Ligue-se a nós

Geral

Congregava na AD do Quitandinha: Moradora de Timóteo morre aos 111 anos

Publicado

no

Foto: Arquivo de família.
Compartilhe esta publicação

Foto: Arquivo de família.

Morreu nesta segunda-feira (30) Geza Medalha de Jesus. Ela estava internada desde o início da semana passada. Geza iria completar, no próximo dia 27 de novembro, 112 anos de idade.

A informação foi encaminhada ao Portal do Silas pelo pastor Anderson Alves de Souza, 1º secretário da AD Timóteo, de quem Geza foi ovelha, quando Anderson pastoreou a congregação do Quitandinha, bairro onde a falecida morava com a família. O velório ocorrerá nesta terça-feira (31) das 14h às 17h, na capela do Cemitério Jardim da Saudade, no bairro Santa Maria, ainda de acordo com o pastor.

Geza Medalha de Jesus, que foi membro de outra denominação evangélica, antes de ingressar-se na Assembleia de Deus, nasceu em 27 de novembro de 1911, no vilarejo de Macaquinho, município de Caratinga, em Minas Gerais.

As imagens que seguem, ilustrando esta matéria, são de 2014, quando irmã Geza nos concedeu uma entrevista.

Primogênita de uma família de cinco irmãos, Geza, dona de uma voz privilegiada com um timbre que lembra locutor de FM, em 2014 concedeu uma entrevista ao Portal do Silas, falando sobre sua vida. Durante quase todo o tempo daquela conversa conosco, não deixou de sorrir, chegando a dar gargalhadas, diante de algumas perguntas como, por exemplo, há quanto tempo estava viúva. Há mais de uns vinte anos? Ela, para, dá gargalhadas, e diz; “Vinte anos? Nem sei”. Uns cinquenta?  “Dai pra lá”, disse há 9 anos. Se não recordava da quantidade de anos que estava vivendo sem o marido, das causas que o levaram à morte, não se esqueceu. Nesta hora, a voz ficou embargada e os olhos brilharam. “Ele se chamava José Rufino, teve três derrames”, revelou.

Mãe de dez filhos, Geza nos deu lições de uma memória fotográfica, uma mente prodigiosa e um coração elástico. De um português apurado, para quem disse não saber ler nem escrever, a centenária despertava curiosidade a cada perguntava que respondia. Sua vivacidade e senso de observação não a deixaram embaraçada diante de nenhuma curiosidade nossa. Aliás, curiosidade, era também, de certa forma, fruto do que ela nos dizia e como dizia. Algumas de nossas perguntas foram respondidas com outra pergunta sua.

“Quando eu vim pra qui, minimo, estas casas era tudo caixote”, contou Geza. “O Santa Maria (bairro) era um barreiro vermelho danado”, descreveu Geza para, logo em seguida, revelar que era evangélica.

“Eu não tenho nada, não. Não sinto nada. Não tenho diabetes, não tenho colesterol, não tenho problema nenhum de coração, não tenho problema de pressão alta, nada disso. Nada, nada, nada”, contou nossa entrevistada, à época com 102 anos. Ela acrescentou ter o cuidado de submeter-se a exames periódicos “e dá tudo certo”.

“Eu acordo a hora que eu quero acordar”, disse, desfazendo a ideia de regras quanto a este aspecto em sua vida. “Deito a hora que me dá vontade de dormir”, emendou.

Geza incluiu em suas recordações a revolução de 1930, o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha. A nossa entrevistada lembrou, com riqueza de detalhes, de quando seu pai, o avô e um tio, “passavam o dia no mato e só retornavam para casa à noite”, para não serem mortos. “Minha mãe levava comida no mato para eles”, contou. “Eles (os soldados), pegavam os homens, pra brigar, e levava pro mato, pra morrer ou matar”, detalhou Geza. Perguntei o local onde o fato aconteceu e ela respondeu dizendo não saber. “Eu era minina”, justificou.

Geza tinha o hábito de andar com um pano amarrado na cabeça. Ela explicou o porquê do uso: “eu trabalhava na 38 (número de uma antiga rua de um bairro onde é hoje, parte do Cruzeirinho) na casa de uma dona, ajudando fazer comida. Então eu ficava com medo de cair cabelo na comida e, ai, eu usava o lenço e acostumei. Não tiro nem para dormir”, disse Geza, acrescentando que possuía três pares do acessório, um deles presente de aniversário. Perguntada de havia estudado, ela respondeu que aprendera a contar minhoca na roça. “Eu trabalhava na lavoura dos outros. Ganhava um dia de serviço capinando nossa plantação. Nós trabalhava, eu mais minha irmã, e ganhava um dia de um homem, no cabo da enxada. Até bater pasto nós batia”, enumerou as ocupações que tinha, às quais creditava a culpa por não ter estudado.

Já em 2014, irmã Geza tinha uma opinião crítica do mundo em que vivia. “Muito ruim, tá doido! Nossa, no tempo que eu fui criada, é totalmente diferente! Esquisito demais”! Sobre os namoros da atualidade, Geza respondeu: “E eles namora, minino? Ês é …”, disparou, se referindo ao tipo de relação entre namorados hoje em dia. Com relação às igrejas, ela avaliou: “Pastor? Tem uns explorador, né? Tem uns que vive direitinho com as igrejas deles, e tudo. Mas tem uns que só quer saber de dinheiro”.

Perguntamos para irmã Geza se ela, àquela altura com 102 anos, já tinha sido vítima de alguma discriminação quanto à sua idade. “Eles (a sociedade) me respeita. Se não me respeitar eu saio neles”, garantiu. “Um dia desse ai eu fui descer (do ônibus) na…Você lembra quando o ônibus matou aquela mulher aquela vez…?Então eu passava  pros fundos do ônibus com o cartão. Ai, quando aconteceu isso, eu panhei medo, porque um dia eu fui descer na porta de trás e o motorista, por um tiquinho, ele quase me espremeu na porta do ônibus. Eu tive que descer na porta de trás. Ai eu gritei com ele: Oh, rapaz, abre esta porta. Você tá em tempo de me prender na porta aqui. Ai eu falei com ele: se você quer conservar seu emprego, rapaz, põe mais sentido, tá? Falei com ele. Se você precisa do seu emprego, põe mais sentido na hora que o passageiro desce. Que pressa é esta? A pressa é inimiga da perfeição. Eu só ando lá na frente. Quer achar ruim, acha”.

Será qual o segredo de Geza para esta saúde e energia? Ela conta. Antes, porém, me pede para olhar na panela para ver os toucinhos que sempre colocava no feijão. “Deixa eu falar com você: eu já bebi, eu já fumei, já dance muito forró. Se eu não tivesse aceitado Jesus, acho que eu já tinha morrido. Se eu não tivesse largado estas porcariada tudo pra lá, minino, e aceitado Jesus na minha vida, eu já tinha ido…”. Mas a falante entrevista continuou a dar a receita para longevidade. “É Jesus, comer bem, não guardar ódio no coração. Se uma pessoa te faz uma raiva ali, na hora você pode ficar com raiva mas, depois,  você deve esquecer aquilo. Não guarda no coração não. Num guarda raiva no coração, não que é ruim. Coitado do coração vai indo e não aguenta”, receitou Geza, que nos contou, logo em seguida, um sonho, onde ela estava sozinha, em um globo. Ela disse que, neste sonho, orou e disse: “meu Deus, será que vou perder minha salvação?”. Na sequência do relato, revelou que uns homens, vestidos de branco, passaram por ela, desaparecendo logo em seguida. “Eu peço a Deus todo dia: não deixa eu morrer de repente. Eu quero preparar para ir morar com Deus. A gente é pecador, a carne é fraca. Às vezes, alguma hora, a gente fala alguma coisa que Deus não agrada. Eu quero que Deus me prepara. Não quero dar trabalho a ninguém, antes de morrer. Isto eu peço a Deus. Num quero morrer debaixo de carro, esses trem não. Quero que Deus me leva igual um passarinho”.

Sobre música, Geza disse gostar “daquela que fala sobre o mar afora…do Lázaro”. Sobre um versículo bíblico de sua preferência disse não ter “porque não sabia ler”.

Irmã Geza partiu deixando fartos exemplos de seriedade e disposição para a vida.

Esta mulher, serva de Deus, pode ser descrita, também, como um incentivo para aqueles que não pensam em parar de sonhar. As dificuldades por ela enfrentadas não foram motivos para, pelo menos, considerar tirar a vida. Viveu até próximo aos 112 anos. Ela iria completa-los no próximo dia 27 de novembro.

“No período que eu fui pastor dela, no Quitandinha, ela sempre foi prestativa, participante dos cultos. A gente sempre levava Ceia (Santa) para ela quando ela não podia participar. Ela foi fiel ao Senhor”, testemunhou pastor Anderson Alves.

Continuar Lendo
1 Comentário

1 Comentário

  1. Cenira Silva

    30 de outubro de 2023 no 7:34 pm

    Ela congregou mto tempo em nossa Igreja C.I.AVIVAMENTO na AV. Senador Milton Campos no B. Quitandinha. Nosso PR. MARINHO ia buscá-la junto com o Neto todos os domingos e depois levava de volta no final do culto. Após a pandemia foram congregar na AD QUITANDINHA Pq era mais perto de cada e mais cômodo.Era assistida com cesta básica e o Pastor levava Santa Ceia pra ela. Eu a visitava esporadicamente pois a amava muito, a chamava de Vó e ela me chamava de delegada.Que Deus a tenha em sua Glória. Saudade eterna!

Deixe uma Resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *