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O governador Beto Richa (esq.) com Fernando Francischini
no ato de posse do Secretário de Sgurança Pública. (foto: CPAD News)

Magali Cunha

Em 29 de abril as telas de TV e as páginas da internet foram inundadas de imagens do cenário de guerra imposto pela polícia do Paraná a professores que realizavam manifestação em frente a Assembleia Legislativa (ALEP).

A ação repressiva que deixou cerca de 200 manifestantes feridos, alguns em estado grave, foi autorizada pelo governador Beto Richa (PSDB/PR) e implementada pelo seu secretário de Segurança Pública, o delegado da Polícia Federal reeleito deputado federal em 2014 Fernando Francischini (SDD-PR).

Desde a ocupação da ALEP por manifestantes, que ocorreu em fevereiro deste ano, o secretário tem atuado pessoalmente comandando a ação da Polícia Militar do Paraná (PM) e elaborou a tática de guerra utilizada pelas forças policiais para conter manifestações.

Até 2014, Fernando Francischini integrava a bancada evangélica Câmara Federal e a bancada da Segurança Pública (conhecida como “bancada da bala”. Reeleito para a atual legislatura, licenciou-se em dezembro para assumir a SESP-PR a convite do governador.

Evangélico da Assembleia de Deus
Fernando Francischini é membro da Assembleia de Deus em Curitiba. Em sua campanha para deputado declarou: “Minha ligação com a igreja é muito forte. Sou contra misturar religião e política, mas a gente acaba abraçando as bandeiras da nossa fé. Com certeza muita gente que virá para o partido tem ligação com a defesa da família, com o combate ao aborto e à legalização das drogas”, explica.

Em sessão da Câmara dos Deputados que registrou o centenário da Assembleia de Deus no Brasil, realizada em 14 de junho de 2011, Fernando Francischini assim se pronunciou:

Eu sou Delegado licenciado da Polícia Federal. Trabalhei 22 anos como policial. Fui responsável pela prisão do Fernandinho Beira-Mar, pela prisão do colombiano Juan Carlos Abadia, por grandes operações de combate à corrupção em nosso País. Mas eu descobri o que poderia fazer realmente da minha carreira quando conheci uma mulher, uma sogra brasiliense. Quando eu decidi me casar, ela olhou para mim e falou: O senhor é evangélico, é crente? Respondi: Não, não sou. Ela disse: Bom, para casar com minha filha, Sr. Delegado, o senhor tem que fazer 1 ano de escola dominical na minha igreja. E está aqui agora um delegado da Polícia Federal, Deputado Federal, assembleiano. (Palmas.)
Eu me casei há 15 anos, aqui em Brasília, na Igreja do Pastor Sóstenes, que aqui está. Fui casado pelo Pastor Clóvis, de Sobradinho, e pelo meu amigo Pastor Takayama, por quem eu tenho um carinho muito especial. Congregamos junto com o Pastor José Pimentel de Carvalho, que me batizou, batizou a minha esposa. E, para honra e glória do Senhor, a última apresentação que ele fez na Igreja antes do seu falecimento foi a do meu filho. Então, é um orgulho para mim e para o Deputado Takayama, que representamos o Estado do Paraná, cumprimentar o Pastor Ival Teodoro, o Pastor Wagner Gaby, nosso Presidente em Curitiba, e realmente fazer esta homenagem.
Acho que os 100 anos da nossa Igreja têm que ter o registro histórico de um pastor que foi nosso presidente de honra tantas vezes, o Pastor José Pimentel de Carvalho (palmas), que me ensinou a usar a minha profissão de delegado da Polícia Federal para ajudar casas de recuperação de jovens drogados, criar programas de recuperação nas escolas do nosso Paraná, convencer o nosso Governador Beto Richa a criar esses programas, a ter os evangélicos mais perto e poder abrir uma fatia enorme de participação da ação social no combate ao crime, no combate às drogas.
Foi inspirado em tudo isso que eu entrei na Justiça e consegui proibir, em Curitiba, a Marcha da Maconha; depois, em São Paulo e em Belo Horizonte. Eu ganhei na Justiça a ação que proibiu a Marcha da Maconha em três capitais do nosso País. Deus abençoe a todos.

Ao assumir como Secretário de Segurança Pública do Paraná, Francischini nomeou seu assessor o pastor Izaías Porto, segundo tesoureiro da Convenção Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus do Estado Paraná (CIEADEP). “É um grande marco para a igreja Assembleia de Deus em Curitiba. Teremos um membro em plena atividade, dando suporte a todos os evangélicos do estado, bem como a população em geral”, declarou na posse de Francischini, o presidente da igreja Pastor Wagner Gaby.

O delegado esteve no templo sede da igreja em dezembro, para declarar seu apoio irrestrito a todos os paranaenses e aos evangélicos tementes a Deus. Ele afirmou também que o empecilho das autoridades eclesiásticas para entrar nos presídios estava acabando naquele momento. “Sabemos que hoje, 90% das armas e drogas entram pela nossa fronteira. Vamos trabalhar firmes e com muita dedicação. Serei o exemplo e estarei junto com os militares nas ruas”, concluiu Francischini.

O secretário de Segurança tem realizado reuniões com representantes da Convenção das Igrejas Assembleias de Deus do Paraná e, deverá ser o novo líder do partido que a igreja está criando, o Partido Republicano Cristão (PRC) no Estado.

O Rambo Curitibano

Conhecido como o Rambo Curitibano, a campanha de Francischini para deputado federal em 2014 foi centrada em uma guerra ao PT, à Presidente Dilma Rousseff e às organizações de direitos humanos. Com ações bem coordenadas na internet, o político deixou de ser um inexpressivo delegado para se tornar ícone da “cruzada contra a corrupção e a impunidade”.

O slogan de campanha dos Francischini pai e filho, com a imagem de “xerife”, foi “Coragem tem nome. E sobrenome”. Aos questionamentos da imprensa, respondeu com frases de efeito como “meu perfil é de lei e ordem”. A estratégia lhe rendeu 160 mil votos, o sexto mais votado no Estado do Paraná. Ainda conseguiu eleger Deputado Estadual seu filho Felipe Francischini, com 35.842 votos. Em dezembro de 2014 o governador Beto Richa nomeou-o secretário de Segurança Pública.

O delegado já divulgava o feito de ter prendido os traficantes Abadia e Fernandinho Beiramar, grandes chefes do narcotráfico internacional, o que lhe valia a imagem de “durão”. Francischini foi secretário Municipal Antidrogas de Curitiba, de 2008 a 2010, e foi eleito deputado federal em 2010, pelo PSDB. Francischini mudou de partido para o Solidariedade (SD), em 2012, capitaneado pela Força Sindical, tendo se tornado líder do partido na Câmara. Na Casa, foi um dos principais nomes de oposição ao governo federal e ao PT, e organizou movimentos que pedem impeachment da presidenta Dilma, colocando-se como um dos membros mais ativos da CPI que investiga a Petrobras.

Uma controvérsia nas investigações da Petrobrás, no entanto, revela outra imagem de Fernando Francischini. Uma troca de mensagens entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) de outubro de 2013, interceptada pela Polícia Federal, cita o líder do Solidariedade.

Em 8 de outubro de 2013, “LA” (codinome de Argôlo, segundo a PF) diz para “Primo” (Youssef): “Francisquine (sic) fica na lid (liderança) fazendo o papel combinado com a gente e eu farei com 1 vice-líder o encaminhamento em prol do Gov e do Palácio.” No dia seguinte, Argôlo pergunta para Youssef: “Vc acha que devo pegar a vice lide (vice-liderança) ou a Comissão do orçamento?? (sic).” O doleiro responde: “Pega a vice-liderança porque esse cara não vai estar tempo todo aí assim você tem mais controle sobre ele e vai estar tempo todo com governo comissão de orçamento eh muito boa mais acho que em outro momento nesse tem que estar perto do governo (sic).” Argôlo foi vice-líder do Solidariedade até 16 de maio, quando perdeu o cargo pelas denúncias de envolvimento com o doleiro.

Naquele dia a Folha de S. Paulo publicou uma parte da conversa, citando a orientação de Youssef para o deputado se aproximar do governo. A PF interceptou 1,4 mil mensagens trocadas entre Youssef e Argôlo, que estão sob sigilo. O trecho que cita Francischini foi anexado em um recurso de um dos processos da Lava Jato.

Como chefe da segurança do Estado, sua primeira medida foi a transferência do Departamento Penitenciário (Depen) da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SEJU) para a Secretaria de Segurança Pública (SESP). A medida foi aprovada dentro do “pacote de maldades” enviado por Beto Richa à ALEP. A justificativa foi “combater o crime organizado”.

Grande figura ideológica, Francischini reforça toda a lógica repressiva e violenta da lei e da ordem. O deputado defende que a resposta à violência da sociedade é um Estado mais violento e com penas cada vez mais duras. Ele é a favor da redução da maioridade penal e da pena de morte, simbolizado no mantra ultraconservador “bandido bom é bandido morto”. O delegado comemorou o homicídio de quatro pessoas pela polícia em uma semana no Paraná, levando à prática a morte de “bandidos”, como noticiou a Gazeta do Povo, em 23/04/2015.

Reprodução/RBA

Em janeiro, Fernando Francischini deu entrevista à TV Tribuna expondo um revólver na cintura, jogando contra campanhas de desarmamento para reduzir crimes violentos e letais nas ruas. Ele supera os deputados da “bancada da bala” Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, que costumam portar armas em público, mas sob a roupa.

Na análise da jornalista Helena Sthephanowitz : “Apesar de policiais poderem andar armados em várias situações – e Francischini é delegado licenciado da Polícia Federal –, nada justifica a ostentação do revólver em um estúdio de TV cercado de toda a segurança e exibido para o grande público, inclusive para crianças, às 13h. A não ser o populismo barato de querer aparecer como um ‘xerifão’, além do ‘merchandising’ para a indústria de armas que já financiou sua campanha eleitoral”. Francischini recebeu da Taurus, grupo fabricante de armas, R$ 50 mil para sua campanha em 2010.

fonte: Mídia, Religião e Política