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“O chão se abriu”: histórias de superação e a nova vida após o câncer

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23 horas atrásno
“O diagnóstico é como um buraco que se abre sob seus pés, uma queda livre em um abismo escuro.” A frase ecoa a voz de Lorena Dornelas Marsolla, 38 anos, diagnosticada com câncer de mama em março de 2024. A engenheira, que estava casada, trabalhando e finalizando um doutorado em engenharia na UFES, viu seus planos interrompidos pela doença. Assim como ela, Priscilla Thompson, 41 anos, jornalista, também sentiu o mundo desabar ao receber o diagnóstico de câncer colorretal aos 40 anos. Duas histórias, dois diagnósticos, um turbilhão de emoções e a redescoberta da vida após o câncer.
Lorena notou um pequeno nódulo durante o autoexame e, devido ao histórico familiar, procurou um médico. Os exames confirmaram carcinoma ductal invasivo. “O diagnóstico de câncer é como um luto, em que sua vida é interrompida. O diagnóstico é a parte mais difícil do processo. Foram dias de choro, de raiva, de perguntas: ‘Por que eu?’ ‘Por que logo agora?’ ‘E agora, como vai ser a minha vida?’ Foram tantas perguntas que fica um turbilhão na cabeça, como se tivesse um furacão”, relembra.
Já Priscilla, que havia se mudado para os Estados Unidos há poucos anos, ignorou os sinais do corpo por meses. Sangue nas fezes, episódios esporádicos desde 2020, foram desconsiderados até se tornarem frequentes. Um diagnóstico inicial equivocado de hemorroidas levou-a a fazer uma colonoscopia, que, em junho de 2023, revelou um tumor obstruindo 90% do intestino. “Meu mundo caiu. Chorei por dias seguidos, minha filha tinha apenas 1 ano e 11 meses. Eu só pedia a Deus para viver para cuidar dela e vê-la crescer”, relembra.
Ambas encontraram forças no apoio de familiares e amigos. Lorena, que sempre buscou a fé, intensificou suas orações, encontrando conforto e esperança. Ela também percebeu a proximidade de sua família nesse período, com seu esposo, sempre cheio de amor, segurando sua mão para que ela conseguisse dormir. Em cada fase do tratamento, desde consultas médicas até exames e medicações, ela estava acompanhada de seus familiares.
“Fiz novas amizades, conheci pessoas que passaram pelo tratamento e compartilharam suas experiências, me dando apoio e atenção. As pessoas sempre procuravam estar próximas, me mandavam mensagens e buscavam saber como eu estava. Essa atenção me fez sentir amada e cuidada.” Lorena também começou a frequentar grupos de oração na igreja, o que a fortaleceu na fé e a aproximou ainda mais de Deus. “Foi na fé que eu busquei forças para superar cada etapa do tratamento, entreguei minha vida nas mãos de Deus”, conclui.
Após receber o diagnóstico, Priscilla sentiu a necessidade de retornar ao Brasil, onde mantinha seu plano de saúde. Ela sabia que, nos Estados Unidos, o seguro-saúde não cobriria o tratamento, que poderia ser de alto custo. Além disso, queria estar perto da família e amigos, em Cachoeiro de Itapemirim. Com o apoio do marido, arrumou as malas e dias depois desembarcou no Espírito Santo.
Lorena enfrentou seis sessões de quimioterapia, com efeitos colaterais como queda de cabelo, insônia, cansaço e alterações no paladar. “A cada fio de cabelo que caía, eu chorava, mas entendia que era para a minha cura”, relata. A atividade física e o acompanhamento psicológico foram essenciais para amenizar os efeitos do tratamento.
A atividade física desempenhou um papel crucial na recuperação física e mental de Lorena. Mesmo nos dias mais difíceis, ela se esforçava para ir à academia, onde se sentia melhor, e, nos dias em que não conseguia comparecer, buscava alternativas em casa para manter a constância na prática. Além disso, o apoio contínuo da equipe médica, que incluía médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos e nutricionistas, foi fundamental para sua recuperação. Esse suporte trouxe-lhe confiança e segurança, o que a tranquilizou consideravelmente durante todo o tratamento.
Priscilla passou por duas cirurgias: a primeira para a retirada do tumor e a segunda devido a uma complicação pós-cirúrgica. “A segunda internação foi mais difícil, fiquei muito debilitada, pensei que não ia resistir. Eu perdi muito peso, mas o apoio e carinho da minha família foi fundamental”, conta.
O medo da recidiva é uma sombra constante, mas ambas aprenderam a conviver com ele. “A cada exame, a ansiedade volta, mas a terapia me ajudou a lidar com isso”, revela Priscilla. Lorena, que ainda está em tratamento, busca manter hábitos saudáveis e valorizar cada momento da vida.
“O câncer me fez ver a vida com outra lente, outro olhar”, afirma Lorena. “Passei a valorizar mais as pequenas coisas, as pessoas, o dia a dia”. Priscilla compartilha do mesmo sentimento: “A gente aprende a viver com o medo, mas não pode paralisar a vida. O câncer coloca as coisas mais importantes no lugar certo”.
Dra. Morgana Stelzer, coordenadora do serviço de oncologia do HEVV, alerta para o aumento do câncer em jovens e destaca a importância do diagnóstico precoce. Foto: Divulgação
A Dra. Morgana Stelzer, coordenadora do serviço de oncologia do Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), alerta para o aumento da incidência de câncer em jovens, com destaque para os casos de mama e colorretal. “Os fatores são incertos, mas o estilo de vida, com alto consumo de alimentos industrializados, sedentarismo e exposição a agentes tóxicos, contribui para esse aumento”, explica.
A médica destaca que houve um aumento de 79% nos últimos 30 anos nessa faixa etária, com o câncer sendo a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos. Os tipos de câncer com maior incidência nessa faixa etária são o de mama, que tem se tornado cada vez mais frequente em mulheres jovens, e o colorretal. “Fala-se, inclusive, em uma epidemia silenciosa”, ressalta.
A médica reforça a importância do diagnóstico precoce e da adoção de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física regular, evitar cigarro e álcool, ter sono reparador e manter as vacinas em dia. O acompanhamento médico após o tratamento é fundamental para monitorar a saúde e prevenir a recidiva.
Tanto Lorena quanto Priscilla ressaltam a importância do acompanhamento psicológico durante e após o tratamento. “O câncer é uma doença que afeta o corpo e a mente”, afirma a jornalista. “O apoio psicológico é fundamental para lidar com o medo, a ansiedade e a depressão. Não só para os pacientes, mas também para a família”.
“O diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte”, afirma a Priscilla. “Com os avanços da medicina e o apoio adequado, é possível superar a doença e ter qualidade de vida”.
Por Danielli Saquetto/ES360
Sou Silas Rodrigues, o Silas do Blog, fundador deste site, com quase 15 anos de existência. Gleiziane é minha esposa e repórter fotográfica.