O delegado Márcio Mendonça, titular da DCOD (Delegacia de
Combate às Drogas), afirmou nesta quarta-feira (8), que o pastor Marcos
Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, preso na noite de terça-feira
(7) acusado de estupro, fazia orgias com homens, mulheres e menores dentro de
uma igreja em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O pastor alegaria que
as pessoas estavam possuídas por demônios e precisavam ter relações sexuais com
ele, que era uma pessoa santa.
Pereira teve a prisão preventiva decretada em dois processos
e responde a mais três inquéritos na Justiça, também por estupro. A polícia
ainda investiga a ligação do pastor com crimes de homicídio, associação ao
tráfico e lavagem de dinheiro. Em nome da igreja, há um apartamento de luxo em
Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, a avaliado em R$ 8 milhões.
“Ele tem uma oratória fantástica e abusava de fiéis que
trabalhavam como voluntários da igreja. Usava o poder do convencimento. Quando
não dava certo, ele usava a força bruta. Jogava a mulher na cama e atacava”,
explicou o delegado.
Pereira foi preso na rodovia Presidente Dutra, quando ia
para o apartamento de Copacabana, saindo da igreja em São João de Meriti.
Segundo o delegado, as investigações começaram há pouco mais de um ano, a
partir de acusações que o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, fez sobre
o suposto envolvimento de Pereira com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Ao longo das investigações, a polícia descobriu que o pastor teria estuprado
seis fiéis, entre elas três menores de idade.
Os inquéritos que investigam os outros crimes estão baseados
em 30 depoimentos e citam os estupros das meninas. Ouvido informalmente,
Pereira disse que é inocente. Segundo o delegado, ele será ouvido apenas em
juízo. De acordo com a polícia, pode haver mais 20 estupros de mulheres, que
foram citadas em depoimentos.
Uma delas chegou à igreja aos 12 anos e teria começado a ser
estuprada aos 14, em 1998. A relações só teriam terminado oito anos depois. A
ex-mulher tem dois filhos com ele e disse em depoimento que foi forçada a ter
relações sexuais.
O delegado afirmou também que Pereira visitou o traficante
Marcinho VP, apontado pela polícia como um dos principais líderes da facção criminosa
Comando Vermelho, por duas vezes em um presídio federal.
O pastor está sendo investigado também por ter participado do homicídio de uma mulher em São
João de Meriti. Segundo o depoimento da mãe da mulher, o pastor tentou abusar
da filha, que antes de morrer, começou a investigar os supostos estupros. Três
pessoas foram condenadas pela morte da mulher, entre elas, um sobrinho do
pastor.
No site da igreja, a prisão do pastor é comparada à
perseguição sofrida por personagens bíblicos, incluindo Jesus Cristo. “Daniel,
Paulo, Pedro, Thiago, João Batista, o próprio Jesus e outros profetas foram
presos, caluniados, não tiveram chance de uma ampla defesa sendo condenados por
poderosos perseguidores políticos. A igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias
declara estar confiante no agir de Deus na vida do pastor Marcos Pereira”,
afirma a nota da assembleia. Foi através de uma prisão injusta que Deus colocou
o plano de salvação, pelo Amor e pelo Perdão, em prática.”
O texto ainda agradece o “apoio que chega de todas as partes
do Brasil e do mundo” e ressalta que a prisão foi “injusta”. “A despeito de
todos os sinais de cura e libertação, foi exatamente assim, através de uma
prisão injusta, perseguições e calunias que Jesus alcançou o mais necessitados.”
Após a prisão do pastor, cerca de 30 fiéis da igreja de
Marcos Pereira fizeram plantão em frente à sede da DCOD, no Andaraí, na zona
norte. Mulheres e crianças trajavam vestidos longos, que cobrem o corpo do
pescoço aos pés. O traje é comum entre fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos
Dias. Entre os fiéis, estava o ex- pagodeiro Waguinho, que é missionário da
Assembleia de Deus dos Últimos Dias há nove anos. Ao sair da delegacia,
Waguinho criticou a ação da polícia e as denúncias de José Júnior. O
ex-pagodeiro concorreu à Prefeitura de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, nas
eleições do ano passado, mas não passou para o segundo turno.
Pelo twitter, o coordenador do AfroReggae comemorou a prisão
do pastor: “Quero agradecer a nova gestão da DCOD pelo excepcional trabalho
nessa prisão. Dr. Marcio Mendonça num curto espaço de tempo arrebentou!”.