Ele passou do portão para dentro. Elias Dutra, evangelista que vendia salgado na porta de escolas, em Timóteo, agora é professor de ensino religioso.

Ev. Elias Dutra com a família, exibindo o diploma de colação de grau em Bacharel em Teologia.

Quem ouve o Ev. Elias Dutra – atualmente congregando na Assembleia de Deus do bairro Olaria, em Timóteo –  contar sua história, incluindo sua infância, conclui estar ouvindo um homem que tinha tudo para ser um derrotado, fracassado e já sepultado pelo séquito de torcedores pelo seu fim. Batizado com o Espírito Santo, aos quatro anos de idade, no colo do seu pai – já falecido – Elias Dutra se mostrou polêmico desde cedo. Questionador daquilo que não lhe parece transparente, até hoje o religioso vem se debatendo com questões que entende precisar de esclarecimento, seja na vida secular ou mesmo na igreja, não se importando com os eventuais resultados deste comportamento, nem sempre favoráveis. Há quinze anos em Timóteo, depois de uma temporada residindo em Vitória-ES, Elias escalou momentos, neste período, que lhe exigiram paciência e prudência, sob pena de entrar no jogo, segundo ele “rasteiro”, de gente que ele entende desprovida de interesse em lhe ajudar em questões elementares como, por exemplo, espirituais.

Dutra, tão logo retornou a Timóteo, descobriu que viveria um verdadeiro calvário em termos de provisão para sua família. Portas que poderiam estar sempre abertas se revelariam como  hermeticamente fechadas. O pai de família, Elias, não vislumbrava outras alternativas, senão buscar saída emergencial para o sustento da sua prole. Vender salgadinhos na porta das escolas da rede pública e privada de Timóteo lhe pareceu a opção mais próxima e urgente diante das suas necessidades. Apoiado pela esposa Débora, abraçou a iniciativa e se tronou em um dos mais requisitados vendedor de salgado da cidade. Era muito comum, nos horários de intervalos, ver Elias Dutra atendendo a meninada, que disputava seus aperitivos, preparados com muito carinho e distribuído regularmente entre seus clientes. O homem, assim, sobreviveu e criou sua família, fazendo quase morrer de inveja aqueles que apostavam no seu fracasso como obreiro e cidadão.

O tempo passou e o evangelista raciocinou no sentido de que era preciso voltar aos bancos da escola, depois de uma frustrada jornada neste aspecto em Vitória, onde residiu, ao descobrir que a instituição onde estudou era clandestina e, portanto, inválidos os certificados de conclusão dos cursos que lá concluíra. O ânimo tomou conta de Elias e ele voltou a estudar, concluindo o ensino fundamental . Cursou teologia na Faetel, com validação pela Unicesumar. Mas o obreiro não para por ai. Ele prossegue na sua sede de conhecimento e especialização. No ano que vem, Elias deverá concluir os cursos de Aconselhamento e Psicologia Pastora e Docência do Ensino Superior.

Com a esposa e filhos.

Uma das muitas vitórias contabilizadas pelo evangelista aconteceu há cerca de pouco menos de um mês, quando foi chamado para assumir a função de professor de Ensino Religioso, na rede pública de ensino de Timóteo, em função de um concurso a que submeteu-se. Elias leciona na Escola Maria Aparecida Martins Prado – MAMP – do bairro Alphaville e na Escola Professora Haydeê de Souza Abreu, no Limoeiro.

Elias Dutra, na porta dos educandários de Timóteo oferecia  de comer para alunos, afim de sobreviver-se. Com sua nova função, deixa de vender aqueles famosos salgados, mas continua oferecendo de comer aos alunos, através do conhecimento que está passando para eles, alimentando a sede do saber que nutre seus sonhos de futuros promissores. A insistência em lutar contra um sistema segregador  e perseguidor dos que lhe parecem ameaçadores fez de Elias Dutra um caso não muito comum, de sair da porta de escolas para dentro delas, oferecendo, na primeira situação,  víveres para o físico e, na segunda, seiva para o intelecto. Mesmo que não faça parte de sua disciplina, certamente poderá dizer para seus alunos que vence quem luta, apontando para seu próprio exemplo.