como fomos ali”, destacou Deusney.

O tipo de traumatismo sofrido por Kaddimiell foi comparado ao sofrido pelo piloto Ayrton Senna e o humorista Shaolin
Começaria a partir daquele instante, uma história de expectativas, um enredo de dor e um capítulo de incertezas. A família teria, com aquele acidente, um desafio para acreditar que Kaddimiell fosse sair vido daquela UTI. Não foi uma avaliação do pai, da mãe ou de quem viu o moço acidentado. A confirmação de que aquele jovem estava entre a vida e a morte não demorou chegar ao conhecimento dos pais. “Uns cinco minutos depois que Kaddimiell deu entrada na unidade, um senhor – não sei se era enfermeiro ou médico – veio e falou comigo que a situação do meu filho era crítica e que eles iriam fazer tudo que pudesse para salvar Kaddimiell mas que não garantiam nada. Mais tarde um pouco, o médico confirmou o que aquele senhor havia dito e acrescentou que a qualquer momento ele poderia ter morte cerebral confirmada. A fé de Deusney, ao invés de abalar, agigantou-se com aqueles diagnósticos sombrios e ele perdeu o medo do pior. Ele disse o seguinte: “depois que os médicos fizeram a primeira tomografia, eu já estava confiante. Eles poderiam falar o que quisessem porque eu já tinha a certeza de que meu filho ia sobreviver. Quase amanhecendo, no dia seguinte, eles falaram o pior, bem pior do que qualquer notícia. Os médicos reuniram a gente, disseram que não poderiam manter os aparelhos ligados por muito tempo e que a morte cerebral do paciente era certa. No momento em que eles exibiam a tomografia para nós, eu perguntei ao médico se tinha alguma chance de vida para Kaddimiell. Nesta hora o médico me respondeu: é preciso um milagre para ter chance. Eu respondi pra ele: se o senhor acha que é preciso um milagre, vai ter um milagre. Ali eu já tinha total confiança em Deus de que meu filho ia sobreviver. O médico reagiu dizendo: que bom que você acredita.”
Foram 24 dias com Kaddimiell na UTI. Os primeiros deste período foram bombardeados por informações desalentadoras que descreviam uma situação de dificuldade para o sucesso dos procedimentos médicos que tinham que ser praticados. Uma delas dava conta de que o cérebro do paciente estava tão inchado que impedia a colocação de um cateter e impossibilitava a aferição da pressão craniana. A pressão craniana de Kaddimiell chegou a ultrapassar os limites aceitos pela medicina. O limite é 20 e a do Kaddimile, por mais de uma vez, chegou a 26, de acordo com o que contou seu pai. O que era previsível diante desta constatação era uma sucessão de derrames cerebrais. Por mais de uma vez, durante a entrevista, o pai foi enfático em afirmar que os médicos tinham a certeza de que Kaddimiell sairia daquele hospital morto.
Perguntei ao Deusney qual foi o momento mais difícil para ele com relação ao que aconteceu com o filho e ele disse que foi dentro do carro, quando ia conduzindo-o para o hospital, no momento em que ele lhe tocou. Para Deusney aquele era o seu último movimento. Daquele momento em diante o pai, segundo o que afirmou, não sentia mais a respiração do filho.
Mãe do Kaddimiell falou do milagre na vida do filho na AD do Recanto do Sossego, domingo passado.
A espera por um milagre se robustecia enquanto orações, em toda cidade, eram elevadas a Deus em prol da reversão do quadro clínico do jovem. As lágrimas de amigos e familiares iam vertendo nos clamores e, em um determinado dia, aqueles profissionais, que só informavam o pior para a família, traduzindo o que viam e sentiam, chamaram-na para uma conversa. O papo teve início com a exposição dos resultados de uma tomografia. Os pontos danificados foram identificados para o pai e mãe do paciente. Segundo o que concluiu aquele profissional, os órgãos responsáveis pela fala, pelos movimentos, pela visão e pela audição, estavam todos danificados. Eram os pontos onde a hemorragia tinha atingido com maior gravidade. Mas, neste contato, algo começou a mudar. Aquele médico disse para a família que havia chance de vida, contrariando o que vinha sendo dito até aquele instante. Este médico acrescentou que “ainda que Kaddimiell vivesse ele teria muitas sequelas”. Para quem não via nenhuma chance de vida, admitir a vida àquela altura, mesmo que com sequelas, já era um avanço e resposta das orações. Esta mudança de postura ocorreu no sétimo dia em que o paciente estava na UTI.
Além do cérebro de Kaddimiel, outros membros foram afetados no acidente como, por exemplo, a perna esquerda, que teve uma fratura exposta. Uma cirurgia teve que ser feita no local. Conforme relatou o pai, os médicos, no momento em que se preparavam para a colocação de uma platina na perna atingida, alertaram para a possibilidade de uma rejeição do organismo ao material e, caso isso ocorresse, Kadddimiell não iria resistir. Eram muitas possibilidades funestas mas a fé dos pais não arrefeceu e a cirurgia na perna foi realizada com sucesso. Mas esse resultado foi descrito pelo pai como fruto das orações que estavam sendo realizadas do lado de fora do hospital por diversos jovens, no exato momento da intervenção cirúrgica. Deusney contou: “nesta hora pior, em que Kaddimiell teve sua vida dada como incerta, de novo, foi a hora do culto promovido pelos jovens do lado de fora do hospital. Coincidentemente os jovens estavam com as mãos estendidas em direção ao local onde estava Kaddimiell, orando por ele. Neste momento o médico disse para uma das enfermeiras: “houve um milagre aqui. Mudou o quadro aqui. Não houve rejeição nenhuma e o menino está bom. Estou confiante agora”. A enfermeira que ouviu isso do médico fez questão que Deusney soubesse, inclusive que ele teria dito: “estou confiante agora”.
A entrevista com o pai do rapaz, por sinal muito educado e popular, não seguiu um script pré-estabelecido, o que conferiu dinamismo à conversa. Assim sendo, depois de feita uma descrição do fato, com riqueza de detalhes, o pai do moço que sobreviveu ao acidente voltou a falar sobre o momento da colisão, enfatizando a força do impacto sobre a motocicleta e o filho. Deusney afirmou que a colisão foi tão forte que o caminhão foi retirado do local do acidente com a ajuda de um guincho. Na avaliação do pai, as circunstâncias daquela ocorrência eram capazes de provocar a morte do filho ainda no local. Ele considera que entre o moço e o caminhão esteve um anjo que o protegeu. “Se anjo machucar tem um machucado lá no céu”, brincou Deusney, para enfatizar a ideia de que entre o filho e aquele carro se postou um anjo.
O pai em seu relato incluiu o momento em que percebeu que o filho estava se recuperando e deixaria a UTI a qualquer momento. “La na UTI eu fiz uma pergunta para Kaddimiell. Eu quis saber dele se ele saísse daquela dificuldade que ele estava passando se ele iria servir a Deus. Neste momento ele apertou a minha mão como sinal de resposta positiva, dizendo que iria servir a Deus”.
Eu perguntei ao pai do rapaz sobre o momento em que os médicos começaram a ver sinais concretos de que o quadro, de fato, havia sido alterado para melhor com a possibilidade de Kaddimiell deixar o hospital. Deusney contou que o neurocirurgião, Dr. Jaime, foi quem começou a passar as informações alvissareiras para a família, porém sempre deixando claro que ficariam sequelas profundas. O pai, inteligente e preocupado em ver o filho como sempre vira, com saúde plena, perguntou ao profissional quais eram as chances do filho viver sem sequelas daquele acidente. A resposta foi no sentido de dimensionar as possibilidades como sendo pouquíssimas. “Se você tiver fé, vamos pedir a Deus para que não tenha”, sugeriu o médico. “Então vai ter milagre. Não vai ter sequelas também não”, respondeu Deusney, que acrescentou que leva o filho ao consultório deste médico para avaliações.
Se Kaddimiell estar vivo é um milagre, a velocidade e perfeição da sua recuperação é outro. Ele anda, fala, lê, escreve, acessa computador e tem levado uma vida normal. Dr. Jaime acompanha a evolução da recuperação do jovem e o assiste nesta fase de adaptações. O pai revelou que os médicos que cuidaram do filho, quando o encontram, dizem ser um milagre poderem presenciar o rapaz se movimentando com perfeição. Logo aqueles médicos que sugeriram aos pais avisarem os parentes que moram distante para que se preparassem para a qualquer hora terem que viajar para Timóteo para participarem do velório do ente querido, ver o moço em plena recomposição de suas forças e mobilidade física é, de fato, algo surpreendente. Deusney considerou que uma das notícias que mais machucavam a esposa era a de que os aparelhos que “mantinham” o filho vivo poderiam ser desligados a qualquer momento.
O acidente daquela noite, em Cachoeira do Vale, resultou em fratura exposta no fêmur esquerdo do motociclista e em um traumatismo não muito comum em acidentes daquele tipo. Deusney explicou que o tipo de traumatismo sofrido pelo filho é chamado, pelos médicos, de desaceleração, que é quando o cérebro se solta dentro do crânio, provocando várias fraturas.
Os médicos, na tentativa de deixar mais claro o tipo de trauma sofrido por Kaddimiell, citaram, como exemplo, o ocorrido com o piloto Ayrton Senna. “O acidente do Kaddimiell foi bem semelhante ao do Ayrton Senna”, comparou os médicos, conforme o pai relatou. O caso do humorista Shaolin, noticiado em janeiro de 2011, também foi evocado como exemplo do traumatismo sofrido por Kadddimiell. O humorista há quatro anos está em estado vegetativo.
Uma revelação assustadora feita por Deusney foi de que acidentes com a gravidade do sofrido pelo filho, no mesmo local, em Cachoeira do Vale, dentro de um ano, já chegam a cinco. Kaddimiell foi o único dos envolvidos que conseguiu sobreviver, com o detalhe de ter sido vítima do de maior impacto deles.
Antes de encerrar a conversa, Deusney fez questão de elogiar a atitude dos amigos e da comunidade diante do que aconteceu com o filho. Ele disse que não só os evangélicos se empenharam para o milagre do filho. Ele contou que um grupo de mulheres da igreja católica, em Cachoeira do Vale, se reunia para pedir pela saúde do jovem. Ele ressaltou o fato de que todo dia, decorridos estes três meses do acidente, recebe visita em sua casa de pessoas que vão ver Kaddimiell. Ele disse que chega a estranhar o dia em que passa sem receber ninguém lá. “Graças a Deus nós não só fomos visitados. Nós fomos amparados”, destacou Deusney, acrescentando: “nós tivemos um tratamento que nunca merecemos e que eu nunca vou saber agradecer, de tão bom que foi o amparo e por tudo que o povo fez por nós aqui. Foi maravilhoso”.
As últimas considerações do pai.
“O que eu faço questão de frisar é que Deus amparou a gente. Não tem explicação nenhuma a recuperação do Kaddimiell, por vias que a gente conhece, vias técnicas; não tem. A recuperação do Kadddimiell, a vida do Kaddimiell é para qualquer um reconhecer o milagre que Deus fez na vida dele. Jovens que estavam com as vidas comprometidas disseram que após o acidente do Kaddimiell passaram a pensar melhor. Eu sinto honrado por Deus por ter confiado na minha família para a gente passar por esta dor, com um objetivo de salvar vidas que valem mais do que o mundo inteiro. Eu sinto que Deus me honrou, honrou minha família. O sofrimento do irmão do Kaddimiell, o sofrimento da sua mãe e do sobrinho que mora aqui com a gente foram uma prova de que fomos escolhidos por Deus para, de uma maneira bem exclusiva, dar uma mensagem de salvação para este bairro aqui que estava precisando e precisando muito. Hoje a gente vê que muitos jovens ai que nunca tinham pensado em Deus, depois do milagre da vida do Kaddimiell, já estão carregando uma bíblia, já estão orando e cantando louvores a Deus”

Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.