Ligue-se a nós

Notícias

Jornalista é agredida, torturada e estuprada por sogra dos filhos

Publicado

no

Compartilhe esta publicação

image (6)

JULIANA BAETA

FERNANDA VIEGAS

“Cada cômodo desta casa, cada parede, cada canto me lembra de como eu fui machucada e torturada. Eu não consigo dormir à noite, eu fecho os olhos e fico com medo de alguém me atacar”.

O depoimento é da jornalista de 43 anos que foi espancada, esfaqueada e estuprada pela sogra de seus dois filhos e o namorado da mulher.

O crime aconteceu em Dom Cavati, na região do Rio Doce, na última terça-feira (13), na casa da vítima. O casal foi preso nessa quarta-feira (14) e segue detido no presídio de Inhatim, na mesma região. O motivo da série de torturas e agressões seria a cobrança de um cheque.

A suspeita de 41 anos é mãe das esposas de dois filhos da jornalista, que têm 21 e 22 anos, e é também namorada do comparsa, de 32 anos. Segundo a vítima, o relacionamento das duas era amigável e, até então, sem conflitos. “Ela até me elogiava pela forma como eu tratava as filhas dela, minhas noras”, conta.

A jornalista costumava emprestar cheques para a mulher. O último empréstimo deveria ser pago no dia 30 de setembro, no entanto, não houve pagamento. Depois de esperar por cerca de uma semana, a vítima decidiu saber o que aconteceu. Ela foi ao açougue onde a suspeita disse ter usado o cheque, mas o comerciante disse que não houve nenhum pagamento em cheque.

“Fui sondar mesmo onde tinha ido parar o meu cheque. Falei com o comerciante, mas ela sequer o tinha utilizado”, conta.

O crime

Segundo a Polícia Civil, que investiga o caso, o casal suspeito foi até a casa da vítima na noite de terça-feira (13), quando a jornalista estava sozinha no imóvel. Quando a vítima iria servir um café para eles, foi agredida com chutes, tapas, socos e empurrões.

Durante quase uma hora, foi torturada em diferentes cômodos da casa, sendo esfaqueada e abusada sexualmente. Durante a ação, os agressores exigiram várias vezes que ela não contasse nada a ninguém, já que a cidade é pequena.

“Quando fui à cozinha preparar o café, ela foi atrás e me perguntou se eu fui até o açougue perguntar sobre o cheque. Eu disse que sim e ela respondeu que estava ali para acertar as contas, que eu havia desmoralizado ela no comércio. Ela tirou o cheque e esfregou na minha cara. Eu disse que só estava preocupada, porque cheque é coisa séria, e que minha intenção não era acabar com a reputação dela”, conta.

Ainda segundo a jornalista, neste momento, a mulher passou a dar tapas no seu rosto. “Eu pedi pra ela parar, que não tinha necessidade de ficar me batendo, que a gente podia conversar. Foi quando o namorado dela apareceu, e ela disse pra ele: ‘Olha amor, ela tá querendo conversar e mal sabe que a brincadeira ainda nem começou´”, lembra. 

A vítima, então, foi puxada pelo cabelo até o quarto e imobilizada pela mulher, que sentou em seu abdômen. Enquanto isso, o namorado da suspeita tirava as roupas da jornalista. 

“Eu pedia para ele parar, mas ela me batia cada vez mais. Me dava muitos socos no rosto. Me colocaram na cama e ela pediu para ele enfiar o dedo no meio das minhas pernas. Eu fechei as pernas com força, e ela continuava me batendo muito, até que ele conseguiu enfiar o dedo dentro de mim. Então, ele pediu que ela fizesse o mesmo e ela me pediu para beijá-la. Eu falei que não, e ela me deu outro soco na boca, que me fez começar a sangrar muito. Foi aí que ela disse que aquele dia eu ia morrer”, conta.

“Pedi a ela um copo d´água, porque estava com muita sede. Ela foi até a cozinha, pegou o que eu pedi, me deu um golinho e jogou o resto na minha cara. Enquanto isso, o meu celular tocava em outro cômodo. Era o meu marido que estava no Rio de Janeiro e sempre me liga à noite. A minha sogra se irritou com isso e foi atrás do celular para dar um fim nas chamadas. Nesta hora que fiquei sozinha com o namorado dela, que me segurava, percebi que suas mãos suavam muito. Consegui escorregar por elas e saí correndo”, diz, ainda.

Fuga sem socorro

A jornalista conta que correu até a entrada da casa, sem roupa, e gritou por ajuda. Não teve nenhuma resposta, apesar de ter notado uma movimentação dos vizinhos. Os suspeitos conseguiram dominá-la e começaram a arrastá-la pela escada, para voltar ao imóvel.

“Quando eles começaram a me arrastar pela escada, eu travei o meu pé no degrau. Ela me pegou e socou a minha barriga, me jogando na parede. Me levou pelos cabelos até a área de lavar roupas, e socou a minha cabeça na parede. Os azulejos ficaram cheios de sangue”, lembra.

Segundo a vítima, a sogra dos filhos disse que a “brincadeira” ia começar de novo e a levou de volta para o quarto.

“Ela me jogou na cama e me imobilizou outra vez, pegou a faca e começou a riscar o meu corpo, enquanto perguntava ´é aqui que você quer levar a facada?´.  Quando ela falou ´chega de brincadeira, você vai morrer agora´ e levantou a faca, eu arredei para o lado e fui atingida no braço. Comecei a sangrar muito por causa do corte”, diz.

No banheiro

Ainda de acordo com a jornalista, ao ver tanto sangue, o namorado da suspeita começou a se apavorar, dizendo que os vizinhos podiam ter ouvido os gritos e que já deviam ter chamado a polícia, e que era para a namorada “acabar logo com isso”.

“Ela levantou da cama dizendo que ia me entregar pro inferno ou pro céu, mas que ia me entregar limpinha. ´Você vai morrer e vou fazer o favor de te limpar´, disse, referindo-se a toda a sujeira de sangue do meu corpo. Quando ela falou isso eu ajoelhei e implorei pra ela não fazer isso, pra ela pensar nos netos dela que são meus netos também”, lembra a vítima.

A suspeita então arrastou a mulher pelos cabelos até o banheiro e ligou o chuveiro, enquanto arrancava fios e mechas de cabelo da jornalista. Ela também teria dito que já seria tarde demais para deixá-la viver, mas que se isso acontecesse, ela deveria inventar uma história para justificar os hematomas e cortes.

As opções dadas para a nora eram inventar que a vítima falou mal de algum político no jornal em que trabalha e que, por isso, teria sido agredida por algum capataz, ou então, simplesmente dizer que caiu da escada.

O namorado interveio e disse que inventar o caso sobre o político poderia piorar a situação. Por isso, ele sugeriu manter a justificativa da queda na escada.

“Ela me ameaçou dizendo que se me deixasse viva e eu contasse para os meus filhos, para as filhas dela, para a polícia, ou para qualquer um, ela iria sair da cadeia e vir atrás de mim. Ela disse que ia voltar e me matar, matar o meu filho mais novo e o meu marido”.

Depois de prometer que não ia contar pra ninguém e continuar implorando pela vida, a vítima viu a suspeita saindo do local novamente, cochichando com o namorado no cômodo ao lado, e voltar ao banheiro dizendo para ele ir amolar a faca.

“Ela começou a me esbofetear de novo, dizendo que ia me cortar toda, que ia me estraçalhar e que eu iria ter uma morte muito feia. Foi quando ela saiu de novo, e eu fiquei embaixo do chuveiro só esperando ela voltar e me matar. Estava apavorada”, lembra.

Depois de esperar por alguns minutos, ela percebeu que a casa estava em silêncio e ouviu um barulho de porta. Foi até a janela e viu a suspeita entrando no carro e indo embora. “Eu senti tanto alívio nessa hora, que não sei explicar. Desci correndo, tranquei a porta e chamei socorro. Foi só nesta hora que os vizinhos vieram ver o que estava acontecendo. Minha irmã veio me ajudar, meu marido voltou do Rio de Janeiro”.

Promessa descumprida

A jornalista foi levada para uma unidade de saúde e, após ser medicada, chamou a Polícia Militar, que esteve no local e constatou manchas de sangue na sala, na escada, e nas paredes e chão do quarto, além de tufos de cabelo.

A suspeita foi presa e confessou o crime. Ela alegou que a vítima lhe emprestou uma folha de cheque e depois a difamou na cidade, dizendo que ela não teria pago, além de chamá-la de “vagabunda”. Já o namorado dela, que também foi preso, negou qualquer participação no crime.

Sequelas

A vítima está sendo acompanhada por um psicólogo, já que ainda está em estado de choque pelo que aconteceu.

“Eu não sei como vou fazer, mesmo com o meu marido em casa agora, lembro tudo o que aconteceu aquele dia, em cada lugar desta casa que eu passo. Eu não consigo dormir à noite,. Eu vejo vultos e fico pensando que são eles voltando para cumprir a promessa de me matar. Só espero que a justiça seja feita e que seja mantida, para que eles não sejam soltos”, conclui. 

Ainda de acordo com a jornalista, os filhos dela mostraram muito revolta pelo ocorrido, principalmente porque gostavam muito da sogra. Já as filhas da suspeita ficaram chocadas com o crime cometido pela mãe. “As meninas ainda estão chocadas. Elas dizem que estão sem acreditar no que aconteceu e que é revoltante. Que eu não merecia o que a mãe delas fez comigo. Elas estão sem chão. E ficam me mandando mensagens, preocupadas, perguntando como estou”. 

O Tempo

Continuar Lendo