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RAQUEL SODRÉ/O Tempo

A aparição de palhaços ameaçadores nas últimas semanas tem colocado em pânico muita gente mundo afora. Mas, para quem sofre de coulrofobia (fobia de palhaços), esse pavor pode acontecer em uma simples festa de aniversário. “A fobia é um medo exagerado, considerado irracional ou desproporcional. O medo é uma reação normal, a fobia é um transtorno”, explica o médico Arthur Kummer, professor de psiquiatria infantil da UFMG. O limite entre um e outro está nos impactos sobre a vida da pessoa. “A fobia traz prejuízo ou sofrimento para o paciente, ou para quem está a sua volta”, descreve Kummer.

Sofrimento e prejuízo são exatamente o que o medo de palhaços significa na vida da autônoma Lázaro dos Anjos, 23. “Meus amigos, quando veem um palhaço já ficam em pânico. Meu namorado, toda vez que vê, fica meio assustado, porque ele sabe o que eu posso fazer”, conta ela, dizendo que há duas possibilidades de reação frente ao medo: um desmaio, ou tentar correr e fugir a todo custo.

“Uns dois anos atrás, fui a um McDonald’s, e dei de cara com uma foto do palhaço que é mascote. Na mesma hora, eu fiz xixi nas calças e desmaiei”, lembra.

De outra vez, quando era adolescente, a escola em que estudava contratou um palhaço. “Na hora que ele entrou na minha sala, eu cogitei pular pela janela para fugir. Três pessoas me seguraram. Eu derrubei a pessoa que estava de palhaço, passei por cima dela, corri até o fim do corredor e desmaiei”, conta.

Tradicionalmente, o tratamento para fobias é feito com o método de dessensibilização. “Quando a pessoa se condiciona a algo, há um quociente de generalização”, introduz o psiquiatra Arthur Kummer. Ou seja, quem tem fobia de palhaços, sentirá algum grau de incômodo com elementos que remetam a ele, como o típico nariz vermelho, perucas, sapato grande etc. Assim, o paciente é exposto a esses itens, por exemplo, seguindo “esse gradiente de generalização, só que ao contrário (do elemento que incomoda menos, para o que incomoda mais)”, diz o psiquiatra.

Origem. De acordo com ele, as fobias são medos adquiridos. A maioria se dá por aprendizagem, pelo chamado condicionamento clássico, em que um objeto é associado a um estímulo negativo. A pessoa também não precisa se lembrar da origem do trauma.

Para o professor de circo Rafael Mourão, 29, que atua como palhaço, esse medo é construído quando as pessoas que se vestem de palhaço não dominam a técnica da apresentação. “Muita gente acha que, para ser palhaço, basta colocar um nariz, uma roupa colorida, pintar o rosto e ir, ficar gritando e fazendo movimentos bruscos. As pessoas fazem isso com a melhor das intenções, mas isso acaba assustando as crianças”, avalia.

Ele ressalta que nem todo palhaço é como os de circo. “Lá, a maquiagem tem que ser carregada, os movimentos são grandes, e ele tem que falar alto, porque o público precisa ver e ouvir de muito longe. Quando você vai a uma festa, ou um hospital, precisa ter sensibilidade de perceber onde você está e quem é o seu público”, ensina.

 

 

 

ESTILOS

Circo dos horrores explica tipo medonho

Assim como no teatro, o circo também tem diferentes estilos e linguagens. Um espetáculo do Cirque du Soleil, por exemplo, é muito diferente de uma apresentação dos tradicionais circos mambembes. Isso se reflete também em seus palhaços.

“Existe um estilo chamado circo dos horrores, que exibe as anomalias – como a mulher barbada. Nessa linguagem, o palhaço leva mais traços de horror”, comenta o professor de circo Rafael Mourão, que interpreta o palhaço Sufoco.

Ele aponta, ainda, que as lendas urbanas também contribuem para o medo associado à imagem do palhaço. “Principalmente nas cidades do interior, há as histórias do palhaço que captura criancinhas”, lembra.

Para ele, contudo, a essência dessa figura está ligada à ingenuidade. Além disso, é impossível separar o personagem do palhaço de quem o representa. “Ele, nada mais é do que a própria pessoa. Ela se coloca ali, mostrando suas dificuldades, colocando para fora seu lado mais primitivo, ingênuo, bobo, de criança”, diz Mourão. (RS)