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Cristãos aproveitam jogos da Copa para evangelizar torcedores na terra do Candomblé

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André Miranda, em O Globo

SALVADOR — Era só um torcedor gritar “A taça é de Portugal, ô pá”, para se ouvir em resposta que não era nada daquilo. “A taça é do Senhor Jesus”, repetiam os voluntários da Convenção Batista Brasileira, tudo isso numa das entradas da Arena Fonte Nova, com as estátuas dos orixás do Dique do Tororó ao fundo. Não muito longe, também ao lado do estádio, outro grupo, este da Igreja Batista Missionária da Independência, distribuía panfletos com o título “Estratégia para a vitória”, enquanto eram acompanhados pelo Sal da Terra, um bloco bem baiano, mas nada terreno. É a Copa servindo de mote para passar uma mensagem cristã, numa Salvador mais conhecida por seus terreiros de candomblé.

As ações das duas igrejas reuniram quase 500 seguidores para cada dia dos dois jogos já realizados em Salvador, o primeiro na última sexta, entre Espanha e Holanda, e o segundo nesta segunda-feira, entre Alemanha e Portugal. O grupo da Convenção Batista Brasileira usava camisas amarelas onde se lia na frente a frase “Jesus Transforma” atrás os nome e número “John 3.16″, em inglês mesmo para chamar atenção dos turistas. Trata-se de um versículo do Evangelho de São João, um que começa dizendo que “Deus amou o mundo”.

Eles apostavam em atividades lúdicas convidando os torcedores que passavam a fazer embaixadas, tentar acertar o gol numa mini-trave feita de canos ou pintar o rosto nas cores dos países que participariam dos jogos. Também distribuíam leques — essenciais para o calor “do capeta” que fazia em Salvador — com sugestões de frases em português, entre elas “Deus te abençoe!”, e alguns ensinamentos sobre as ações de Cristo.

O programa da Igreja Batista se chama TransCopa e tem sido replicado em todas as cidades que servem de sede para a competição. Durante a partida entre Alemanha e Portugal dos 230 presentes na capital baiana, ninguém assistiu à partida: eles esperaram o jogo começar para, depois, ajudar na limpeza do entorno da Arena Fonte Nova.

— Nós estamos aqui para incentivar a paz — explicou Miguel Calmon, coordenador da TransCopa Salvador. — Temos gente de vários estados participando. Já fizemos isso na Copa das Confederações, no ano passado, e certamente estaremos no Rio, para as Olimpíadas de 2016.

Enquanto a turma da TransCopa brincava com as turistas de um lado da Fonte Nova, o outro lado da arena foi tomado pelo batuque do Sal da Terra. O bloco, organizado pela Igreja Batista Missionária da Independência, já existe há 15 anos e sempre desfila em eventos populares de Salvador. O grupo foi representado por mais de 200 pessoas, puxado por porta bandeiras que levavam os símbolos de Brasil, Alemanha e Portugal.

Logo atrás, alguns de seus seguidores faziam coreografias e outros caprichavam nos instrumentos. Os turistas, naturalmente, paravam para tirar fotos a toda hora e, invariavelmente, captavam em suas lentes as mensagens religiosas que o Sal da Terra queria mostrar em cartazes anti-aborto, contra a prostituição infantil, além de pedidos para evitar o uso de drogas e pela paz.

Eles distribuíam panfletos em que definiam sua “estratégia para a vitória”: “permanecer naquilo que Deus ensina em sua palavra”. Curiosamente, o panfletos estavam decorados com sombras de jogadores de vôlei e não de futebol. Mas, tudo bem, a gente aprende no catecismo que perante Deus os esportes são todos iguais.

— Nossa ideia é trazer a mensagem de Jesus para as pessoas — explicou o pastor Ubiratan Gomes, da Igreja Batista Missionária da Independência. — Esperamos que todas as nações que estejam aqui sejam abençoadas.

Nesse clima de paz, os representantes dos dois grupos batistas não se incomodaram em falar sobre as religiões afro-brasileiras, comuns em Salvador e cujas cerimônias costumam chamar a atenção dos turistas estrangeiros. Tanto para um quanto para o outro, a Copa é um espaço de convivência entre as diferenças.

— A religião é uma escolha da pessoa. Não vemos rivalidade. Mas é importante que todos conheçam um pouco de cada religião para melhor optar —afirmou Miguel Calmon.

— Salvador tem todas as vertentes religiosas e nós respeitamos. Por isso nossa ação aqui é passar um ensinamento, não impor uma crença — concluiu o pastor Ubiratan.

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