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11 anos atrásno
A morte de Maria de Oliveira, sem dúvida, representa para a história das Assembleias de Deus de Timóteo, um parágrafo lúgubre, daquele que a gente gostaria de não encontrar na descrição da trajetória de alguém que pautou sua vida em fazer o bem. Um parágrafo que a gente deseja que não fizesse parte da descrição de um personagem que encarna um ser vitorioso, vistoso e eivado de simbolismos como, por exemplo, bem jovial apesar de ter anos vividos em quantidade suficiente para que alguém pudesse dizer que este jovial é uma força de expressão.
A jovialidade de Maria de Oliveira, aos 85 anos – 46 dos quais na presença de Deus – em nada contrastava com seus cabelos alvos, bem ralinhos, por vezes tocando seu rosto como o mar toca as areias da praia que lhe devolve, como recompensa, a ternura dos seus rastros molhados. Maria de Oliveira foi um cartão postal na e da Assembleia de Deus do bairro Olaria. Um cartão postal escrito com a ternura dos seus gestos, a magia dos seus sorrisos e o calor dos seus abraços; a profundidade do seu olhar e a acuidade dos seus ouvidos para os que careciam dos seus conselhos; a força dos seus joelhos para os que necessitavam de ima intercessão.
As tardes quentes do verão e as amenas do inverno não lhe eram álibi para optar pelo conforto do seu lar no período de 14h às 16h, em média, de segunda a sexta-feira. Quem ia às Tardes da Bênção, na Assembleia de Deus do bairro Olaria, neste horário e dias, era abençoado pela recepção de Maria de Oliveira. Com lhanura e carinhos ímpares estendia a mão e oferecia um pedação de papel para que os que ali iam pudessem escrever seus pedidos de oração. Minutos depois, assim que percebia que a atividade estava prestes a se encerrar, ela encaminhava aquela caixa até o dirigente e com ele dividia, dentre outros, a apresentação a Deus daquele depósito de clamores. Sua voz como de metal altissonante e os olhos hermeticamente fechados parecia tocar os céus com o pedido de socorro de gente sofrida.
Sua presença nos cultos não passava despercebida. Saber se Maria de Oliveira estava presente não era tarefa difícil para quem se interessasse nisto. Seus glórias a Deus e aleluias altissonantes denunciavam sua agradável presença no local. Não eram eles frutos fanáticos de uma pretensa santidade. Eram glórias a Deus e aleluias emanados da alma, do fundo daquele ser magistral. Seus glórias a Deus e aleluias formavam a canção do seu espírito, a melodia do ambiente e a marca da sua presença. Seus glórias a Deus e aleluias em nada se assemelhavam àqueles com cara de exibicionismo. Eles vinham de uma mulher sem vaidade, que não disputava santidade para conseguir cargos nem queria cargos para ser santa. Não se tem uma notícia sequer de sua ganância por holofotes, por status. Era uma Maria ligada na Oliveira verdadeira. Era uma verdadeira oliveira de Maria. Ela tinha unção, era ungida, mesmo que não reconhecida. Sua história a assemelhava às santas do passado, talhadas na sinceridade de intensões e pureza de caráter.
Quando alguma ventania soprava maculando a imagem da igreja, esta mulher sentia a dor de ver a noiva de Cristo com o nome em rodinhas, servindo de chacota devido a ação de algum mercenário fantasiado de cristão. Ver a igreja sendo ridicularizada por atitudes insanas de fariseus enrustidos, camuflados de santos era uma lança em sua alma, um tapa em seu rosto. Maria de Oliveira sentia as dores de quem sofria. Sofria as dores de quem sentia. Seu nome nunca esteve associado à elite da igreja. Simples, fazia das intercessões a Deus a ferramenta de sua contribuição com o Reino. Maria não bajulava. Maria cuidava e não discriminava quem quer que fosse.
Suas internações hospitalares soavam como o prenúncio de um capítulo triste para suas amigas e admiradores de igreja. A cada informação de que ela havia sido internada, a dor de que algo pior acontecesse rondava a todos. A ansiedade por uma notícia amena era o sonho de quem a queria sempre por perto. Tirar um pedacinho em seu corpo, mesmo que fosse no dedo de um pé, era dilacerar o coração de quem a amava.
Noite de terça-feira, 23 de setembro, de 2014. O Pai eterno acena para a filha Maria de Oliveira e a convida ao descanso sem fim. O mistério de uma reação frente a esta realidade, por parte de familiares, evidencia a vida de mistério que vivia a convidada aos portais celestiais. A dor de sua partida se mistura ao consolo de saber que seu lugar no céu estava preparado. Há 85 anos nasceu uma menina, que se chamou Maria e teve um sobrenome que descrevia sua condição de ungida. Querer que esta Maria continue nesta terra de dor, de disputas religiosas impublicáveis seria não amar na medida que ela soube amar. Sua ida para as mansões celestiais foi seu salário de santa, de intercessora, de humilde e serena.
Deitada naquele caixão, próximo ao púlpito onde subiu não faz muito tempo para testemunhar uma bênção de Deus, irmã Maria de Oliveira parece que dormia. E dormia para despertar brevemente. Atrás do seu ataúde, em meio a algumas coroas, estava a caixa de pedidos de oração das Tardes da Bênção. Uma simbologia que descreveu com classe seu amor por aqueles que precisavam de ser abençoados.
A perda de mulher com esta fibra, esta história, empobrece o meio em que viveu e fragiliza o séquito dos que buscam a abnegação como forma de vida. Perder uma Maria de Oliveira é deixar cair uma dracma aqui na terra para ser encontrada lá no céu.
Os assembleianos do ministério Adão Araújo perderam um ícone de sua história mas o céu ganhou quem fez história para seu Reino. Descanse em paz, Maria de Oliveira. Até breve. Oh glória!
Amparada pelo Dc. Lair e Dca. Cidinha, Maria de Oliveira deixa o púlpito da Assembleia de Deus do bairro Olaria, onde fora dar um testemunho, em 2012.
Maria de Oliveira, no culto na Assembleia de Deus do bairro Olaria, na noite de 25 de julho de 2012.
Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.