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O pastor Ary Ferreira Coelho, 89 anos, já dedicou 57 anos de sua vida ao ministério e 43 anos à presidência da Assembleia de Deus. Agora, após um período de reflexão, ele decidiu deixar o cargo de presidente, para descansar e cuidar da família. Ele fica na presidência até a quarta-feira (13), quando haverá reunião extraordinária para eleição. “Estamos orando, colocamos a igreja em oração para que todos orassem, para que seja realmente apreciação de Deus, porque é muita responsabilidade”, afirmou.

Em entrevista ao DIÁRIO, ele relembra sua trajetória e fala sobre a decisão, mas, garante que continuará acompanhando a rotina das congregações e seguindo sua missão.Pastor Ary é natural de Entre Rios de Minas e tem 11 filhos, que ele faz questão de destacar que foram educados por sua esposa, Maria José de Andrade Coelho. “Tenho sido muito feliz, muito bem sucedido graças a Deus, não só pelo fato de ser mensageiro de Deus, mas também o privilégio de ter uma família, que por causa de servir o evangelho, não servi a família. Mas, Deus deu-me uma esposa que educou-os de maneira impressionante. Minha família é uma coisa extraordinária”.

Conte-nos um pouco sobre sua trajetória familiar.

Sou de uma família tradicional religiosa. Meu pai foi padre, ou melhor estudou no Caraça, chegou a vestir a batina e quando estava no auge ele desistiu. Voltou para a terra, casou-se, assumiu o cartório deixado pelo velho pai e foi tabelião durante 40 anos. No princípio foi um terrível perseguidor dos evangélicos, mas com o passar do tempo e muitas vezes cansado do pecado, resolveu dar cabo na vida. Com aquela oportunidade de ser um tabelião, ele aproveitou-se muito da posição e foi infelizmente um péssimo pai de família; possuiu três famílias, por sorte sou da família original. Foi perseguidor ferrenho dos evangélicos, mas os evangélicos gostavam dele. Passavam defronte o cartório todos os dias e deixavam um folheto debaixo da porta, alguns ele rasgava e jogava na cesta, outros riscava um fósforo e queimava. Mas, guardou o folheto do filho pródigo e cansado da vida, insinuado pelo adversário das nossas almas, desceu pelo quintal abaixo, e foi enforca-se. Fez o laço, amarrou na árvore e quando foi soltar o corpo para entregar-se à morte, enfiou a mão no bolso, leu o folheto do filho pródigo, e voltou imediatamente. Subiu o quintal, foi até onde estava minha mãe, chamou-a e disse: “Luzia, de hoje em diante sou uma nova criatura, vou ser crente, vamos ser crente comigo?”.  A essas alturas ela já estava tremendo, pois quando ele chegava assim era para bater, era muito violento.  Mas, a reposta dela foi essa: “Não, de jeito algum”. Naquele tempo se falava que nas reuniões de crentes tinha um balde preto, a pessoa subia de costas parede acima. Passou. Ela ficou católica e ele presbiteriano.

E isso provocou uma mudança na família?

A vida dele foi uma mudança extraordinária, com isso a igreja Presbiteriana cresceu muito em nossa cidade. Então ficaram, ele transformou a vida, mas a família não considerou que ele mudou a vida, só que mudou de religião. Infelizmente é isso, religião não leva ninguém para o céu, ninguém chega ao céu com uma faixa transversal dizendo: Sou assembleiano, católico, batista, presbiteriano. Chega através de receber uma transformação na vida, eles não viram isso. Mas o certo é que ele mudou, passaram-se 39 anos, a mamãe para um lado e ele por outro. Mas, ela sempre uma mulher extraordinária, muito caridosa, aposentou 15 velhos, sem receber deles nem a passagem. E não era rica, só pelo fato de gostar de fazer o bem.  Mudei para o Barreiro eles foram me visitar, nisso eu já era pastor, então visitei o dia todo, visitei os hospitais, os doentes, nos lares e à noite não tinha mensagem para transmitir à igreja. Abri a bíblia e encontrei a passagem que diz assim: “Eu sei as tuas obras e que não negaste o meu nome”. E ali Deus abriu as portas para mim e falei inspirado. Quando olho para o templo, ela estava na última cadeira chorando, naquele dia ela saiu convertida. Mas, o certo é que a nossa família foi tradicional religiosa. Tenho na família, dois padres e duas freiras. Apesar de ter sido criado na igreja era um vândalo, mas tive a oportunidade de chegar ao lugar que Deus quer que toda criatura chegue, ao conhecimento da verdade.

Segundo pastor Ary, Assembleia de Deus está sólida no campo de Caratinga

Quando se deu sua chegada a Caratinga?

Fui chofer do pastor Anselmo em Belo Horizonte durante 14 anos, depois passei a tomar conta de igreja, morei em Paracatu, em João Pinheiro, em João Monlevade, e depois vim para Caratinga. Cheguei aqui em 1975 e aqui estou até hoje. Dou graças a Deus pela cidade que me concedeu morar, até chegar ao ponto de pedir a minha jubilação. Porque Deus me deu muita saúde, apesar ter estragado muito a saúde na juventude, mas hoje sou um homem que posso dizer que não sinto nada.  Com 89 anos, ainda tenho uma agenda, que não é qualquer jovem que tem, vivo para a igreja e para a família e tenho sido muito feliz.  Muito bem sucedido graças a Deus, não só pelo fato de ser mensageiro de Deus, mas também o privilégio de ter uma família. Por causa de servir o evangelho, não servi à família, mas Deus deu-me uma esposa que educou-os de maneira impressionante. Minha família é uma coisa extraordinária. Então essa tem sido a minha carreira.

Como era o campo de Caratinga naquela época e como o senhor tem acompanhado as transformações, até os dias de hoje?

Cheguei aqui e fui muito bem recebido, isso é coisa do povo de Caratinga mesmo, saber recepcionar aqueles que chegam. E uma igreja muito boa, bem adestrada, mas naquela época, estava com mais ou menos cinco mil crentes, espalhados numa área de 600 km. Dali pra cá, começamos a batalha e hoje pela misericórdia de Deus temos um campo amplo no estado de Minas, trabalho na Ucrânia, em Portugal;  uma cidade de nome Crateús, no Ceará, onde tem na faixa de 80 mil habitantes e ali estão tendo um grande sucesso. E hoje contamos com mais ou menos 42 mil membros da igreja e um patrimônio extraordinário. Sou um pouco vaidoso no sentido de construir templo, gosto de fachada, não é porque a gente tem potência e pode fazer e acontecer, é com esforço dos irmãos, contribuição dos dízimos e ofertas e gosto muito de ser rigoroso, nós não temos uma fortuna no banco, temos uma conta que gira, porque tudo que fazemos empregamos enviando obreiros, como também construir. A fachada não deixa de ser atração para o público, se a gente faz um chalezinho com duas portas não chama atenção. Quando se faz um templo com fachada, perguntam: ‘Que construção é essa?’. Não deixa ser uma atração. Se bem que a pessoa deve ser atraída pelas coisas boas do evangelho, que produz a salvação, porque Paulo testificou desta parte dizendo: “Eu não me envergonho do evangelho, porque é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”.

Pastor Ary, e sua esposa Maria José, que ele faz questão de ressaltar a dedicação à família (Foto: Arquivo Pessoal)

O senhor é muito respeitado em Caratinga. Como é sentir esse reconhecimento?

Então estou aqui, os caratinguenses estão me tolerando (brincadeira). Vivo muito feliz aqui, porque apesar de ser um indouto, não tenho curso superior, sou muito considerado aqui em Caratinga, tanto pelos velhos, quanto pelos novos.  A pessoa tem que ter sempre um sorriso no rosto para passar para os outros, também ser tratável, ser educado, não agir com aspereza. Acho que encontrei o lugar onde pretendo residir até entregar meus ossos à sepultura. Sou muito feliz por Caratinga, é uma cidade de progresso formidável e o recurso estudantil como poucas. Acho que caí no lugar certo.

Quais projetos o senhor conseguiu colocar em prática e quais desejou fazer, mas não foi possível?

O dinheiro da contribuição dos crentes colocamos tudo em construção e envio de obreiros. Gostaria de fazer mais coisas, como construir em Caratinga um ginásio esportivo para atender os eventos grandes, como o Congresso de Missões. Temos sido muito bem sucedidos, mas temos que alugar tendas. Tentei arrumar com a municipalidade um terreno, mas a reposta que deram-me foi que para entidades religiosas, a prefeitura não contribui. Infelizmente é assim mesmo, para esportes, ou até mesmo casas de tolerância, tem lugar, mas para realização das coisas de Deus é com muita dificuldade. Confiando que alguém pudesse ajudar, a municipalidade, até mesmo o estado, mandei fazer uma planta, uma coisa formidável, para comportar cinco mil pessoas, não teve jeito. Mas o certo é que eu gostaria de fazer mais coisas, as possibilidades não permitiram, mas todavia posso estar contente, porque o que pudemos fazer, fizemos. A população de Caratinga é considerável, em todos os bairros da cidade temos um templo, os maiores são no Bairro das Graças, Esplanada e Limoeiro. Temos batalhado para evangelizar e cumprir nossa missão.

Como foi a reflexão e decisão de deixar a presidência da Assembleia de Deus?

Acabo de dizer para vocês que tenho saúde, mas devido à idade, a gente começa a ficar um pouco esquecido. Às vezes estou no púlpito pregando, vou na reta, lembro de um exemplo, quando vou buscar e volto, esqueci o que estava falando. Vai indo nos cansamos, o físico está bom, mas a mente não. E também é tempo de passar oportunidade para outro, pessoa mais nova, cheia de vigor, que tenha compromisso com Deus e possa prosseguir a jornada. E também pelo fato da esposa estar doente e eu ficar mais perto dela. Mas não deixarei de trabalhar, enquanto puder, tiver força, farei visitas às igrejas e ficar aqui jubilado.

Já se sabe quem poderá assumir a presidência?

Sim, já se tem em mente. Tenho um filho que é vocacionado e por sinal, não é por ser meu filho, é um jovem educado, esforçado. Um dos requisitos que nós desejamos ver na pessoa que é candidata é ser temente a Deus, de oração. Mas, não estou forçando, para não fazer como que aqueles que estão no governo e querem colocar alguém da família. O meu critério é uma pessoa que na realidade tenha chamado de Deus e responsabilidade. Existem outras pessoas no pensamento, porém meu filho está na eminência.

Poderia dizer o nome deste filho?

Elizeu Elias Ferreira Coelho.

Qual o desafio que o novo presidente terá?

O trabalho tem desafios em todo lugar e em todo tempo, não é fácil. A igreja evangélica, ainda não é uma igreja que predomina, tem dificuldade, apoio, rejeição, carinho, mas também perseguição. Escolheremos a pessoa que tenha mesmo vocação, chamado divino, tenha também uma vida apreciada pela sociedade, que tenha crédito. Mas é uma obra tão maravilhosa, que o desafio não impede nossa carreira. Prosseguimos para alcançar aquilo que é o nosso alvo, a salvação das almas. Louvo a Deus porque alguns dos companheiros sempre dizem: ‘Pastor, realmente o senhor é um desbravador’. Hoje o campo está com 273 congregações espalhadas num círculo de 600 km. O que dificulta pra o próximo candidato é a mudança que tem a vida. A Assembleia de Deus sempre foi conservadora, mas hoje as coisas estão mudando, porque têm os tradicionais, graças a Deus, antigamente não foi assim. A igreja nunca paralela ao mundo, sempre vai andando, o dia que fica paralelo é tudo o mesmo. O mundo está dominado pela indecência, bandidagem, egoísmo, imoralidade, individualismo, ninguém quer obedecer ninguém. O apocalipse está sendo revelado agora, e o povo parece não estar muito atraído por isso. O mundo com sua imoralidade não está fazendo outra coisa, senão preparar o trono para o anticristo. Ele vai reinar até que aconteça o encontro dele com Cristo e ele será desfeito pelo soprar da boca de Cristo.

 

Qual sua mensagem para os caratinguenses?

Na minha peregrinação evangélica, Caratinga é uma das que mais achei apoio, devo a Caratinga até mesmo a educação dos meus filhos. Se eu entregar meus ossos aqui em Caratinga, ficarei muito gratificado. Foi onde criei minha família, tive muito êxito, o trabalho que mais vi progresso foi aqui. Então agradeço, a todos, meu muito obrigado. Sempre fui respeitado aqui e sempre gostei de cumprimentar todo mundo.

Fonte Diário de Caratinga

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