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O dia em que Marcos Cardoso foi consagrado a pastor.

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11 anos atrásno
A surpreendente decisão do então Pb. Marcos Cardoso de ligar-se a outro ministério, há cerca de dois anos, por muitos foi traduzida como atitude precipitada e que tinha dias contados para sua sustentação, ao fim dos quais ele pediria seu retorno para a antiga casa, como fazem muitos que agem como agiu Marcos Cardoso, estes sem o menor constrangimento.
Mas não foi o que aconteceu com o religioso, membro dos “Cardosos”, uma família com tradição em Timóteo e que tem no casal que concebeu a prole – Pr. Clodovino e missionária Maria Luiza – o símbolo de um agente decisivo da construção de uma traja trajetória e que guarda porção do DNA da história da Assembleia de Deus da cidade. Fala-se, inclusive, que a casa do irmão Clodovino, à época no bairro São José, em Timóteo, foi o endereço do primeiro ponto de culto da denominação em Timóteo, originando o surgimento de várias congregações, muitas delas ainda existentes no município. Esta história nunca foi admitida ou contada em público pelos responsáveis pela Assembleia de Deus em questão, mas a veracidade desta informação encontra respaldo em diversos depoimentos que são prestados informalmente todas as vezes em que alguém se refere ao berço da Assembleia de Deus em Timóteo, hoje a maior denominação religiosa existente na cidade.
Marcos Cardoso, ao efetivar o desligamento referido no início desta reportagem, resolveu, com parte de sua família, acreditar no que ele chama de “Alternativa para os assembleianos”. Era apostar em um projeto arrojado, visto com muita desconfiança por pessoas que se sentiram atingidas pela atitude do presbítero. Deixar uma denominação onde atuava com desenvoltura e tinha passado maior parte de sua vida para iniciar do zero em outra, com origem fora do Estado, seria, na concepção de “analistas de plantão”, um “tiro no pé”. A despeito de ter consciência destas interpretações, Marcos Cardoso apostou suas fichas, sua fé, disposição e se lançou na construção da “alternativa para os assembleianos”.

Marcos, que aparece ao lado do irmão, Pb. Ezequias, pernoitou aqui, sede nacional da Assembleia de Deus Campo do Taboão, em São Bernardo do Campo
A maior evidência de que o projeto ousado do assembleiano Marcos Cardoso seria um natimorto, na tradução de inúmeros, se daria em ele assumir a direção da igreja que seria, sob seus auspícios e de outros “corajosos”, convidada a instalar-se em Timóteo. Marcos não assumiu, preferiu que outros pastores experientes da denominação o fizessem e decidiu ser apenas um coadjuvante da “alternativa para os assembleianos”. A iniciativa, que assustou muitos, deu certo e “Marquinho”, como também é chamado o presbítero, seguiu na sua intensão de reconstruir sua história. Virar uma pagina bem escrita para começar a redigir outro livro não seria fácil e desejar faze-lo é atribuível ou a uma forte decepção ou a uma fé capaz de fazer concreta e coroada de sucesso uma nova caminhada.
Este domingo, 16 de novembro de 2014, certamente, será um dia que para Marcos Cardoso passa a ser um dos capítulos mais vistosos e tradutores da essência da sua nova história. Um dia em que seu sonho se cumpriu, sonho, aliás, reforçado na sua concepção como algo deveras existente, quando da sua posse como dirigente da congregação da Assembleia de Deus do bairro Nova Esperança, há cerca de dois anos, por outro ministério. Naquela data, ao ser convidado para falar, seu pai afirmou que aquele dia era o cumprimento de um dos desejos do filho. Porém, depois de apenas 10 meses na função, uma nova esperança surgiu para o então presbítero e ele a abraçou com sinais de fôlego para novos e decisivos embates.
E estes novos embates começam a fazer parte da trajetória do ex- dirigente da assembleia de Deus do Nova Esperança. A partir deste 16 de novembro, Marcos Cardoso não será chamado mais de pastor por uma simples bajulação ou por força do que vem se transformando em hábito do tipo “patrão”, “chefe” e afins, como sinônimo de uma consideração ou forma de tratamento.

O presidente nacional das Assembleia de Deus Campo do Taboão, Pr. Genício Severo dos Santos, chega ao local
Marcos Cardoso, por volta das 2h30 da madrugada desta segunda-feira, chegou à sua cidade sob a bênção de uma consagração a pastor, ocorrida na sede nacional das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, localizada no Brás, bairro da capital paulista. Cardoso esteve entre os quase 1.500 ministros que foram ordenados no local, 300 deles no domingo (16) e os demais no dia anterior. O evento reuniu pastores, presbíteros, missionárias, evangelistas e diáconos de diversas partes do Brasil, em um templo suntuoso da Av. Celso Garcia, a poucos metros do famoso Templo de Salomão.

Cinegrafista colhe um dos momentos de dinamismo do presidente das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, do Estado de São Paulo, Pr. Samuel Ferreira
Marcos Cardoso seguiu de Timóteo, na noite da sexta-feira, acompanhado de um grupo de lideranças da Assembleia de Deus Campo do Taboão, instalada na cidade. A caravana foi prestigiar o consagrando. No caminho alguns entraves contribuíram para o atraso na chegada em São Paulo. O fato foi traduzido, por um dos membros da “comitiva”, como prova de que o que estaria acontecendo com Marcos Cardoso em São Paulo contraria interesses do inferno. Durante o incidente, o futuro pastor comportou-se com serenidade e sua ansiedade pelo grande dia da sua vida era algo imperceptível. De um temperamento forte, mas sob controle, Cardoso aguardava o reinício da viagem, o que aconteceu cerca de duas horas depois, provocando o desembarque em São Paulo com quase três horas de atraso com relação ao tempo inicialmente previsto.

Oficialmente como pastor, Marcos desce do púlpito e enfrenta uma multidão até chegar ao local onde estava sentado
No domingo, dia 17, aproximadamente às 6h30, Marcos Cardoso desperta-se de um sono marcado pelo cansaço provocado por uma viagem e da início aos preparativos para o ato de consagração do qual participaria como um dos quase 1.500 obreiros listados como alvo daquela programação, que daria encerramento a uma convenção iniciada na quinta-feira.
Antes das 9h, Marcos Cardoso, concentrado, falando e sorrindo pouco, ao lado da esposa Nilza, chegou ao suntuoso templo da AD do Brás, como é conhecida a Assembleia de Deus sede nacional do Ministério de Madureira, na Celso Garcia, no centro de São Paulo. O presbítero submeteu-se aos ditames burocráticos típicos da natureza do evento e, pouco mais de meia hora depois, ocupava um dos assentos das primeiras fileiras de cadeira do templo. A localização, privilegiadíssima, parece que foi reservada para ele e a esposa. O ambiente, marcado por opulência, se revelaria, assim que os trabalhos foram iniciados, como capaz de conciliar luxo com unção e simplicidade com ostentação. Três enormes telões fixados na parte frontal da construção, acima do púlpito, reforçavam a cara de “chiquesa” da casa. Uma galeria, com assentos dispostos em forma de arquibancadas de estádio, sublinhava a dimensão do espaço físico do templo.

Abraçado pela Pra. Marlene, esposa do Pr. Genício Severo dos Santos, presidente nacional das Assembleias de Deus Campo do Taboão
Entre os engravatados, barbeados há pouco, vestidos com elegância incomum, estava o timotense Marcos Cardoso. Ali não se encontrava o grande séquito de amigos, aqueles que torciam para que aquele dia estivesse acontecendo na vida do presbítero. Seu silêncio, talvez, se devesse ao seu desejo não cumprido de ver aquele local repleto de amigos que ele conquistou ao longo de sua história como servo de Deus. Os que estavam ali eram poucos em quantidade, porém com qualidade suficiente para resumir a existência de centenas que não puderam comparecer para abraçar Marcos Cardoso. Ao seu lado, também, compenetrada, a companheira Nilza, não menos elegante para a ocasião. As lágrimas de uma decepção que veio de onde jamais ela esperava há cerca de dois anos, deram lugar ao sorriso de uma esposa que sabia que aquele dia era marcante na vida do seu companheiro. Nilza observava a tudo e a todos e parecia retirar dos fatos que presenciava naquele templo a lição de que Deus tem seus caminhos, muitas vezes diferentes dos nossos. O dia tinha chegado, a hora batia à porta e o sonho que coroaria a trajetória do esposo de diluía no descortinar de um horizonte.
Depois de alguns belíssimos louvores e de uma mensagem que dispensava retoque em seu conteúdo ou correção na sua essência, teve início a consagração dos pastores. Entre os 300 nomes citados pelo pastor que presidia a cerimônia, ouviu-se o de Marcos Cardoso Pereira.
Impoluto, de passos firmes, sem pestanejar e sem evidência de uma cirurgia sofrida há poucos meses, o convidado se dirige ao púlpito e soma-se aos outros que tiveram seus nomes igualmente citados. Ajoelhados, todos eles, após uma brevíssima explanação da importância do ato que ali ocorria, os consagrandos recebem as orações da igreja e de diversos pastores, com imposição de mãos. Marcos Cardoso chorou copiosamente durante a súplica e, de mãos estendidas, parece que com uma pedia a Deus a força necessária para enfrentar os desafios que lhe serão comuns doravante e, com a outra, agradecia pela chegada daquele dia em sua vida.
Perguntado se a alegria de ter sido consagrado a pastor naquele ministério era maior, igual ou menor se o tivesse sido no que ele serviu por longos anos, o novo pastor afirmou que esta era uma questão que ele avaliava como irrelevante. “O que me importa é que, agora, com esta nova responsabilidade, tudo estarei fazendo para o engrandecimento da obra de Deus, não importa o local onde eu estiver”, disse Marcos Cardoso, o agora pastor Marcos Cardoso Pereira.
A consagração do timotense sublinha a trajetória de um homem que decidiu aguardar sua vez. Não foram poucos os atalhos lhe oferecidos como forma de “abreviar” sua vitória ou aquisição de status. Depois de ver uma caminhada frustrada em uma estrada de onde pensava que nunca tiraria seus pés, Marcos emerge com a dignidade de ter se submetido a humilhações e ilações que fazem chorar e ferem a alma. Sua credencial de pastor não foi comprada ou ganhada no grito ou na força de ameaças. Pelo contrário, mesmo tendo exercido a função em outro vagão de uma mesma locomotiva, Cardoso não exigiu consideração à sua contribuição dada naquele espaço e, sabedor que o comandante é mais justo do que o supervisor de carga, decidiu continuar sua viagem e não descer na próxima parada. Ele seguiu em frente, não esqueceu seu destino e preferiu esperar pelo dia que está reservado para todos que apostam no tempo como fator que corrige injustiças, apara danos e repõe imagens.
Se antes, ser pastor era uma honra, hoje, para o filho do Pr. Clodovino e a missionária Maria Luiza, é prova autêntica de que sobre seus ombros paira o peso da conquista de um sonho que muitos acreditam estar constituído da leveza imaginada nas noites desenhadas pelas “cinderelas”, mas que nunca chegam para o dia dos guerreiros. As noites dos guerreiros só se diluem no doce paladar das conquistas travadas nas batalhas. E que batalhas!
Depois de tudo isto, esta música cai bem. Clique no quadro amarelo para ouvi-la.

Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.