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Pastor salta de um Fiat 147 para cinco BMWs

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O pastor Paulo Sérgio Dutra de Moraes é fã de automóveis BMW. Do ano passado até agora, teve cinco, todos de luxo, quatro deles zero quilômetro. É dono ainda de dois imóveis em bairros nobres de Catanduva, incluindo uma mansão que ocupa cinco terrenos avaliada em R$ 1,5 milhão.

O enriquecimento do pastor coincide com o período em que ele presidiu a igreja Assembleia de Deus, ministério Catanduva, uma das maiores da região, com 6 mil fiéis espalhados em 38 templos, e arrecadação mensal estimada em R$ 300 mil mensais.

A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam que o patrimônio de Paulo Sérgio tenha origem no desvio de recursos doados pelos fiéis – segundo pastores da igreja, ao assumir a direção da Assembleia no lugar do pai, em 1999, Paulo Sérgio tinha um carro Fiat 147 e morava em uma casa humilde no residencial Gabriel Hernanes, periferia da cidade. Ele e mais cinco pessoas da cúpula da Assembleia, incluindo a mulher, Maria Lúcia, e o atual presidente e ex-tesoureiro, Lucas Martins, são investigados em inquérito policial pelos crimes de apropriação indébita, sonegação fiscal, estelionato e enriquecimento ilícito.

Há duas semanas, o delegado do 2º Distrito Policial de Catanduva, Pedro Luís de Senzi Carvalho, responsável pelo caso, solicitou à 2ª Vara Criminal da cidade a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos seis investigados, além da relação de bens do grupo. A Justiça ainda não julgou o pedido.

Denúncia de 51 fiéis

A decisão de instaurar inquérito foi do promotor Eli Roberto Costa Neves Buchala, a partir de denúncia assinada por 51 fiéis da Assembleia contrários à gestão de Paulo Sérgio, incluindo o vereador Daniel Palmeira. “Vislumbrei indícios de irregularidades no caso”, disse Eli.

As suspeitas contra o pastor vieram à tona em agosto deste ano, quando, alegando estar doente, Paulo Sérgio renunciou à presidência da Assembleia. No entanto, segundo os denunciantes, ele continuou recebendo salário da igreja, cerca de R$ 10 mil mensais. No seu lugar, assumiu a mulher, Maria Lúcia. No mês seguinte, no entanto, ela renunciou em favor do então tesoureiro da igreja, Lucas Martins, que trocou os pastores da maioria das unidades da Assembleia, ministério Catanduva.

Entre eles estava o pastor Benedito Pinto, 67 anos, o mais antigo da Assembleia, responsável pela igreja em Paraíso. “Um grupo de pastores (…) chegaram (sic) em Paraíso mandados pelo pastor Lucas Martins e empossaram um outro pastor de nome Alex em meu lugar, (…) num gesto de total desrespeito com os irmãos, que fizeram um abaixo-assinado contra a minha saída”, disse em depoimento entregue à polícia. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar.

Desde então, o grupo excluído da Assembleia tem celebrado cultos em outro local. Já Paulo Sérgio, embora oficialmente afastado da igreja, ainda frequenta os cultos, conforme apurado pelo Diário. Ao saber da denúncia contra si no Ministério Público, o ex-presidente da Assembleia começou a se desfazer de parte de sua coleção de BMWs. Vendeu três delas, incluindo a mais cara, modelo X6, avaliada em R$ 356 mil. A última foi negociada na terça-feira, com um médico de Ribeirão Preto.

Outro lado

Procurado na quarta-feira em sua mansão, Paulo Sérgio não quis se manifestar sobre o caso. “Só posso dizer que tudo o que estão falando aí não tem um pingo de verdade”, afirmou. Ele ainda não prestou depoimento no 2º DP.

Já o pastor Lucas negou irregularidades na contabilidade da Assembleia. “Ofereço meus extratos bancários espontaneamente à polícia, se for necessário. Não tenho nada a esconder”, falando com a reportagem pelo interfone da mansão.

Dízimo entrava direto na conta do pastor

Três cheques entregues como dízimo à Assembleia de Deus de Catanduva de 2012 para cá foram depositados diretamente nas contas de dois pastores da igreja, entre eles o atual presidente, Lucas Martins, sem passar pela conta bancária da entidade. Além disso, outros seis cheques foram depositados em lojas de eletrodomésticos, pneus e um supermercado da cidade.

Lucas depositou R$ 300 em dois cheques, enquanto Aguinaldo Garcia Leandro, atual primeiro tesoureiro da igreja, depositou um de R$ 150. O total dos cheques soma R$ 1,3 mil. Foram doados por J.A.R., fiel da Assembleia há mais de 30 anos. Procurado na quinta-feira por telefone, ele não quis se manifestar.

Os cheques microfilmados constam do inquérito contra os dirigentes da Assembleia, incluindo Lucas e Aguinaldo. Em depoimento no dia 7 de outubro ao delegado Pedro Luís de Senzi Carvalho, a que o Diário teve acesso com exclusividade, o presidente da igreja admitiu a falta de controle e transparência na contabilidade da entidade.

“O dinheiro arrecadado fica no comando do presidente, apesar de ser conferido pelos dois tesoureiros, ficando o numerário depositado na tesouraria da igreja, sendo que não é feito nenhum tipo de ata e nem é divulgado o valor arrecadado”, disse.

Ainda conforme o depoimento, na conta bancária oficial da Assembleia são é” depositado alguns valores para cobrir pequenas despesas de água, luz, telefone, sendo que o montante do dinheiro fica na tesouraria.”Lucas disse à polícia que seu salário como pastor é de R$ 4.320 mensais, e que o presidente anterior, Paulo Sérgio Dutra de Moraes, “ganhava da igreja em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil reais de salário”. O atual presidente da entidade mora no residencial José Cury, bairro de classe média de Catanduva.

Ao Diário, Lucas confirmou que os cheques do dízimo custearam parte do seu salário. “Minha remuneração vem do dízimo, e calhou de ser esses dois cheques”, disse. Nem o pastor Aguinaldo nem seu advogado foram localizados na última semana.

Ação cível

Para ter acesso aos estatutos e atas da igreja, o grupo de pastores e fiéis rompidos com a atual direção da Assembleia tiveram de ingressar com ação cautelar de exibição de documentos na 3ª Vara Cível de Catanduva. O juiz deu cinco dias para que a igreja fornecesse os documentos. A decisão foi cumprida, e o grupo analisa os papéis.

Igreja de Rio Preto já foi palco de escândalo

Não é a primeira vez que a igreja Assembleia de Deus se envolve em escândalos na região. O atual presidente da igreja em Rio Preto, Wanderley Melo, responde a ação penal na 3ª Vara Criminal, acusado pelos crimes de formação de quadrilha, falsificação de documento, uso de documento falso e fraude processual.

Também são réus na ação outros quatro integrantes da igreja, incluindo Claudete de Jesus Perozin, viúva do pastor José Perozin. De acordo com a denúncia do promotor José Heitor dos Santos, no dia seguinte a 4 de janeiro de 2004, data da morte de Perozin, o grupo apresentou uma declaração supostamente assinada pelo pastor deixando o comando da igreja para Melo.

Parentes de Perozin, porém, desconfiaram do documento e levaram o caso à polícia. Perícia do Instituto de Criminalística (IC) comprovou a falsificação do documento. Na denúncia do Ministério Público, o promotor afirmou que o grupo desapareceu com a declaração original, “deixando apenas cópias do documento falsificado, o que, de fato, impediu a perícia de apontar qual dos denunciados falsificou a assinatura do pastor José Perozin”.

O advogado do grupo, João Mineiro Viana, negou que os réus tenham praticado ilegalidades no caso. “Vou provar a inocência deles no tempo oportuno.” As testemunhas de acusação já foram ouvidas. Faltam as testemunhas de defesa, cujo depoimento está marcado para fevereiro de 2014, e o interrogatório dos réus. Não há prazo para a sentença.

Diário Web.

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