O amazonense Paulo Barroso, de 48 anos, é categórico: nunca viu nada igual ao que acontece, hoje, com o lixo em São Gonçalo:
— Não dá nem para respirar, porque se não é o cheiro ruim, é a fumaça. E olha que moro aqui há dez anos já.

O odor que se sente nas ruas deixa claro que a situação da coleta de lixo ainda está longe da normalidade. Depois de três semanas com deficiências no serviço, a prefeitura iniciou uma força-tarefa para exterminar o problema, mas quem está mesmo na mira, do Ministério Público, é o prefeito Neilton Mulim. O MP moveu uma ação pedindo o restabelecimento imediato do serviço, sob pena de uma multa diária de R$ 10 mil para o governante.

— A multa é para ele. A população já está passando por uma situação muito difícil. Eu me reuni com o prefeito e com as empresas responsáveis há alguns dias. Esperei uma providência, mas olha como a cidade está — disse Renata Neme, promotora de justiça de Meio Ambiente de São Gonçalo.
A ação está sendo analisada pela Justiça, que deve dar um parecer sobre o acolhimento da medida nos próximos dias.

O processo que corre no MP vai além da medida emergencial. Também obriga a cidade a desenvolver um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Com o documento, o município faria jus ao recebimento de dinheiro da União para tratar do lixo.
— Esses recursos poderiam servir para o pagamento das empresas de limpeza, que estão com repasses atrasados — garantiu Renata.

Somente o aterro sanitário no Anaia, operado pela Foxx Haztec, trabalha com uma dívida de R$ 70 milhões, o equivalente a 40 meses de atraso.
— O risco à saúde é grave, e vai desde a atração de vetores de doenças, como ratos, até contaminação direta por tétano e hepatite. Há ainda os problemas respiratórios — explicou Carlos Silva Filho, diretor da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública, advogado especialista em questões ambientais.

Há quem ache normal
A Prefeitura de São Gonçalo acredita que, até sábado, 65% da coleta do município estarão normalizados. A resposta entra em conflito com a da Maquise, empresa contratada para o serviço. Esta garante que o serviço está sendo realizado normalmente e que, apenas nos dias 17 e 18, o trabalho ficou comprometido por conta de uma paralisação do aterro sanitário.

Já o aterro, operado pela Foxx Haztec, afirma que não houve paralisação, mas lentidão no trabalho causada pela quebra de equipamentos. Sem receber da prefeitura, a empresa alega que não consegue fazer reparos nas máquinas, já que não pode pagar pelos serviços.
Nos últimos seis dias, de acordo com a prefeitura, foram retiradas das ruas 7,5 mil toneladas de lixo em 52 dos 90 bairros. O órgão não comentou a ação e as demandas do MP. Informações sobre a coleta podem ser obtidas pelo disque-lixo: 2199-6378.
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