Na manhã desta quinta-feira (9) as marcas deixadas pela prendada mulher Silvina de Barros estavam visíveis não só no olhar reluzente de dois dos seus 9 filhos vivos, Cremilda e José, que falaram com nossa reportagem, mas, também, na beleza de algumas rosas desabrochadas no jardim que recebia o toque de suas mãos todos os dias, nos apresentado pelo casal de filhos.
Durante 62 anos Silvina viveu casada com Manoel
Silvina, que morava no bairro Olaria, em Timóteo, aos 93 anos, aparentando bem menos, morreu às 3h40 desta terça-feira, em consequência de uma parada cardíaca, depois de três dias internada para tratar de uma pneumonia reincidente.
O silêncio da matriarca dos “Barros” ecoava pela casa. Enquanto nos passavam informações, Cremilda e José revezavam nas lembranças que a mãe deixou e que marcarão suas vidas.
Bordar era uma das constantes atividades de Silvina
Silvina, viúva há 10 anos de Manoel Atroiano de Barros, com quem viveu 62 anos casada, era uma das pioneiras da Assembleia de Deus em Timóteo. Desde 1993 era membro na sede, no bairro Olaria, depois de um tempo congregando em Alvorada.
Outro prazer dela era cultivar plantas no quintal da sua casa
Junto com a filha Cremilda, Silvina era sempre vista indo em direção ao templo. Polida, não negava um sorriso aos que por ela passavam. Em casa, sua fidelidade a Deus e seu compromisso como serva eram evidenciados em seu gesto de manter a comunhão com o Criador. Segundo contou a filha, nos últimos 22 anos, “todos os dias, antes de deitarem”, a mãe e ela realizavam um culto doméstico. As duas revezavam, entre si, a leitura dos versículos Bíblicos escolhidos para base do ato. Além desta atividade, Silvina orava pelas madrugadas e não se esquecia da leitura da Lição Bíblica Dominical. “Gostava do hino 400 da Harpa Cristã”, segundo revelou Cremilda. Um dos seus desejos era ver o filho Paulo convertido. Suas orações a favor desta questão, certamente, irão florescer como as rosas que ela cultivava.
A existência de Silvina foi marcada não só por sua conduta ilibada como serva de Deus e cidadã mas, também, pelo carinho que devotada às flores e plantas que mantinha no quintal de sua casa. Ao irmos até à horta que conservava, encontramos vários tipos de hortaliças e plantas medicinais. Alguns pés de rosa davam um toque especial ao jardim que enfeita parte do quintal. Mas a magia daquelas mãos não estava presente apenas na imponência do jardim e variedade da horta. Silvina bordava com maestria e a arte inspirada em uma sensibilidade ímpar estava estampada nos detalhes de algumas peças de cozinha que nos foram apresentadas.
José é o de mais idade dos filhos do sexo masculino
Como mãe, amiga, avó, bisavó, sogra e nora, seus conceitos extrapolam o trivial. “Era uma mulher guerreira, exemplar”, disse a nora Márcia, da Assembleia de Deus do bairro João XXIII
A certeza da salvação e do seu destino após a morte era parte das convicções da mãe da Cremilda, do presbítero Hélio, do José e outros. “Qualquer hora que Jesus quiser me levar pode me buscar que eu vou pulando e saltando”, teria dito ela certa vez a alguns dos filhos. Essa convicção não era retórica e, sim, expressão de quem dedicou parte de sua vida ao serviço de Cristo, mesmo que na sua forma silenciosa de ser. As orações que ela fazia pela madrugada, não irão apagar no tempo. Ainda que o jardim que cultivava possa perder o brilho que emanava dos seus toques, seus exemplos continuarão desabrochados, enfeitando o caminho dos 9 filhos vivos dos 15 que teve, dos seus 10 netos e dos 5 bisnetos que deixou.
Silvina não perdia espaço para ver suas plantas terem vida
A saudade de Silvina está começando e a casa onde morou e onde fomos recebidos atesta o vazio que deixou sua ausência. As flores do jardim daquela casa até poderão morrer de saudades dela e as rosas que enfeitam hoje o canto daquele quintal poderão perder a vontade de viver.
Ainda que dor da sua ausência fira como espinhos, a certeza do seu destino serão as pétalas de uma flor que enfeita a história de quem teve a existência como exemplo a ser seguido.
Recolhida no jardim da humanidade, Silvina irá florescer nas recordações dos que puderam conviver com ela