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Acusado de contaminar mulheres com o vírus HIV e indiciado pela  16ª DP, na última quinta-feira, por contágio de moléstia grave , Renato Peixoto Leal Filho, de 43 anos, conversou por telefone com o EXTRA para contar sua versão dos fatos. Ele admite ser soropositivo e ter transmitido a doença para duas ex-companheiras, mas nega as acusações feitas na delegacia por duas supostas vítimas, que relataram uma insistência de Renato para manter relações sexuais sem o uso de preservativo e sem nenhum tipo de aviso sobre sua condição de saúde.

— Eu nunca fiz isso (transar sem comunicar ser portador do HIV). E ninguém veio pra mim, falar comigo, que foi contaminada — garantiu.

 Renato credita as acusações a uma vingança de uma ex-namorada, que, após contatos via internet, mudou-se de outro estado para o Rio de Janeiro com o intuito de que os dois morassem juntos. O relacionamento começou pouco antes da última virada de ano e duroucerca de dois meses, quando a jovem de 23 anos retornou para sua cidade. Ao EXTRA, ela contou ter descoberto que o então companheiro era soropositivo ao encontrar um exame em seu apartamento.

 

Renato conversou com o EXTRA por telefone: 'Elas sabiam', diz
Renato conversou com o EXTRA por telefone: ‘Elas sabiam’, diz Foto: Reprodução

 

— Eu o confrontei, mas primeiro ele negou. Só com muita insistência admitiu — disse ela, que ainda passou algumas semanas morando com Renato: — Ele era muito obsessivo e agressivo verbalmente. Eu tinha medo. Acabei indo embora escondida, com a ajuda de uma amiga.

Já Renato deu versões diferentes para o ocorrido durante a conversa de pouco mais de meia hora, dividida entre duas ligações. Primeiramente, informou ter avisado desde o início do relacionamento que era soropositivo — “quandou ela soube, falou que não teria problema transar inclusive sem camisinha, porque queria ser mãe”, frisou. Minutos depois, entretanto, fez um relato semelhante ao da própria jovem:

— Ela descobriu aqui em casa, através de exames da minha ex-mulher. Ela descobriu e eu abri o verbo. Até então, eu não tinha comunicado — reconheceu, antes de acrescentar: — Expliquei pra ela que, no meu caso, como me trato há muitos anos, o vírus é praticamente… o meu médico é um dos melhores do Brasil, eu mesmo pergunto sempre qual é o risco de pegar caso minha camisinha estoure e eu não perceba, e ele falou que é 99% de chance de não pegar. Isso porque sou um cara que se trata, porque tenho um vírus paralisado, praticamente morto. Ele não está reagindo. Não fico doente há muitos anos.

 

Renato é morador da Barra da Tijuca
Renato é morador da Barra da Tijuca Foto: Reprodução

 

Pouco mais tarde, porém, Renato voltou para a versão inicial:

— Eu já tinha comentado com ela antes (de o exame ser encontrado). Não sei se ela não se ligou muito bem, mas deixei claro, sim.

Sobre o risco de contaminar outras mulheres, Renato ainda acrescenta:

— Hoje a promiscuidade está muito grande, né. As garotas vão para a boate, saem, vão para o carrinho e transam. “Dão” mesmo. E às vezes um cara tem (o vírus HIV), mas não sabe e não se trata. Então, o risco de pegar com um cara desse é muito maior do que comigo, porque eu me cuido.

 

Renato Peixoto Leal Filho tem 43 anos
Renato Peixoto Leal Filho tem 43 anos Foto: Reprodução

 

Mulheres se reuniram

As investigações tiveram início no fim de agosto, quando uma das supostas vítimas procurou a polícia para denunciar Renato. Já na 16ª DP, que assumiu o caso, uma segunda mulher foi ouvida e relatou o mesmo modo de agir. Segundo elas, Renato aborda moças pelas redes sociais e as convence a sair. Posteriormente, sem informar sobre a doença, insiste para que o sexo seja feito sem o uso de preservativo.

Meses antes do registro de ocorrência ser feito, a jovem de 23 anos que morou com Renato começou a procurar outras mulheres que teriam se envolvido com ele, com o intuito de alertá-las. Duas delas também conversaram com o EXTRA, e confirmaram ter mantido relações sexuais com o suspeito, sem preservativo e sem serem informadas de sua condição. Nenhuma das três, porém, chegou a ser contaminada pelo HIV (veja logo abaixo o depoimento em vídeo de uma delas). Elas reuniram áudios com ameaças feitas por Renato e vídeos, também enviados às supostas vítimas e entregues à polícia, em que ele aparece transando sem camisinha com várias mulheres.

— O contágio, nesse caso, é secundário. São pessoas expostas a um risco grave — explicou o delegado Marcus Vinicius Braga, titular da 16ª DP.

Nesta sexta-feira, através de um comunicado divulgado à imprensa, o advogado de Renato, Rafael Faria, reafirmou que seu cliente “está sendo vítima de acusações infundadas”. Segundo a nota, ele “desconhece e nega ter transmitido doença sexualmente transmitida, em que pese seja portado do vírus, pois sempre se cuidou”. Ainda de acordo com o advogado, a principal preocupação de Renato, neste momento, é “desconstruir a imagem mentirosa criada em seu desfavor”.

 Veja outros trechos da entrevista com Renato:

Quando você descobriu que era soropositivo?

“Em 1999, mas sempre me tratei. Fiz uma tatuagem pouco antes disso, não foi em estúdio, conheci um cara no carnaval. Ele esterilizou (a agulha) no fogo, no isqueiro. Foi um negócio meio primata. Mas a gente transava sem camisinha direto, então não posso afirmar (que foi isso).”

O que você tem a dizer sobre essas acusações?

“Eu fui diretamente na polícia, por vontade própria, assim que fiquei sabendo do registro de ocorrência. Foi uma picuinha de uma ex-namorada, que veio de (cita o estado da jovem de 23 anos). Nós nos conhecemos pelo Instagram, trocamos Facebook. Daí, passamos para o Skype, inclusive com relacionamento sexual.”

Por que você acredita que se trata disso?

“Ela descobriu uma relação sexual que eu tive com uma menina, quatro meses depois que já tinha ido embora. Chegou a mandar mensagem para mim no Skype — que infelizmente apaguei, não pensei que poderia acontecer tudo isso — dizendo que ia acabar com a minha vida. Ela tinha uma coisa minha particular, que é a minha doença, e usou isso.”

A despeito dessa ex-namorada, duas outras mulheres estiveram na delegacia relatando a mesma situação: conheceram você pela internet e foram convencidas a manter relações sexuais sem camisinha, sem que você avisasse ser portador do vírus HIV…

“Não lembro disso, não.”

Elas também alegam que você as enviou vídeos mantendo relações sexuais com diversas mulheres, sempre sem o uso do preservativo.

“Nem sou eu, no caso.”

Mas em grande parte das imagens é possível ver seu rosto, ouvir sua voz…

Renato interrompe a conversa afirmando ter que atender uma outra ligação. Minutos mais tarde, em novo telefonema, responde sobre os vídeos: “Não tenho nada a dizer, não. Isso aí é tudo picuinha. Não sei o que elas estão pretendendo.”

Você tem conhecimento de mulheres que se contaminaram com o vírus HIV após manterem relações com você?

“Não, ninguém veio pra mim, falar comigo, que foi contaminada.”

Mas em um áudio, que também teria sido enviado por você a essas mulheres, você diz ter conhecimento sobre duas ex-companheiras que teriam contraído a doença.

“Então, se você já sabe, por que está fazendo essas perguntas?”

Para saber se você confirma ou nega. Para você poder, se for do seu interesse, se manifestar.

“Eu vou me manifestar contigo de olho a olho, homem a homem, sem gravação.”

Mas eu vou gravar sempre.

“Agora não estou instruído para falar, só com o meu advogado.”

Mas foi seu advogado que passou o seu contato…

“O meu depoimento na polícia é exatamente a verdade. Contaminei duas mulheres, que eu saiba. E elas me aceitaram. Ponto final.”

E as duas sabiam desde o início, antes da primeira relação sexual, que você era soropositivo?

“Sim, sabiam. Me aceitaram desde o início, e continuaram comigo. Aí, acabaram se contaminando. A primeira foi fatalidade, inclusive, porque a gente se protegia. Já com a outra, ela queria ter um filho e pedia para transar sem o preservativo. O mesmo, inclusive, aconteceu com a menina que deu início a isso tudo (a jovem de 23 anos, com quem morou por dois meses)”.

E em relação à mulher que fez o registro de ocorrência contra você?

“O que essas mulheres estão fazendo é uma farsa. Ela só foi registrar dois meses depois. Por quê?”

Ela afirma que é porque só soube pelo contato das outras mulheres que você é soropositivo…

“É mentira. Ela sabia desde o começo. Quando a gente gravou um vídeozinho, ela virou pra mim e falou: ‘Vamos gravar sem camisinha’. Foi a única vez que transei com ela sem camisinha. Cinco minutinhos, só, pra fazer um vídeozinho rápido.”

Então você costuma gravar vídeos?

“Só reconheço esse.”

E costuma transar com mulheres sem preservativo?

“Você já me vez essa pergunta. Falei que não.”

Jornal Extra