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Jornalista é agredida, torturada e estuprada por sogra dos filhos

Publicado
10 anos atrásno
JULIANA BAETA
“Cada cômodo desta casa, cada parede, cada canto me lembra de como eu fui machucada e torturada. Eu não consigo dormir à noite, eu fecho os olhos e fico com medo de alguém me atacar”.
O depoimento é da jornalista de 43 anos que foi espancada, esfaqueada e estuprada pela sogra de seus dois filhos e o namorado da mulher.
O crime aconteceu em Dom Cavati, na região do Rio Doce, na última terça-feira (13), na casa da vítima. O casal foi preso nessa quarta-feira (14) e segue detido no presídio de Inhatim, na mesma região. O motivo da série de torturas e agressões seria a cobrança de um cheque.
A suspeita de 41 anos é mãe das esposas de dois filhos da jornalista, que têm 21 e 22 anos, e é também namorada do comparsa, de 32 anos. Segundo a vítima, o relacionamento das duas era amigável e, até então, sem conflitos. “Ela até me elogiava pela forma como eu tratava as filhas dela, minhas noras”, conta.
A jornalista costumava emprestar cheques para a mulher. O último empréstimo deveria ser pago no dia 30 de setembro, no entanto, não houve pagamento. Depois de esperar por cerca de uma semana, a vítima decidiu saber o que aconteceu. Ela foi ao açougue onde a suspeita disse ter usado o cheque, mas o comerciante disse que não houve nenhum pagamento em cheque.
“Fui sondar mesmo onde tinha ido parar o meu cheque. Falei com o comerciante, mas ela sequer o tinha utilizado”, conta.
O crime
Segundo a Polícia Civil, que investiga o caso, o casal suspeito foi até a casa da vítima na noite de terça-feira (13), quando a jornalista estava sozinha no imóvel. Quando a vítima iria servir um café para eles, foi agredida com chutes, tapas, socos e empurrões.
Durante quase uma hora, foi torturada em diferentes cômodos da casa, sendo esfaqueada e abusada sexualmente. Durante a ação, os agressores exigiram várias vezes que ela não contasse nada a ninguém, já que a cidade é pequena.
“Quando fui à cozinha preparar o café, ela foi atrás e me perguntou se eu fui até o açougue perguntar sobre o cheque. Eu disse que sim e ela respondeu que estava ali para acertar as contas, que eu havia desmoralizado ela no comércio. Ela tirou o cheque e esfregou na minha cara. Eu disse que só estava preocupada, porque cheque é coisa séria, e que minha intenção não era acabar com a reputação dela”, conta.
Ainda segundo a jornalista, neste momento, a mulher passou a dar tapas no seu rosto. “Eu pedi pra ela parar, que não tinha necessidade de ficar me batendo, que a gente podia conversar. Foi quando o namorado dela apareceu, e ela disse pra ele: ‘Olha amor, ela tá querendo conversar e mal sabe que a brincadeira ainda nem começou´”, lembra.
A vítima, então, foi puxada pelo cabelo até o quarto e imobilizada pela mulher, que sentou em seu abdômen. Enquanto isso, o namorado da suspeita tirava as roupas da jornalista.
“Eu pedia para ele parar, mas ela me batia cada vez mais. Me dava muitos socos no rosto. Me colocaram na cama e ela pediu para ele enfiar o dedo no meio das minhas pernas. Eu fechei as pernas com força, e ela continuava me batendo muito, até que ele conseguiu enfiar o dedo dentro de mim. Então, ele pediu que ela fizesse o mesmo e ela me pediu para beijá-la. Eu falei que não, e ela me deu outro soco na boca, que me fez começar a sangrar muito. Foi aí que ela disse que aquele dia eu ia morrer”, conta.
“Pedi a ela um copo d´água, porque estava com muita sede. Ela foi até a cozinha, pegou o que eu pedi, me deu um golinho e jogou o resto na minha cara. Enquanto isso, o meu celular tocava em outro cômodo. Era o meu marido que estava no Rio de Janeiro e sempre me liga à noite. A minha sogra se irritou com isso e foi atrás do celular para dar um fim nas chamadas. Nesta hora que fiquei sozinha com o namorado dela, que me segurava, percebi que suas mãos suavam muito. Consegui escorregar por elas e saí correndo”, diz, ainda.
Fuga sem socorro
A jornalista conta que correu até a entrada da casa, sem roupa, e gritou por ajuda. Não teve nenhuma resposta, apesar de ter notado uma movimentação dos vizinhos. Os suspeitos conseguiram dominá-la e começaram a arrastá-la pela escada, para voltar ao imóvel.
“Quando eles começaram a me arrastar pela escada, eu travei o meu pé no degrau. Ela me pegou e socou a minha barriga, me jogando na parede. Me levou pelos cabelos até a área de lavar roupas, e socou a minha cabeça na parede. Os azulejos ficaram cheios de sangue”, lembra.
Segundo a vítima, a sogra dos filhos disse que a “brincadeira” ia começar de novo e a levou de volta para o quarto.
“Ela me jogou na cama e me imobilizou outra vez, pegou a faca e começou a riscar o meu corpo, enquanto perguntava ´é aqui que você quer levar a facada?´. Quando ela falou ´chega de brincadeira, você vai morrer agora´ e levantou a faca, eu arredei para o lado e fui atingida no braço. Comecei a sangrar muito por causa do corte”, diz.
No banheiro
Ainda de acordo com a jornalista, ao ver tanto sangue, o namorado da suspeita começou a se apavorar, dizendo que os vizinhos podiam ter ouvido os gritos e que já deviam ter chamado a polícia, e que era para a namorada “acabar logo com isso”.
“Ela levantou da cama dizendo que ia me entregar pro inferno ou pro céu, mas que ia me entregar limpinha. ´Você vai morrer e vou fazer o favor de te limpar´, disse, referindo-se a toda a sujeira de sangue do meu corpo. Quando ela falou isso eu ajoelhei e implorei pra ela não fazer isso, pra ela pensar nos netos dela que são meus netos também”, lembra a vítima.
A suspeita então arrastou a mulher pelos cabelos até o banheiro e ligou o chuveiro, enquanto arrancava fios e mechas de cabelo da jornalista. Ela também teria dito que já seria tarde demais para deixá-la viver, mas que se isso acontecesse, ela deveria inventar uma história para justificar os hematomas e cortes.
As opções dadas para a nora eram inventar que a vítima falou mal de algum político no jornal em que trabalha e que, por isso, teria sido agredida por algum capataz, ou então, simplesmente dizer que caiu da escada.
O namorado interveio e disse que inventar o caso sobre o político poderia piorar a situação. Por isso, ele sugeriu manter a justificativa da queda na escada.
“Ela me ameaçou dizendo que se me deixasse viva e eu contasse para os meus filhos, para as filhas dela, para a polícia, ou para qualquer um, ela iria sair da cadeia e vir atrás de mim. Ela disse que ia voltar e me matar, matar o meu filho mais novo e o meu marido”.
Depois de prometer que não ia contar pra ninguém e continuar implorando pela vida, a vítima viu a suspeita saindo do local novamente, cochichando com o namorado no cômodo ao lado, e voltar ao banheiro dizendo para ele ir amolar a faca.
“Ela começou a me esbofetear de novo, dizendo que ia me cortar toda, que ia me estraçalhar e que eu iria ter uma morte muito feia. Foi quando ela saiu de novo, e eu fiquei embaixo do chuveiro só esperando ela voltar e me matar. Estava apavorada”, lembra.
Depois de esperar por alguns minutos, ela percebeu que a casa estava em silêncio e ouviu um barulho de porta. Foi até a janela e viu a suspeita entrando no carro e indo embora. “Eu senti tanto alívio nessa hora, que não sei explicar. Desci correndo, tranquei a porta e chamei socorro. Foi só nesta hora que os vizinhos vieram ver o que estava acontecendo. Minha irmã veio me ajudar, meu marido voltou do Rio de Janeiro”.
Promessa descumprida
A jornalista foi levada para uma unidade de saúde e, após ser medicada, chamou a Polícia Militar, que esteve no local e constatou manchas de sangue na sala, na escada, e nas paredes e chão do quarto, além de tufos de cabelo.
A suspeita foi presa e confessou o crime. Ela alegou que a vítima lhe emprestou uma folha de cheque e depois a difamou na cidade, dizendo que ela não teria pago, além de chamá-la de “vagabunda”. Já o namorado dela, que também foi preso, negou qualquer participação no crime.
Sequelas
A vítima está sendo acompanhada por um psicólogo, já que ainda está em estado de choque pelo que aconteceu.
“Eu não sei como vou fazer, mesmo com o meu marido em casa agora, lembro tudo o que aconteceu aquele dia, em cada lugar desta casa que eu passo. Eu não consigo dormir à noite,. Eu vejo vultos e fico pensando que são eles voltando para cumprir a promessa de me matar. Só espero que a justiça seja feita e que seja mantida, para que eles não sejam soltos”, conclui.
Ainda de acordo com a jornalista, os filhos dela mostraram muito revolta pelo ocorrido, principalmente porque gostavam muito da sogra. Já as filhas da suspeita ficaram chocadas com o crime cometido pela mãe. “As meninas ainda estão chocadas. Elas dizem que estão sem acreditar no que aconteceu e que é revoltante. Que eu não merecia o que a mãe delas fez comigo. Elas estão sem chão. E ficam me mandando mensagens, preocupadas, perguntando como estou”.
O Tempo

Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.