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15 anos sem o pastor Gonçalves! Vou te contar como foi o dia 23 de fevereiro de 2009

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Pastor José Gonçalves. Arquivo de família.
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Hoje, 23 de fevereiro de 2024, completam-se 15 anos do falecimento do pastor José Gonçalves Ferreira. Eu, Silas, quero compartilhar com você o que vi neste dia, 23 de fevereiro de 2009. 

Pastor José Gonçalves e esposa, irmã Olinta. Arquivo: Portal do Silas.

Segunda-feira, 23 de fevereiro, de 2009. O indesejado acontece: morre pastor José Gonçalves Ferreira, a 50 dias de completar 87 anos.

A notícia caiu como uma bomba de efeito altamente devastador sobre centenas de corações que já estavam assolados pelo seu sofrimento, causado por uma enfermidade, responsável por constantes internações hospitalares.

Era o descanso, uma viagem daquele que, em inúmeras vezes, foi chamado de patriarca. A cidade, esvaziada pela véspera de um feriado, tinha, no seu silêncio, uma imaginária expressão de tristeza pelo falecimento de um dos seus ilustres filhos, como bem definiu, à época, o ex-prefeito Leonardo Rodrigues Lelé da Cunha, presente ao velório.

Ministrando santa ceia na AD Alvorada: Foto: Arquivo de família.

Poucos não foram aqueles que torciam para que a notícia da morte do pastor fosse apenas um boato, um equívoco, como chegou a acontecer uma semana antes. Era real, José Gonçalves Ferreira havia adentrado os portões celestiais, cumprindo um dos seus desejos, expresso tantas e tantas vezes ao cantar um dos seus hinos preferidos, “mais perto quero estar meu Deus de ti, ainda que seja a dor que me una a Ti”, 187 da Harpa Cristã!

Foto: Arquivo Portal do Silas.

Pela manhã, de um sol fosco e oscilante, entre nuvens artisticamente distribuídas no céu, o templo sede, no bairro Olaria, começava a receber as primeiras visitas para a despedida do corpo, entre elas caravanas oriundas de Joanésia, Minas Gerais, com os familiares do pastor.

Populares, assustados, paravam em frente ao templo para se certificarem da informação com relação à morte do pastor Gonçalves.  Diante da resposta positiva, não escondiam a tristeza. O então presidente do Ministério, pastor Adão Alves Araújo, retornou, imediatamente, de um descanso, em um sítio com a família. Era o pulsar, no coração, da lealdade ao amigo com quem, durante muitos anos, pode contar no Ministério, como referência de apoio e fidelidade.

Capa de um informativo que circulava na AD Olaria.

À medida que as horas avançavam, a intensificação do fluxo de pessoas no local do velório dava o tom do carisma e prestígio do pastor José Gonçalves. Rostos de celebridades misturavam-se aos de anônimos. Esses, companheiros de trabalho, amigos, vizinhos, simpatizantes e admiradores, formavam a paisagem humana naquele templo que ficou lotado. Ali, velhos amigos e amigas se reencontravam e muitos deles trocavam entre si lembranças que eternizam o falecido.

Todos eles já faleceram. Foto: Autoria desconhecida.

O desejo de realizar um funeral condizente com as dimensões, humanas e morais do pastor, fez surgir a ideia da condução do seu corpo num carro do Corpo de Bombeiros. Gestões rápidas nesse sentido foram feitas sem, no entanto, lograrem êxito. O comandante da corporação, polido e sensibilizado, lamentou a impossibilidade de atendimento, alegando estar todas as viaturas, disponíveis no Vale do Aço, em plantão nas lagoas existentes na região, devido ao feriado. Escusou-se, reconhecendo a importância da homenagem, tão legítima diante do nome de quem se pretendia homenagear. Uma sensação de frustração somou-se à dor dos autores da ideia, que se consolaram com o nascer do desejo e esforço para concretizá-lo.

Na AD Olaria. Foto: Arquivo Portal do Silas.

Pastores, presidentes de diversas regiões e de outros Ministérios, passam pelo velório, como foi o caso do de Caratinga, pastor Ari Coelho; de Ipatinga, Antônio Rosa da Silva, e seu vice. Três representantes do presidente da Convenção Mineira, ex-prefeitos, ex-vereadores, secretários e uma infinidade de nomes importantes da cidade, incluindo o empresário José Brasil.

Enquanto isso, naquele caixão, de madeira reluzente, pastor Gonçalves, num terno azul, com um semblante sereno, parecia assistir a tudo com a vontade de sorrir, como a agradecer o carinho a ele destinado, em soluços e lágrimas abundantes.

Local e momento não identificados. Foto: Arquivo de família.

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Poucos minutos faltavam para o início do culto fúnebre, dirigido pelo pastor Eneias Alves, quando uma cena chama a atenção de todos: chegava ao local, ao lado de uma de suas filhas, o pastor presidente, Adão Araújo, contrariando sua natureza de não gostar de ver amigos naquela situação. Trajando uma camisa clara, de gravata e calça azul, pastor Adão tenta aproximar-se do caixão, tendo um lenço nas mãos como quem já chorava bem antes de ali chegar. Tenta, mas não consegue. Chora copiosamente como nunca fora visto fazer em público. Beija solenemente a testa da viúva Olinta, como um pai a consolar a filha, e se retira às pressas do local. É conduzido para casa e, ao descer a rampa que dá acesso à porta lateral do templo, precisa de ajuda para fazê-lo, pois a abundância das lágrimas o impedia de ter uma visão perfeita. Vai para casa e, ali, encontra refúgio para curtir a dor da separação do amigo José Gonçalves Ferreira, a quem se referia como Gonçalves.

Na AD Olaria. Foto: Arquivo de família.

Enquanto isso, no templo, cada vez menor para acomodar a multidão, é iniciado o culto com um fundo musical de Ennio Morricone, executando a música La Califa, uma de suas eternas trilhas sonoras. Contendo o choro, até a certa altura, pastor Eneias inicia o culto tendo consigo, no púlpito e áreas adjacentes, a presença de um secto de obreiros numa cena digna de uma concorrida convenção. Pastores se revezaram no microfone e o testemunho a favor do que representou o pastor Gonçalves foi o tom, de uma música só, entre eles. Convidado, o prefeito, doutor Geraldo Hilario, também disse o que significava para a cidade a perda do pastor. Lamentou o ocorrido e não foi capaz de esconder o olhar contemplativo que marcou sua presença ali, acompanhado por assessores e alguns vereadores.

Local e momento não identificados. Foto: Arquivo de família.

A poucos centímetros do púlpito, uma corrente humana disputava o melhor lugar para ver o falecido. Sobre o caixão, uma bandeira da Assembleia de Deus estendida dava a dimensão da importância e significado do pastor para a trajetória da denominação.

O velório do pastor Gonçalves foi horas de intensa comoção, protagonizada pela perda de um referencial moral, ministerial, familiar e de amigo. Não eram poucos os que ali estavam por outra razão a não ser como forma de gratidão e reconhecimento a ele por um conselho recebido, uma palavra amiga, uma oração especial ou um gesto importante, concedido numa hora crucial. “Certa vez eu estava passando por uma situação muito difícil; o pastor Gonçalves me aconselhou e eu encontrei uma saída”, disse um jovem.

Momento de lazer. Foto: Arquivo de família.

Imaginar que aqueles corredores do templo sede, por onde ele caminhava, sempre devagar, com passos cadenciados, distribuindo atenção a quem encontrava, um dia seriam o tapete do desfile do seu corpo inerte, era doloroso demais para ser degustado como algo comum aos viventes. Desde cedo, o templo recebia visita de donos de nomes importantes em ministérios diversos, populares, conhecidos e anônimos.

Local não identificado. Foto: Arquivo de família.

Os olhares assustados e banhados por abundantes lágrimas lançados sobre o corpo do pastor, entre flores, descrevia a cena que enfeitaria o parque das recordações de crianças, adolescentes, anciãos e jovens que ali estavam silenciosos, formando a especial paisagem humana daqueles instantes derradeiros.

O culto termina e o corpo seguiu os dois quilômetros que separam o templo do cemitério Jardim da Saudade, acompanhado por batedores da Polícia Militar.

Com o pastor João dos Santos. Local não identificado. Foto: Arquivo de família.

Carregado por amigos, entre eles os empresários Aloísio Pinho e José Brasil, o caixão deixou o templo por volta de 17h00. Uma multidão, do lado de fora, assistia à cena da colocação daquele ataúde no carro funerário como quem assistia à queda de um prédio em cujo interior estavam pertences de ouro que jamais seriam resgatados.

Foto: Arquivo de família.

A avenida Acesita, no bairro Olaria, ficou tomada em suas margens por populares que pareciam não acreditar no que viam. O caixão é colocado por volta de 17h30 no jazigo da família, encerrando, assim, um capítulo dos mais brilhantes de um eventual documentário sobre a AD Timóteo.

Entrega de certificado. Local e pessoa não identificados. Foto; Arquivo de família.

As cortinas de cimento, tampa daquele espaço sepulcral, se fecham, decretando o início da saudade que se eternizará, daquele que partiu deixando corações partidos. A multidão cabisbaixa retorna daquela necrópole e só uma coisa a consolaria: a certeza de que foram levar alguém a uma plataforma de embarque para uma viagem.