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Pastor e maestro José Lopes fala sobre sua saída do ministério Adão Araújo.

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12 anos atrásno

A corporação musical “Trombetas de Cristo” gravou dois LPs. Pr. Adão apresenta a edição de 1987.
O maestro e pastor José Lopes da Conceição não pertence mais ao ministério Adão Araújo. Ele, agora, faz parte do corpo de Obreiros do ministério presidido pelo Pr. Antônio Rosa da Silva. Ele irá congregar no templo sede em Coronel Fabriciano.
Nove dias depois de ter sido recebibo no ministério das Assembleias de Deus de Coronel Fabriciano e Ipatinga como o seu mais novo pastor, procedente de Timóteo, nossa reportagem falou com o maestro e pastor José Lopes da Conceição, um dos nomes mais respeitados na área de formação de músicos do ministério Adão Araújo, responsável pelo aprendizado de quase 200 alunos durante o período em que esteve servindo a instituição.

Chagada na residência do maestro.
Chegamos à sua residência por volta das 10h desta quarta-feira. “Lopes”, como é conhecido por alguns, nos recebeu, interrompendo um reparo que fazia em parte do piso da varanda de sua residência. Quem chega a essa residência, logo identifica que ali mora um fissurado pela música. Próximo ao portão principal, no passeio, vê-se o desenho de uma clave de sol. Você toca a campainha e uma música bem suave diz para os lá de dentro que tem gente lá fora. Se você entrar e olhar para a porta – talvez seja convidado para passar pelos fundos e não a observe – mais símbolos da música, na estrutura daquela porta.
Pr. José Lopes está um pouco abatido. Seu esforço para esconder uma sensação do tipo eu não queria ter motivos para esta conversa com o Silas, não é suficiente para render-lhe êxito nesse particular. O maestro olha para um ponto perdido no infinito. Pr. José Lopes, ao longo da conversa, deixou muito visível, embora esforçasse para o contrário, sua decepção com suas ex-lideranças, a quem poupou críticas “para não causar problemas”, como fez questão de frisar.
Uma entrevista não seria o indicado para José Lopes. Ele não queria ir direto e decidiu que um bate-papo propiciaria resultados menos comprometedores. Gesto aplausível, pois nossa reportagem tem feito algumas entrevistas e seus autores, depois da repercussão, nos procuram pedindo para removê-las. Certo entrevistado nosso pediu, chorando, que retirássemos a entrevista que nos concedera, insinuando estar pressionado e temendo retaliação. José Lopes, de personalidade “forte” – se existe personalidade “fraca” – preferiu não dar a entrevista formal pois o trabalho de retirá-la, caso a concedesse, não teríamos. Ele sustentaria. Assentei-me de frente com o maestro. Papeis espalhados pelo móvel dimensionavam a tarefa do professor “Lopes”. Ele vive música. Ele ouve música, ele é músico. Ele casou-se com uma música. A música Elêudes. Olho fixo no meu “entrevistado”. Ele continua fitando o infinito. Preocupado com o que eu queria saber? Nem tanto. Ele não iria me falar tudo. Eu sabia disso. Ele seria comedido. Aquele homem que estava ali comigo – ou eu ali com ele – serviu a uma instituição durante quase quarenta anos. Uma instituição que prega a união, a harmonia, a sinceridade, a não discriminação, o amor, a honestidade. Uma instituição onde pastores pregam que é pecado ser hipócrita. É pecado apunhalar – de frente e pelas costas. Uma instituição onde pastores pregam que não se deve tramar a queda de ninguém; que não se deve tramar a retirada de ninguém de circulação, se esse é trabalhador da obra do Senhor. Uma instituição que tem como um dos seus pilares a verdade. Onde mentir é pecado. Aquele moço à minha frente deveria estar com aquele semblante que ostentava. Ele tinha razões sobejas.
Ofereço ao “entrevistado” tranquilidade. Prometo que a conversa era para meu embasamento e não reprodução na íntegra. José Lopes, sorrindo, estendia aquele bigode onde a paisagem está povoada por mais fios brancos do que o contrário de fios brancos. Na área, a esposa Elêudes, vigilante, está pronta para ajudar o esposo na recordação de datas e fatos. Aliás, devo dizer que José Lopes levou a esposa consigo para o ministério a que está servindo desde o dia 15 de setembro. A conversa começa a fluir. Uma caneta na mão do maestro rege os minutos de fala, aquela fala pausada do pastor “Lopes”.
Pergunto ao pastor como foi o início de sua profícua carreira no ministério Adão Araújo. Ele conta que veio de Ipatinga – isto mesmo, veio de Ipatinga – a convite do então responsável pela Assembleia de Deus do bairro John Kennedy, o, à época, presbítero José Gonçalves Ferreira e do seu pai, o também presbítero Jerônimo Lopes. A esta altura aquele semblante de excessiva concentração se distrai e a história se desenrola.
Ai ouço de José Lopes que, quando chegou para Timóteo, pouco antes de 1976, a igreja do bairro Jon Kennedy já dispunha no seu quadro organizacional de uma “bandinha”, que atendia pelo mesmo nome do coral, “Vencedores com Cristo”. O responsável era o hoje presbítero Waldivino Benjamin. A “Bandinha” havia sido fundada pelo maestro Terezinho Honorato e irmão “Tatão”. Espera ai. Então o Pr. José Lopes não foi para o ministério de Ipatinga. Ele voltou para lá. José Lopes foi regente da corporação musical da Assembleia de Deus daquela cidade, nos anos de 1978 e 1979, quando o templo sede era na Rua Diamantina, no centro.
Sua vinda para Timóteo revolucionaria os métodos musicais daquela “bandinha”. Alguns anos se passam e “Lopes” assume a direção da corporação e sua vida, a partir daí, se confundiria com sua vocação. O maestro procura dar tudo de si e, alguns anos depois, descobre que teria que aperfeiçoar seus conhecimentos para enfrentar grandes desafios que marcariam sua carreira. Desafio é com ele mesmo. Pé na estrada e muitos cursos e simpósios seriam degustados pelo professor.
Papo vai, papo vem, e revelações vão sendo feitas. “Lopes” contou sobre as horas em que debruçava sobre partituras que lhe consumiam o tempo. Seu vislumbre pelo bem da obra de Deus talhou seu caráter e esculpiu seu comprometimento com as funções atinentes às suas atividades de regente e professor de música.
Entro na questão da sua saída do ministério Adão Araújo, uma possibilidade que começou a ser desenhada quando o maestro teve sua presença na orquestra do bairro Olaria não tão importante como poderia parecer. Viveria algo parecido com os efeitos de ser uma persona non grata. “Lopes”, de repente, viu-se colocado à margem de um processo que nem ele nem muita gente – pelo menos naquele tempo – não entendia. O fato leva o maestro a recolher-se. O músico faz silêncio e, por alguns dias, deixa de ser visto na sede, onde sempre esteve. Certo dia, durante a vigência deste “calvário” em sua vida, encontrei com ele e pude ler que sua saída do ministério de Timóteo era questão de tempo. Aí perguntei se é a primeira vez que foi convidado para voltar para Ipatinga. Ele disse que não e enumerou outras ocasiões onde esse convite lhe fora feito. Ele lembrou-se da convenção que estava para ser criada, ano passado. Fico sabendo que, se aquela convenção fosse à frente, Pr. José Lopes seria um dos seus diretores. Essa convenção tinha, como campos confirmados para sua composição, Ipatinga e João Monlevade. Eu quis saber por que ele decidiu ir só agora. O pastor para, pensa e responde que “há tempo para cada coisa”. Lembro-me de recordar, com ele, da sua atuação no ministério Adão Araújo, em outras atividades além das de músico. Quero saber por que o Culto com os Militares acabou. José Lopes evita responder o que tinha para responder.
A influência do Pr. José Lopes foi além da congregação onde ele reuniu-se na maioria dos anos das quase quatro décadas de Assembleia de Deus em Timóteo. A folha de serviço que esse pastor prestou a essa instituição inclui apoio e formação de várias corporações musicais como, por exemplo, a do bairro Ana Moura e, mais recentemente, ele se tornou o responsável por uma fase histórica e exuberante da corporação musical Dedos de Davi, da Assembleia de Deus do bairro São José. José Lopes contribuiu, também, para formação de músicos de várias denominações em Timóteo, segundo nos contou. Muitos dos seus ex-alunos estão bem colocados e exercendo o talento que teve um impulso do professor de Timóteo.
Continuamos a conversa a despeito do cheiro que emanava de uma panela no fogão anunciando que o almoço estava a caminho. Agora pergunto sobre a passagem pela congregação do bairro São José. O pastor e maestro fala rápido sobre essa página no seu curriculum. Faz questão de ressaltar seu carinho pelos músicos dali. Ele contou que sua ida para aquela congregação foi fruto de um convite do então responsável pelo local, Pr. Reinaldo Martins. Ali o papel que José Lopes desempenhou foi uma espécie de cópia do que fez em Olaria. Reestruturou a “Dedos de Davi” e a transformou em orquestra de cordas. A conversa prossegue. Agora vou saber do “entrevistado” sua opinião sobre algumas outras saídas do ministério a que ele pertenceu em Timóteo. Cito os nomes dos maestros Elias Eduardo e Terezinho. Pergunto-lhe se essas saídas são comuns ou se alguma situação especial teriam as motivado. O pastor pensa, pensa e diz, vagamente, que talvez fosse por uma questão pessoal cada uma delas. Enquanto isto, vou adiando a hora de ir ao escritório onde Pr. José Lopes concebe suas criações.
Eu quero informações sobre a reação do presidente das Assembleias de Deus com relação à sua saída. “Lopes” conta que, no dia em que foi falar com ele, ou seja, pedir sua carta de mudança para Coronel Fabriciano, ficou surpreso com a forma com que o caso foi tratado pelo líder. Pouco antes de falar, o presidente adiantou-se ao seu pedido e disse: “onde está a carta? Me da ai pra mim assinar”. O maestro acrescentou que durante a última reunião com os obreiros do ministério Adão Araújo, ocorrido na segunda-feira passada, não foi feito nenhuma referência à sua mudança para Coronel Fabriciano. Quem soube foram aqueles que tiveram outro meio de se informarem a respeito da decisão do pastor-maestro.
Mas qual teria a sido a reação dos obreiros de Ipatinga com o retorno depois de longos anos do maestro José Lopes? Bom, ele relatou que a reação daqueles obreiros foi de extrema receptividade e carinho. Mas será que lá em Ipatinga e Coronel Fabriciano haverá alguma diferença para José Lopes desenvolver seu trabalho. É o que desejo saber e o maestro me conta. Ele disse que lá ele “terá mais liberdade” para trabalhar. Mas já está trabalhando? Já está sim. Pr. José Lopes deu início, sábado passado, à formação de uma corporação musical na Assembleia de Deus do Bom Jardim e deverá ser o coordenador musical da grande orquestra que será formada para atuar na Comadvardo ano que vem.
Se o pastor agora está como membro do ministério de Coronel Fabriciano e Ipatinga será que ele vai mudar de cidade também? “Talvez isso possa acontecer”, presumiu o “entrevistado”, dizendo que a questão da distância, inclusive, foi a causa de ter optado por congregar em Coronel Fabriciano, que é mais “perto” de sua casa, em Timóteo.
Vamos ao escritório. Tenho que liberar o homem para continuar o serviço comum às tarefas de um pedreiro. Subimos alguns inclinadíssimos degraus e alcançamos o local. Deparo-me com a parede enfeitada por outra clave de sol. Nas laterais várias fotos de tempos históricos lembram a atuação do professor, maestro e pastor José Lopes em Timóteo. Vejo, ali, ele junto com alunos da orquestra Dedos de Davi e com os da orquestra Mensageiros do Rei, do São José e Ana Moura, respectivamente. Em um dos lados, próximo à porta, estão aquelas velhas fotografias de tempos marcantes. Vejo José Lopes, ainda com 13 anos, tocando trombone. Perguntei qual daqueles músicos era ele. Com gargalhadas, ele mostra qual. Orgulhoso pelo feito, ele explica onde era a cena ali retratada. O homem tem provas de que a música é para ele tal como fôlego de vida. Ele respira música e espirra partitura. Mais um minutinho e, sobre a mesa, o maestro coloca uma pilha de DVD, gravados em ocasiões de importantes eventos na sua carreira. Percebo que a maioria deles diz respeito ao seu tempo de maestro na Assembleia de Deus do bairro Olaria. Dentre aqueles álbuns encontrei um que era com relação a um dos cultos do Dia do Soldado, na Assembleia de Deus do bairro Olaria. José Lopes manipula aquele material como se estivesse exibindo um troféu. “Lopes” vai me mostrando fotos e falando sobre cada uma delas. Vi muita coisa. Vi muito passado. Viajei sem lembrar de maionese. Vi muita atuação do professor, que já foi, também, responsável pela Orquestra de Câmera de Ipatinga.
As horas estão avançando, como avançado estava o cheiro do almoço que a maestrina Elêudes preparava com a batuta da sua também competência culinária. Não almocei. Eu estava em serviço e minha atenção era a cada um dos detalhes do professor José Lopes.
Vou descendo e a conversa termina a alguns metros do fogão, de onde a esposa do pastor, Elêudes, me conta detalhes da mão de Deus em um episódio envolvendo ela e o marido numa das congregações que eles deixaram recentemente.
Mas não posso ir sem saber do Pr. José Lopes qual foi o sonho que ele não realizou no ministério Adão Araújo. Ele revela que seu desejo era de ver mais corporações musicais criadas e mais empenho por parte de alunos e lideranças para que esse gênero musical ganhasse força em Timóteo. O moço, com o olhar de não muita alegria, me despede se dispondo a falar comigo sempre que eu quiser saber sobre sua atenção em seu novo ministério. Se eu voltar lá, prometo a ele que não o farei na hora do almoço. Sou acompanhado por ele até o portão. Me agradeceu pela visita. Fecho o portão, claro, né? Ando alguns centímetros e piso na clave de sol desenhada no passeio. Uma clave de sol desenhada e pisada. Eu não quis pisar. Pisei. Existe “claves” que são “sois” pisados, pisados em passeios do orgulho e da inveja. Pisar em “sois”? Alguém disse que conhece indivíduos que dão nó em pingo d’água.
A saída do maestro José Lopes do ministério das Assembleias de Deus é o ponto final numa folha de serviço prestada a uma instituição, talvez a maior delas em termos de música nas igrejas. Um ponto final que remete uma trajetória para os umbrais do tempo. Lembranças que vão ficar em cada sopro de um instrumento por onde o protagonista em questão passou. Lembranças que vão se somar a tantas outras que retaliam a memória com a saudade de que alguma coisa voltasse e o sonho de que certas coisas não acontecessem. Possibilidades aventadas nas entrelinhas das palavras eclesiásticas ditas por um Homem que não foi unanimidade na sua época, apesar de ter sido uma bênção para tantos, segundo as quais “passará o céu e a terra mas minhas palavras não passarão”.

Fim, ou melhor, Início.

Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.