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Evangelista Mauro Gonçalves fala sobre as limitações que enfrenta no seu dia a dia

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 Ele não está experimentando o reflexo do ocaso nem avistando sombras no horizonte. Se à sua frente está o avançar de cortinas, suas mãos têm força para fazê-las recuar e poder ver o brilho do dia, mesmo que por detrás de tecidos que lhe exijam sacrifício para avistar o sol na sua vivacidade.

Cerca de 18 quilos mais magro desde que, há 4 anos, foi diagnosticado como portador da doença de Parkinson, mal neurológico que afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão, rigidez e desequilíbrio e que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) afeta aproximadamente 200 mil pessoas no Brasil e 4 milhões no mundo, o evangelista Mauro Aparecido Gonçalves viu sua vida ser drasticamente alterada, situação agravada com a “surpreendente” perda da esposa, Raquel Alves Gonçalves, em janeiro passado, cuja morte teve como pivô uma infecção urinária.

Sua rotina não é mais a mesma, desde então, exigindo adaptações ao novo estilo de vida imposto pela enfermidade,  que não tem cura, mas pode ser tratada para retardar a progressão.  O evangelista contou que, durante 5 vezes, ao dia, recorre a medicamentos.

Esta realidade, segundo Mauro, provocou o fim de algumas das suas atividades, a redução do ritmo e quantidade de outras, sobretudo aquelas que lhe exigem esforço físico e mental para serem praticadas. Algumas ações básicas, como, por exemplo, se arrumar para sair, hoje demandam uma dose considerável de sacrifício. Após aposentar-se da Cia. Acesita (Aperam) atuava como eletricista e teve que interromper esta profissão devido à impossibilidade de subir, sequer, uma escada com 4 degraus, por exemplo. Depois de 40 anos de motorista, não renovou sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e vendeu o carro, diante do risco que representava conduzi-lo.

Na sexta-feira (21), a convite do evangelista, tivemos um encontro na casa de uma das suas filhas, no bairro Ana Rita, onde está morando “até decidir se muda ou não para a Bahia”, estado onde reside a outra filha.

O encontro, ocorrido pela manhã, foi marcado para ele explicar por que não está, mais, enviando mensagens de felicitações para todos da sua extensa relação de aniversariantes, como vinha fazendo, regularmente,  “há mais de 30 anos”, atitude que lhe conferiu notoriedade devido à  forma que utiliza, expressando em minutos, horas e dias a idade alcançada pelo aniversariante. Esta prática iniciou-se, conforme revelou Mauro, quando ainda era coordenador da UMADAT. Ele anotava na revista da EBD a data de aniversário dos amigos que atuavam consigo na coordenação da sigla e os parabenizava. Desde então, esta ação tem feito parte da sua ocupação diária, sendo vista como se fosse uma patente pessoal.

Sobre a mesa, enquanto conversávamos, dois cadernos em cujas páginas estão registradas mais de 1300 datas de aniversário de nascimento e 300 de casamento, entre as quais de pessoas que ele não conhece, mas foram listadas a pedido de amigos. O evangelista, que cogita jubilar-se do Ministério, afirmou que destas relacionadas, várias se dão conta que estão aniversariando somente quando são cumprimentadas por ele. A recíproca é verdadeira numa proporção considerável. Mauro disse que na data do seu aniversário, 3 de março, seu aparelho celular fica congestionado de mensagens de felicitação. Outra recompensa, assim definido por ele, é o carinho que recebe dos idosos devido ao fato de lembrar de suas datas natalícias, o que, no caso de muitos, não acontece por parte da própria família.

Ao centro, na foto, tirada em um culto familiar, na casa do irmão Dionísio, no bairro São Cristóvão.

Mauro fala sobre aqueles dois cadernos, com marcas do tempo e  coloridos de anotações extras, e diz que os leva consigo quando vai em algum lugar onde tem que permanecer por algum tempo. São como documentos pessoais e, todos os dias, são cuidadosamente consultados. Em média, 9 aniversários ocorrem diariamente e o mês, com maior incidência, conforme estimou, é agosto.

Antes do surgimento da doença, o evangelista, ainda de acordo com seu relato, não deixava nenhum daqueles aniversariantes sem ser lembrados de quantas horas, dias, meses e anos estavam conquistando. Depois da descoberta, o número de felicitados vinha sendo reduzido sensivelmente, mas, nos últimos 6 meses, devido ao aumento das suas limitações, teve que reduzir substancialmente a quantidade de aniversariantes contemplados com seu tradicional e carinhoso gesto.

Um dado curioso é que Mauro continua parabenizando a pessoa mesmo que ela mude de cidade ou vá para fora do Brasil, “enquanto não perder o contato dela”. Ele citou, por exemplo, amigos residentes na Suíça, Inglaterra, Portugal e EUA que recebem suas mensagens quando completam aniversário.

Mauro Gonçalves afirmou que, atualmente, tem encontrado sérias dificuldades para redigir as mensagens e manifestou o temor de que algum aniversariante que, eventualmente, não receber seus parabéns, como em anos anteriores, possa atribuir o fato a um mero esquecimento. Para explicar que não se trata disso, aliás, foi que nos convidou para a entrevista, como ficou claro no início desta publicação.

Vídeo: Em uma aparição na AD Alvorada. (crédito: Jouberth)

O evangelista, em cuja trajetória está sua exitosa permanência por, mais ou menos, 2 décadas na direção da UMADAT, acredita que não chegará a ter que ficar sem parabenizar ninguém, mas previu que o número de contemplados possa diminuir ainda mais.

Lembrando a ausência da esposa, com quem esteve casado durante 42 anos, Mauro disse que Raquel era sua companheira e com ela podia contar para amenizar o sofrimento causado pela enfermidade, inclusive lhe auxiliando  driblar as limitações físicas.

Entre uma lembrança e outra, do tempo que usufruía saúde plena, Gonçalves, em nenhum momento, queixou-se da situação que vivencia e reafirmou sua fé em Deus, na certeza de que Ele está no controle de tudo. Quem conversa com Mauro logo percebe que seu espírito está intacto e que o dilema reside somente na carne. Sua confiança em Deus não foi atingida e seu espírito se renova.

A visível preocupação em dar explicação aos amigos e à sociedade sobre as mudanças em seu ritmo de vida, impingidas pela doença de Parkinson, cujos efeitos são acentuados por uma alteração no intestino e nas vistas que, também, o importuna, foi diluindo à medida que expressava os detalhes destas implicações na dinâmica do seu dia a dia.

Mauro Gonçalves acenou com a esperança no sentido de que essa publicação possa servir para justificar o fato de não estar, mais, enviando mensagens de felicitações aos amigos, amigas e casais aniversariantes como sempre fez. Ele espera contar com a oração e compreensão de todos. Sua situação, no momento, lhe impede prosseguir na dinâmica que sempre marcou suas relações.

Oremos pelo evangelista Mauro e sua família.