Tocando pandeiro em um culto na praça do Olaria, em 2013
Sempre rodeado de pessoas, o pastor Argental era do tipo sonhado por muitos “líderes”
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A morte do pastor Argental, ocorrida na última quinta-feira (18) foi outro duro golpe que a vida impingiu à história da Assembleia de Deus do bairro Olaria. As páginas desta igreja guardam alguns capítulos de perdas irreparáveis e a do pastor Argental, sem dúvida, está entre elas.
Sua saída de cena abre um vácuo na anatomia do corpo de fiéis que povoam esta congregação. Ao lado da morte do pastor Idevaldo, ocorrida recentemente e da do diácono Antônio Rodrigues dos Santos, a partida deste carismático obreiro deixa interrogações cruciais. Eram homens de caráter forjado com têmpera de aço, incapazes de contribuir para que o nome da igreja fosse manchado. Sem bajulações e farisaísmos eles venceram seus dias de vida servindo a Deus, simplesmente. Assim foram muitos outros que estão nos anais da história da Assembleia de Deus de Timóteo e do Olaria, especificamente.
A contribuição dada por Argental ao campo ministerial presidido pelo pastor Adão Araújo não se apaga e nem se leva por ventos. Sua abnegação a favor do evangelho fê-lo dispor do seu tempo e sua saúde em prol do crescimento desta instituição. A bordo de sua Kombi, na década de 80, estavam adolescentes e jovens que formavam um conjunto musical que era o instrumento, à época, de reforço na evangelização de cidades na conhecida região de cima, assim definidas as regiões de Barbacena, Conselheiro Lafaiete e Alto do Rio Doce. Os feitos deste homem não lhe renderam medalhas mas suas ações reluzem na memória dos que testemunharam sua obra. O Argental que ajudou evangelizar não exigiu reconhecimento. Sua alegria era poder ver a expansão do Reino de Deus e ter contribuído para isto foi uma vocação em exercício. Argental Ferreira da Silva tinha o vezo de ser amigo e o dom de não fazer inimigo. Sua fala, sempre pautada em suas convicções, o tornava franco ao emitir conceitos e opiniões. Seu respeito ao interlocutor não o subjugava ao nojento exercício da bajulação ou medo de retaliações. Não temia desagradar. Temia agradar sem estar sendo agradável. As barras dos tribunais não o amordaçaram. Mordaça não o assustava. Sua condenação, ao que na sua concepção fugia às regras do evangelho, tinha tom de bravura e não era flexível e tolerante com o erro.
Com a esposa Zizinha,, também falecida
Eventos da AD Timóteo. Programe-se.
Definir as horas em que Argental estava triste era uma tarefa só possível, talvez, aos filhos e esposa. Seu sorriso não era condicionado às circunstâncias. Sorrir para ele tinha a mesma frequência de respirar. Dai, vê-lo triste, seria um privilégio para quem conseguisse.
Em seu funeral a presença de tantas e tantos deixou evidente seu carisma. A presença do pastor Junior Calais, presidente das Assembleias de Deus de Coronel Fabriciano e Ipatinga no culto que antecedeu à saída do caixão com seu corpo da igreja, deixou claro que Argental não era estimado apenas em sua terra. O era, também, em outras e por outros.
Argental fez história e sua própria história contém capítulos que não são comuns a qualquer um. O dia 18 de julho de 2009, por exemplo, jamais ficará como uma simples contagem a mais no calendário da história do então evangelista Argental Ferreira da Silva. Naquele dia, mais precisamente por volta das 13h30, quando conversava com alguns da família, sofreu uma parada cardíaca, fato que se repetiria uma vez a caminho do hospital próximo de sua casa, o Vital Brazil, e mais duas enquanto recebia os primeiros cuidados na unidade, totalizando, assim, quatro interrupções no funcionamento do seu coração. A notícia se espalhou pela cidade. A expectativa geral era, naturalmente, no sentido de um desfecho indesejável, pois sofrer quatro paradas cardíacas e sobreviver não é fato muito comum, inclusive nos compêndios médicos. Porém, poucos dias depois, Argental deixou a UTI, permaneceu também poucos dias na enfermaria e foi conduzido para a Capital do Estado, para exames que, de praxe, se sucedem a ocorrências desta natureza. Ao chegar ali na Santa Casa, após examinado pela equipe do Dr. Afonso, a constatação a que chegaram era a de que Argental havia sofrido “morte súbita”, descrição inusitada e incompreensível aos olhos humanos.
Quando completou 80 anos, Argental não tinha ao lado a esposa Zizinha para com ela compartilhar a alegria da comemoração. No entanto foi capaz de manter o sorriso. Algumas ausências naquela data deixaram claro que, àquela altura da vida, Argental havia descoberto que amigos não são o mesmo que conhecidos. Amigos são caros e conhecidos se tem de graça. O valor deste é nulo com relação ao daquele.
O passado que para muitos poderia ser combustível para ostentação, para Argental era passado. Foi vereador em Timóteo e nunca invocou esta condição como moeda para obter privilégio ou adquirir status. Foi Juiz de Futebol e não fez disto argumento de craque. O melhor para ele era o presente, aquele em que entregou sua vida a Cristo. Em suas mensagens não dizia o que foi. Ressaltava o que passou a ser: servo de Deus. Ambições ministeriais não faziam parte de suas ações na igreja. Tudo que fazia era movido pelo amor à Obra de Deus.
Mesmo vivendo no anonimato, embora merecendo holofotes, Argental era reconhecido por sua contribuição também com a cidade. Assim foi no dia 28 de abril, às 17h, no Plenário da Câmara Municipal de Timóteo quando, ao lado de algumas personalidades do município, foi contemplado com a Medalha Didico Araújo, numa iniciativa que fez parte das comemorações dos 48 anos da cidade. Ações a favor do próximo foi outro lado descritivo do pastor Argental. Onde estava um enfermo, lá ia Argental visitá-lo e dispor a ajudar. Este testemunho foi endossado por um dos seus irmãos minutos antes do seu caixão ser depositado no jazido da família.
A morte do pastor Argental desfalca um exército, aquele mesmo a que pertencia pastor Idevaldo, aquele de orações constantes sempre com alvos definidos. Este desfalque constrói uma realidade que se agiganta com a morte de pioneiros como ele. Este desfalque evidencia que esteios estão sendo balançados e recolhidos. Resta aos que ficam seguirem o exemplo destes servos de Deus. A dor que dilacera a família também corta os corações dos que com Argental conviviam. Foi pastor Idevaldo. Poucos dias depois vai pastor Argental. O Criador amenizou o baque e os dois não foram no mesmo dia, embora amigos. Fica o eco inconfundível das suas orações e a marca dos seus estilos. A luta não terminou, embora no andamento desta batalha alguns soldados nos dizem “até breve”.