É quase 13h desta sexta-feira, 28 de setembro de 2018. Sobre a mesa os alimentos. Em volta dela sobrinhos, irmãos e pais de Eliane Aparecida, de 41 anos, degustam o gosto amargo de sua agora eterna ausência. Ali não faltava apenas o corpo da menina, “a Loba”, como era carinhosamente também conhecida. Faltava seu sorriso estrondoso, cujos decibéis esculpem a canção de um pedaço do seu ser, da sua forma de existir que, por sinal, a tantos encantava.
Eliane, a única mulher dos filhos do casal Emília e Roque, que faleceu em consequência de uma parada cardíaca por volta das 23h30 desta quarta-feira (26) deixou em sua história capítulos que descrevem sua abnegação e amor ao próximo. “Ela deixava de fazer para ela para fazer pelos amigos e pela família”, disse um dos seus irmãos.
Eliane, solteira, fez da sua trajetória um caminho de acenos carinhosos àqueles que precisavam de um ombro amigo, de uma mão estendida. Ela, conforme um familiar contou, era conselheira, amiga e dedicada. Tanto assim que fundou o Grupo de Amigos do Cruzeirinho (bairro onde morava) e Quitandinha.
Evangélica da Igreja Quadrangular, Eliane, que trabalhou na extinta Couraço, por quase 13 anos foi funcionária de uma padaria no bairro Quitandinha, onde conquistou, também, muitos amigos e usufruía de total confiança dos patrões, devido ao seu caráter. “Eliane era uma pessoa companheira, prestativa, atenciosa, muito amiga”, disse uma colega de trabalho, que com ela conviveu nove anos.
Eliane deixou mais de trinta e cinco sobrinhos e quinze irmãos vivos de 18 que teve. “Ela era uma coluna da casa”, definiu um dos seus irmãos, emocionado. Cruzeirense, Eliane, conforme depoimento de outro membro da família, “chegava a passar mal pelo time do coração”. Ela chegou a ir ao Mineirão, por mais de uma vez, assistir a jogos do time. As gargalhadas da Eliane irão ecoar nos tímpanos do tempo que se reverterão em saudades para aqueles que com ela tiveram oportunidade de conviver e ouvir suas gargalhadas. “As risadas da Eliane marcaram ela”, disse um familiar.
A meiguice de Eliane e seu jeito de cuidar dos pais são outras marcas que a eternizarão. De acordo com um irmão, Eliane sonhava em comprar um carro para conduzir os pais, por quem tudo que estava ao seu alcance fazia. Até na reforma do imóvel, onde morava na rua 104, no bairro Cruzeirinho, Eliane contribuiu, exatamente pensando no conforto dos seus pais. “Ela abdicou da vida dela para cuidar dos pais”, revelou outro dos seus irmãos, destacando, também, que a jovem deixava, muitas vezes, de cuidar dos seus problemas para buscar solução para os de amigos que a procuravam. “Muitos amigos dela vinham aqui pra casa para conversar, tomar conselho com ela, acrescentou o irmão, que falou, ainda, que a irmã, se preciso fosse, chamava a atenção dos amigos querendo o bem deles.
As cortinas do tempo se fecharam. Do outro lado, está Eliane. Do lado de cá, na plateia, as lágrimas dos que ficaram sem sua presença, escrevem a melodia dos seus sorrisos, povoam o terreno da saudade onde vicejam recordações que farão de Eliane uma referência na sociedade onde viveu. Entre os que amargam a dor da sua partida, certamente estão seus patrões que, agora sem ela, terão que refazer seus ânimos, abalados por esta perda.
Menia que cresceu no trabalho, Eliane, nos instantes finais do seu fôlego de existência, pediu a uma sobrinha para observar o aparelho, no leito do hospital onde estava. Eliane dormiu e não acordou mais. Não partiu chorando. Se não partiu sorrindo, como sempre fazia, fechou os olhos e no sono apagaram seus sinais vitais. Já não existe mais para os moradores do Cruzeirinho, da Quitandinha, os clientes da padaria, a família. Já não existe mais no palpável que todos estes estes podem ver, mas não morrerá na saudade que todos estes sentirão. A moça que sorria dormiu e deixou muitos em lágrimas. Lágrimas de recordação e desejo que a vida não fosse de interrupções como é. Eliane não é mais aparecida. Ela está abrigada na eternidade. Despareceu aos olhos humanos para ser uma realidade no outro lado da vida.
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