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O corpo de Ana Clara Gonçalves, de 5 anos, que estava desaparecida há sete dias, foi encontrado enterrado na tarde dessa sexta-feira (18) em uma plantação de eucalipto às margens da BR-494, na zona rural de Carmo da Mata, na região Centro-Oeste do Estado.

A Polícia Civil chegou até o local após o padrasto da garotinha, Alex Júnior Alexandre, de 27, indicar o ponto exato de onde ela estava enterrada. A princípio, o suspeito alegou que a vítima bateu a cabeça de forma acidental e não teria resistido ao ferimento.

Porém, o padrasto apresentou várias versões de onde a menina teria batido a cabeça. Em uma delas, ele diz que a criança teria se acidentado em casa. Como as versões são contraditórias, a Polícia Civil vai aguardar os laudos para tentar identificar como a criança teria morrido e em qual local aconteceu o crime.

O corpo da garotinha passa por necrópsia na manhã deste sábado e as causas do que teria provocado a morte só serão esclarecidas após o resultado do exame da perícia. A conclusão final dos laudos fica pronta em 30  dias úteis, mas pode ser que o delegado tenha acesso a uma versão antecipada. 

O homem está preso temporariamente desde que câmeras de monitoramento localizadas a 30 metros da casa da família terem demonstrado que Ana Clara não deixou a residência a pé, dessa forma, só poderia ter saído de carro. As imagens mostram ainda que o único a deixar a residência utilizando um veículo foi o padrasto da vítima, que a partir daí se tornou suspeito.   

As buscas pela garotinha foram iniciadas, no último sábado (12), quando foi vista pela última vez. A mãe dela, Marciana Pereira da Cruz, de 23, alegou ter tido contato com a criança pela última vez nesta data quando impediu que Ana Clara fosse até a casa de uma amiguinha. 

Entenda

Nessa sexta-feira (18), a repórter Carolina Caetano esteve na cidade e conversou com os envolvidos. A forma fria como o padrasto de Ana Clara trata a situação e se refere a ela, sempre no passado, reafirma as suspeitas de que ele teria envolvimento no crime.

“Temos 95% de certeza do envolvimento do padrasto no desaparecimento, mas ainda não sabemos a motivação. Porém, ele nega que tenha saído com a enteada. O suspeito mente mesmo diante de provas inquestionáveis”, afirmou o delegado responsável pelo caso, Douglas Camarano, à repórter.

Mãe da criança. Marciana compareceu a delegacia na manhã dessa sexta (18) para saber se a polícia tinha alguma notícia da filha. “Não sei o que pensar. Quero que isso acabe logo e que a Ana apareça viva ou morta”, disse à reportagem. 

Casada a dois anos com Viana e com um filho dele de 8 meses, Marciana se manteve reservada ao ser questionada pela reportagem sobre possíveis brigas e agressões sofridas pelo companheiro. 

Em relação a suspeita de envolvimento do marido no desaparecimento da criança, Marciana limitou-se a dizer que “ninguém conhece ninguém de verdade”.

Relação. O pai de Ana Clara paga pensão alimentícia, mas tem pouco contato com a criança. “Sempre que queria pegá-la, a mãe demorava para liberar. Para evitar confusão, deixava de passar os fins de semana com ela”, explicou o moldador Crispim Gonçalves Viana Neto, 28. Ele também foi já prestou depoimento.

A reportagem tentou contato com Viana na manhã deste sábado, mas ele alegou não ter condições de fala com a imprensa. Nessa sexta, ele ainda tinha a esperança de encontrar a filha viva. Durante a semana, o moldador foi liberado do serviço para acompanhar as buscas pela filha.

Parentes de Neto saíram de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e também deslocaram para Carmo da Mata para ajudar a encontrar a criança. A madrinha de batismo da menina, Ilza Gonçalves Viana  de 55 anos, contou que o marido dela esteve com a afilhada em agosto. “Ela fez aniversário e a mãe realizou uma festinha. Não deu pra vim, mas meu companheiro esteve aqui e disse que, aparentemente, ela estava bem. Ele pegou a menina no colo e ainda brincou: ‘se a sua mãe te bater, conta para o padrinho”, lembrou a cozinheira.

Perfil do suspeito

Em conversa com a reportagem de O Tempo, a mãe do Padrasto de Ana Clara, que se identificou apenas como Cidinha, contou que o filho é muito reservado, mas desconhecia qualquer comportamento explosivo dele. “Alex é  assim: não puxava papo, mas se você conversa, ele fala”, disse.

O jovem, que, pelos vizinhos era considerado “uma pessoa estranha”, tinha um registro na polícia por violência doméstica contra a ex-companheira. Em relação a esse caso, Cidinha minimizou. “Essa mulher era mais velha que ele e morria de ciúmes. Se ele virasse para o lado e passasse uma garota, ela virava a mão na cara dele. Chegou uma hora que ele não aguentou”, explicou a dona de casa, que vive com o pai.

CAMILA KIFER/ CAROLINA CAETANO/ O Tempo