Publicado
11 anos atrásno
Uma multidão lotou o templo da Assembleia de Deus do bairro Olaria, sede do ministério Adão Araújo, em Timóteo, para despedir-se do corpo do Otaviano Junior, o Juninho, esposo da Gleicilene, a Lene. A comoção tomou conta do ambiente e soluçõs altissonantes davam a ideia do tamanho da dor de parentes e amigos.
Otaviano Junior, também conhecido, ou mais conhecido como Juninho, na manhã deste domingo, o segundo de 2014, deixou o convívio com seus familiares e amigos e adentrou os portais da eternidade. Muito jovem, com apenas 31 anos de idade, funcionário da Aperan, onde ingressou-se há cerca de quatro meses, realizando, assim, um dos seus sonhos, casado há dois anos com Lene, alcunha carinhosa da Gleicilene, Juninho escreveu uma história de vida permeada pela alegria e entusiasmo, sensações que o faziam dono de um sorriso constante. Nos seus círculos de amizade, o carisma e a solicitude haverão de ser traços descritivos de sua personalidade.
Sua voz ecoava nos quatro cantos do templo da Assembleia de Deus do seu bairro, o João XXIII, em Timóteo, com solos que apontavam sua vocação para um levita autêntico que insistia em prosseguir conhecendo seu criador, como bem lembrou a amiga Adelma, no culto fúnebre, na manhã desta segunda-feira, na Assembleia de Deus do Olaria. A amiga recordou dos últimos dias de Juninho, marcados por uma sede em descobrir segredos contidos nos ensinamentos bíblicos. Era um homem de humor agradável. “Ele tinha um humor tão grande que contagiava por onde ele passava”, disse a Dra. Adelma. Ironia do destino? Juninho foi velado no templo onde ele passaria a congregar na noite daquele domingo.
A notícia da morte do Juninho caiu como uma bomba. Estilhaços foram espalhados por várias partes do mundo através do Blog do Silas. Desde as 10h, quando anunciamos a morte dele até à zero hora desta segunda-feira, foram 7.000 (sete mil) visitas, atraídas pela informação. Saudável, ele não levantava nenhuma suspeita de que pudesse estar tão perto de concluir sua existência aqui na terra, coisa que nos parece mais provável para alguém que esteja com uma doença terminal, de impossível ou difícil cura. Diz-se que “toda unanimidade é burra”. Talvez esta frase, dita por Nelson Rodrigues, jornalista e tido como um dos mais influentes dramaturgos do Brasil, nunca foi tão confrontada como o foi ao se verificar a unanimidade em torno da definição de lealdade e companheirismo de Juninho.
As sendas traçadas por esse jovem senhor, que escolheu a Lene para trilhar consigo as veredas da vida, o conduziram a decisões possíveis a quem encontrou em Deus o norte dos seus rumos. Juninho era um dos levitas da casa de Deus. Ele era um dos Adoradores. Seu esforço para aperfeiçoar-se no que fazia – e fazia muito bem – era o atestado desta afirmação. “A gente não via o Juninho triste”, comentou na noite de ontem o amigo Walcemir, enquanto o caixão adentrava o templo, sob os olhares de uma multidão que dimensionou o carisma deste que nos deixou. Não é necessário muito esforço para imaginar os sonhos do homem que deixou a Lene viúva. Juninho era sintonizado com seu tempo e, embora soubesse dos desafios que o marcam nesta era de incertezas, não deixou estes sonhos roubar-lhe a fé em Deus. Ainda sem filho, era um senhor de responsabilidade que contrastava com a da maioria dos seus contemporâneos. Como muitos ou quase todos ou todos que partem desta para a outra vida, Otaviano Junior não conquistou tudo o que queria. Porém dentre as conquistas dos seus trinta e um anos de existência estão elencadas importantes como o novo emprego, na Aperan, e o coração de uma moça de família honrada, a Gleicilene. Esta Lene, sem dúvida, foi um leme que apontou direções para a vida deslumbrada por um amor forte e arraigado em crenças de que Deus faz tudo no devido tempo.
Os mistérios que cercam as incertezas da vida, muitas vezes traduzidas em surpresas que nos desafiam o poder de entendimento, foi uma realidade para este homem, de quem a saudade irá rasgar corações, dilacerando-os em momentos de férteis recordações. Recordações que nos fazem chorar. Choro que traz recordações. Lágrimas copiosas ralavam face à fora da sogra Conceição. Seus olhos, postos no infinito, dimensionavam a consideração pelo genro amado. O genro que se foi, que fez juras de amor à uma das duas filhas. A viúva – substantivo que soa pesado neste instante – encontrou forças para erguer a cabeça e assistir à saída do corpo do marido de dentro do templo. Mistérios que nos fazem frágeis e pseudos intelectuais.
O berço de dor que, por vezes, embala o moribundo e condenado à falência, não apalpou o corpo do Juninho. Não foi a superfície de estagnação do seu olhar, voz e outros sentidos. A chamada para o outro lado da vida veio a Juninho na voragem do silêncio. Será que ele ouviu alguma voz a lhe chamar? Especulação. Especulação pura. Otaviano assistia ao raiar de um domingo. Dia do Senhor. Seria um dia especial para sua vida. Ele começaria a congregar em outra igreja. Iria para a sede. Ele foi para a sede, permaneceu lá na noite do domingo. Juninho realizava, ai, outra decisão sua. Era homem de decisões.
Os últimos suspiros do homem que exibia fôlego ímpar ao cantar foram destilados em um Dia do Senhor. Um domingo, 12 de janeiro de um ano que se manifestava promissor. Um infarto impiedoso matou Juninho; matou!
Um passeio com a esposa e alguns amigos do Canadá que estão curtindo férias no Brasil não teve como acontecer devido ao fato do filho de um deles ter passado mal durante toda a noite anterior. A descoberta de que não iria ao programa estabelecido foi possível quando Juninho e a esposa foram à casa daqueles amigos levar a bolsa contendo seus pertences que seriam utilizados durante os momentos em que passariam o domingo juntos. Otaviano e Lene iriam de moto. Não foram. Retornaram para casa, onde Juninho não mais conseguiu entrar.
O silêncio da sua partida teve testemunha. Um amigo seu, seu vizinho, o presbítero Ronaldo Rodrigues Alvarenga ouviu um barulho. Que barulho seria aquele? Ronaldo conta como foi:
“Juninho e Lene voltam para casa. Vejo Lene descer da moto para abrir o portão; Juninho parece brincar de desiquilibrar-se. Mas realmente ele cai estirado ao chão e a moto sobre suas pernas. A esposa arrasta a moto de sobre seu corpo. Eu chego para socorrer. Meu Deus! Pego-lhe a cabeça nas mãos e ele suspira forte duas vezes. Lene, então, vai chamar seu pai e o irmão para o levarem ao hospital. Enquanto isto, Juninho dá o último suspiro válido em minhas mãos( eu omiti esta informação da Lene, Otávio e Gleicimar).O corpo é levado para o Hospital Vital Brasil, tentam técnicas de ressuscitação, todas sem sucesso. O médico confirma sua morte”.
A descrição desta sequência triste atesta a entrada em cena de um amigo que estendeu as mãos tantas vezes para Juninho, aconselhando-o, quando isso era desejado por ele. A entrada em cena de um amigo que, em tantas vezes lhe estendeu as mãos amigas e não imaginava que naquele domingo lhe estenderia as mãos como berço do seu último suspiro.
A frustração de um passeio que fica entre a imaginação e as hipóteses que fustigam os mortais. Uma ida a um passeio com hora de retorno da lugar a uma viagem que não tem mais volta. Ele iria de moto naquela. Nesta se vai como se o viajante tivesse asas. Um mal dura pela noite adentro. Um mal se tira os dias adiantes!
Que Deus conforte o coração dos familiares. Que o exemplo de vida desse moço arraste para a estrada que ele escolheu percorrer enquanto em vida, todos aqueles que desejam um dia reencontrá-lo.
Que o consolo do Criador seja abundantemente na vida de todos que ficaram marcados pela morte e vida do Juninho.
Lene, a certeza de que seu marido continuará a ser um adorador é seu leme. Força!
Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.