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O diácono Antônio Rodrigues dos Santos, da Assembleia de Deus do bairro Olaria, em Timóteo, morreu aos 87 anos, às 8h15 do último sábado (30), em sua residência, na presença de 4 dos seus filhos, genro e neta. O diácono, após um sorriso para a esposa, Maria Sebastiana da Silva, fechou os olhos para abri-los somente na eternidade. Ao ato seguiu-se a dor e a angústia dos que presenciaram a cena.

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Ouvindo a leitura Bíblica feita pelo seu irmão, pastor Messias (também falecido) no culto pelo seu aniversário, em 2011

 Seu semblante, agora pálido, como uma nuvem  dispersa no céu, denunciou o fim do seu fôlego de vida. Os cabelos ralos, desalinhados, brilhando como ouro refinado,  tocavam-lhe o rosto  enfeitado por um bigode, zelosamente cultivado e que se tornou em uma das descrições de sua aparência. Naquele leito, onde estava há 3 dias, o patriarca dos “Rodrigues”, viu chegar ao fim a contagem dos seus gloriosos dias.

agosto 2011

A dor daquele momento se misturou com as lembranças que começaram a aflorar, de uma existência marcada pela parcimônia de palavras e abundância de gestos. Existência pautada na honestidade, polidez, transparência, retidão, conduta ilibada e moral intocável. Sua estrutura de servo de Deus não se estremeceu diante das hecatombes provocadas pelos modismos que têm revirado conceitos e criado teses, absurdas para quem tinha sincronia com a realidade de um Deus imutável. Aquele diácono, servo do Deus altíssimo, não se moldou às circunstâncias para ser aceito por quem quer que fosse.

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Chegando, com a esposa, à Escola Dominical

A notícia da morte de Antônio Rodrigues dos Santos caiu como  bomba sobre a família. Afinal, um dos esteios da família estava sucumbindo diante da voracidade de uma enfermidade, um câncer na bexiga, detectado há cerca de dois anos, que estava sob absoluto controle. Os caminhos que deveriam ser trilhados pela família para preservar a vida do diácono foram rigorosamente percorridos e nenhum recurso faltou para que se pudesse criar conjecturas ou erigir culpas. O carinho da esposa, dos filhos, netos, sobrinhos, vizinhos e família, como um todo, se agigantava a cada sinal de que a batalha pela vida exigia mais munição, mais garra, mais coragem.

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Recebendo das mãos do pastor Eustáquio Lopes certificado como aluno assíduo da EBD

A vida, na sua ironia do incerto que todo mundo sabe ser certo, alcançou Antônio Rodrigues dos Santos e seus dias de vida se concluíram, de modo digno de uma águia que na altivez da sua dimensão, sabe se encurtar para não ser grande e ser grande para não se apequenar.

FESTA DOS PAIS 2012
Cumprimentado pelo pastor Adão Araújo na festa dos pais em 2012, na AD do Olaria

Antônio Rodrigues dos Santos, natural de Sabará, em Minas Gerais, onde nasceu aos 23 de agosto de 1927, filho de Antônio Rodrigues Filho e Jovita Ribeiro, ao buscar pela sobrevivência, deixou a cidade rumo a Timóteo, onde chegou por volta de 1.950. Ingressou na então Cia. Acesita, com o registro de 15040, no dia 20 de dezembro de 1951. Seu empenho e honestidade no exercício de suas funções de metalúrgico da área de barras grossas foram responsáveis pela sua condução ao cargo de controlador de serviços, em cujas funções aposentou-se em 8 de março de 1983. Viveu 57 anos com a esposa Maria Sebastiana da Silva, com quem teve 6 filhos, dois homens e 4 mulheres, que lhe renderam 17 netos e 12 bisnetos.

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Com a neta Maria Eduarda, no seu aniversário de 1 ano

Uma de suas grandes preocupações era o cuidado com a família. Dava tudo que tinha por ela e não media esforços para ver todos bem. Nesta sua decisão não entrava o ilícito nem o inconfessável.  Perguntava pelos netos, citando seus nomes. O coração largo era como um raio x e, no olhar perspicaz que tinha, era capaz de detectar necessidades pelas quais seus ente queridos estivessem passando. A esposa era sua fiel confidente, a quem recorria para decisões importantes. Não era tirano. Não era amargo e não era indigesto para os diabéticos, diabéticos de concepções insanas que vislumbram na pusilanimidade sinal de doçura.

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Com a esposa e o neto Willy, no seu casamento

A retidão era uma das bússolas que nortearam sua trajetória. Trajetória sem vestígios de lama. Não se intimidava com adversidades e seu barco não se sucumbia ante os temporais. Nadava como fosse preciso para avistar um porto seguro se as marés ameaçassem sua caminhada. Seu barco tinha âncora.  No silêncio do seu aposento encontrava o estalar de um raio direcionador para eventuais interrogações. Sem erudição, fazia dos pensamentos verdadeiras lições de sabedoria, capaz de acordar o culto desprovido de senso e o indouto equivocado em suas ilusões. Sua seriedade não era hipocrisia. Era autêntica, como autêntica era sua disposição de não ofender ou maltratar. Não fazia desses comportamentos moeda de troca para elogios baratos nem caros. Elogios eram conquistas da sua definição como ser e não a imposição de manobras comportamentais. Ele não era ele e suas circunstâncias. Ele era ele. Não foi fariseu em suas concepções e corajosamente vivia o que pregava. Era avesso a mentiras e a jeitinhos para sair-se bem.

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A esposa Maria Sebastiana da Silva, sua companheira de 57 anos

As lembranças que este homem deixou dilaceram a alma e solidificam a certeza de que os fortes constroem torres até depois da morte. Torres de exemplos fartos de honradez e postura digna de um ser que colocou em Deus a razão da sua existência.

Metódico, conservava o hábito de anotar datas e fatos que lhe chamavam a atenção. Os mínimos detalhes que para muitos poderiam passar despercebidos, para ele eram notas de uma melodia que interpretava seu cuidado com os reflexos dos fatos.

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Cantando no casamento do neto Bernardo

Como cidadão primava pelo seu nome. Cumpridor dos seus deveres, ficava horas calculando custos para não endividar ou atrasar-se em seus compromissos. Zelava pela sua reputação. Não se esmerava em cuidar de si. Sua vida era cuidar de quem o rodeava.

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Com suas duas irmãs, Rosa e Maria

Como servo de Deus manteve-se irrepreensível. Fiel aluno da escola Bíblica Dominical, acordava bem cedo para preparar-se para a atividade. Faltando mais de uma hora para sair de casa, já estava pronto, de posse da Lição Bíblica e a Harpa Cristã. Ir à EBD era um dos seus prazeres. A assiduidade lhe rendeu, certa vez, um destaque no informativo ADORE, que circulou durante 5 anos na Assembleia de Deus do bairro Olaria, produzido por um filho seu. Admirador do semanário, nada comentou quando deixou de lê-lo devido à sua extinção, sem explicação.  Não era assíduo aos cultos, à escola, às reuniões porque detinha cargos ou recebia afagos. Isso não alimentava seu ego e nem carecia disso para manter seus compromissos na obra de Deus. O que lhe causava ímpeto para estar na casa de Deus era a certeza de que estava sendo visto por Ele. Essa certeza, aliás, foi um dos ensinamentos que transmitiu aos filhos. Antônio Rodrigues não se flexibilizou na atitude de ser leal a Deus e seus princípios. Não moldou sua postura de fiel servo do Senhor às “definições novas” que esse comportamento vem recebendo. Não acompanhou ventos de doutrina e os heréticos não podiam contar com sua audiência. Suas convicções vinham de sua intimidade com Deus e não do arcabouço louco de enunciados temporários, sempre ao gosto dos fregueses. Se ouvisse algo novo, não hesitava em conferir na Bíblia a procedência ou não daquilo. Se não conferisse, não alardeava a descoberta, mas vivia a solidez de que suas crenças tinham fundamentos.

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No sepultamento do irmão, o pastor Messias, em 2013

Não entendeu necessário saber sobre tudo nesta vida. Sua alegria, sua cultura, era saber sobre a salvação, sobre o evangelho. Se alguém o procurasse para qualquer outro assunto que não esse, ouvia com educação, mas apenas ouvia, na maioria das vezes. Mas se o assunto fosse sobre Deus, sobre a Bíblia, certamente Antônio Rodrigues dos Santos seria um excelente interlocutor. Não era raro vê-lo explicando a algum neto passagens Bíblicas. A seiva das suas certezas com relação aos ensinos de Cristo era a clorofila que adornava sua fé inabalável. Não espantava com “sucessos” no evangelho. Palavras bonitas de “paladinos” não lhe encantavam. Preferia a simplicidade do Criador em seus ensinamentos. Não se deixava levar pelos críticos e não se aliava aos que o abordavam com elogios. Tinha a honestidade como um dever e não como virtude.

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Pelas manhãs os filhos acordavam com a voz altissonante do pai orando em seu quarto, em pé, com a Bíblia na mão.  Com a frase “Senhor nosso Deus e nosso Pai, Pai de nosso amado e salvador Jesus Cristo”, iniciava suas orações, sempre não muito curtas. Não perdia uma oportunidade de falar sobre Jesus. Nas reuniões da família, o tempo para sua mensagem e hino era sagrado. Nenhum tipo de reunião justificava abrir mão de ler a Bíblia e cantar. A Harpa Cristã era seu hinário preferido. Sabia hinos dele que muitos não sabiam. Em uma das oportunidades últimas que teve para cantar, no aniversário da Neta Maria Eduarda, em março passado, cantou o hino 297, “Ali quero ir, e tu?”, de Paulo Leiva Macalão. Sem ser acompanhado, cantou sozinho e disse, numa verdadeira oração: (Veja o vídeo)

“Jesus me falou dum formoso lugar;

Ali quero ir, e tu?

Aonde os salvos irão desfrutar;

Ali quero ir; e tu?

Pois Jesus as mansões nos foi preparar;

Ali quero ir; e tu?

Aonde a morte não pode chegar;

Ali quero ir; e tu?

 

Ao céu quero Ir

Ao céu quero Ir,

Ao céu quero ir; e tu?

Ao céu quero ir;

Não queres tu ir?

No céu quero ver Jesus!

 

As portas são jóias, o mar de cristal;

Ali quero ir; e tu?

É Cristo a luz do país celestial;

Ali quero ir; e tu?

Os que lá vão entrar, jamais morrerão;

Ali quero ir; e tu?

Aonde termina a tribulação.

Ali quero ir; e tu?

 

 E quando navegue a nau de Sião,

Ali quero ir; e tu?

Ao dar-se à vela, pra essa mansão,

Ali quero ir; e tu?

Quando vão coroar a Cristo, também,

Ali quero ir; e tu?

E quando os coros disserem: “Amém”.

Ali quero ir; e tu?

Ele, ao cantar esse hino, expunha um  desejo que se cumpriria…meses depois, numa manhã de sábado. Cessou, como dizia ao cantar, toda tribulação. Suas dores tiveram fim e seu sonho de ver Jesus é, agora, uma realidade.

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A morte do diácono Antônio Rodrigues dos Santos empobrece a estante dos pioneiros vivos da Assembleia de Deus de Timóteo. Ele foi um dos pilares de sustentação desta denominação, condição que ele nunca reivindicou nem transformou em instrumento de barganha para gestos de bajulação ou carinhos postiços. Nunca buscou holofote e seu brilho vinha do lume inconfundível do seu caráter. Cargos ministeriais não faziam parte dos seus projetos. Desejava, isso sim, pregar o evangelho de Cristo. Não foram poucas as vezes que declarou para a família esse desejo. “Para mim não tem problema se eu apanhar por estar pregando o evangelho”, dizia. Não tergiversou em dedicar parte dos seus dias ao diaconato. Com amor, fazia visita aos doentes aos quais, em companhia de outro diácono, ministrava a Santa Ceia. Ao chegar à sua casa, anotava o nome desses doentes e o respectivo número dos seus cartões de participação no ato e levava à secretaria da igreja. Fazia isso com carinho e responsabilidade e não com a desfaçatez de angariar posição. Para ele não havia liberdade para o erro. Diácono, na sua concepção, era servir a Deus e à sua casa. Nunca reclamou de nenhum companheiro, mesmo que ficasse sozinho em um serviço que devia ser dividido. A idade não era empecilho para ficar quase 2 horas em pé durante os cultos. Não foram poucas as vezes em que foi escalado para servir na galeria do templo, sendo necessário, para cumprir esse papel, subir as escadas do local. Não pensava que era injusto estar ali apesar da idade. Tinha prazer em servir e servia com prazer. Mesmo doente, não quis pedir afastamento do diaconato. Manteve-se fiel ao serviço enquanto teve forças físicas. Não foram poucos os cultos aos quais foi portando uma sonda, poucos meses depois de diagnosticada a enfermidade. Caminhava com passos lentos, mas no rosto a alegria de estar indo em direção à igreja minorava os efeitos de quem suportava infortúnios de um mal que não teve força para prostrá-lo.

Veja o vídeo de uma participação sua numa reunião de família, no dia 1º de janeiro deste ano

“Um herói não morre”. Essa frase foi dita por um dos seus amigos, ao aproximar-se do caixão onde estava seu corpo. Não foi um argumento fajuto. Era a tradução de quem conhecia o homem que estava deitado naquela urna, com um semblante como anjo. “Ele parece que está dormindo”, disse pastor Adão Araújo, que passou pelo velório no sábado, por volta das 22h. Bem perto do corpo, o presidente das Assembleias de Deus de Timóteo e da Comadvardo, permaneceu alguns minutos observando aquela ovelha que nunca lhe deu trabalho e que nunca foi repreendida por uma atitude. Pastor Adão via, ali, o retrato do fiel que ele muitas vezes expressa em suas mensagens como aquele apto para morar no céu.

A morte enfeita a vida para quem adorna a vida na morte. Viver, para o diácono Antônio Rodrigues dos Santos só tinha sentido se pudesse ter Deus como alvo desta existência e razão do seu respirar. Ele não maldizia dos obstáculos que eventualmente enfrentava em sua caminhada. Depositava em Deus suas esperanças e invocava a Bíblia como parâmetro das suas ações. Não recorreu aos “mestres” e “sabidões” para aferir sua fé. Sabia que a palavra do seu Criador dispensava “achismos” e, era por isso, um leitor assíduo do sagrado Livro.

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Só a morte fê-lo caminhar em direção oposta à da esposa.

Ajoelhado ao lado de sua cama, encerrava os dias com oração. Naquele aposento chorava ao louvar a Deus e sua voz ecoava pela casa que construiu com o suor do seu rosto. Em nenhum tijolo dela tem a mão suja de “bonzinhos”. Com trabalho erigiu o patrimônio que abriga a família. Não o deve a favores de quem quer que seja. Deus foi seu amigo e protetor. A Ele, tão somente a Ele, rendia gratidão pelas conquistas.

Não se vendeu como um prestigiado ou dono de prestígio. Seu púlpito eram as oportunidades que encontrava para falar de Jesus.

O diácono Antônio Rodrigues dos Santos morreu no sábado, no horário em que saía para a escola Bíblica dominical, e foi sepultado no domingo, no horário em que ela era encerrada. Foi sepultado em um dia da semana tido por ele como um dos mais alegres, pois podia ir à casa de Deus duas vezes, pela manhã e à noite.

Se ele fazia de cada situação uma oportunidade para levar alguém à reflexão sobre a salvação, o momento que você tirou para ler essa sua história também pode ser uma daquelas oportunidades que ele vislumbrava. O diácono Antônio Rodrigues dos Santos quis ir a céu e foi. E você, quer ir e vai? 

4 COMENTÁRIOS

  1. meus sentimentos Silas a vc e toda sua familia. que Deus console a todos pq ELE, só ELE é nosso consolador…

  2. bela lembrança neste culto de aniverssario dive prazer de comemorar jnto com nosso de DC irmao antonio rodriques.Deus abençoe vcs sempre e conforte.

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