
As Assembleias de Deus de Timóteo, presididas pelo pastor Adão Araújo, perderam um dos seus ícones históricos, daqueles que se confundem com a trajetória da denominação, mesmo que não recebam tratamento condizente com essa situação.
Zélia de Brito Félix morreu na madrugada desta quinta-feira (9). Aos 83 anos, a pioneira passou mal por volta da 1h. Conduzida ao UPA, do bairro Olaria, ela não resistiu a uma insuficiência respiratória. Na semana passada ela causou um susto na família. Segundo informações, Zélia sentiu mal na casa de uma filha, em Ipatinga. Socorrida, o médico que a atendeu disse que, por pouco, ela não sofreu um infarto.

A morte de Zélia de Brito conclui um capítulo de luta e dedicação em prol do crescimento da obra de Deus em Timóteo. Ao lado do marido, Sebastião Elvécio, falecido há 8 anos, a matriarca dos “Britos” entrou para a seleta galeria dos que abriram caminhos para o crescimento da Assembleia de Deus em Timóteo. Simples, de uma conduta irrepreensível sob qualquer ponto de vista, a religiosa conferiu ao ministério do esposo um período de honradez e trabalho sem pretensões discutíveis. Sem holofote, mimos e bajulações, Zélia não perdeu o brilho de uma viúva ilustre, cuja contribuição com a obra de Deus jamais será deletada pela tecla da ingratidão dos “computadores” injustos.

O marido foi o primeiro pastor da Assembleia de Deus do bairro Alvorada. O empenho do líder para manter a igreja em ritmo de crescimento foi realçado pela dedicação desta serva de Deus. Com os filhos menores, Zélia não media esforços para auxiliar o marido nas suas tarefas como dirigente de igreja. Depois de um tempo em Alvorada, o casal foi transferido para Cachoeira do Vale, onde ficou por muitos anos dirigindo a congregação da Assembleia de Deus. A ida para aquele local não significaria o fim de dificuldades. A devoção à causa de Deus foi ferramenta eficaz na superação de obstáculos muito comuns na época.
As intempéries típicas daqueles tempos atestavam com força indiscutível na sua intensidade a dimensão do empenho de Zélia como mulher que dedicava seus dias na criação dos filhos e carinho com as ovelhas pastoreadas pelo marido. Ela soube conciliar esposa e “pastora”. Soube honrar o ministério do companheiro! Não foi apelidada de “pastora” nem “missionária”. Terminou seus dias com o nome que iniciou seus dias na obra de Deus: “irmã Zélia”.

Um dos seus filhos, o presbítero Juscenil Félix, contou que a mãe tinha o hábito de coloca-los para orar de madrugada. A distância que separava sua casa da congregação em Coronel Fabriciano, onde acostumava também ir para louvar a Deus, muitas vezes foi percorrida à pé, levando consigo os filhos. A motivação para aquilo tudo era a salvação de almas e seu aprimoramento como mulher de Deus.
As limitações impostas pela perda gradativa da visão, provocada, em parte, pela Diabetes, mas que alcançou 100% em pouco tempo, não lhe tirou a visão espiritual. Zélia primava pelos costumes que identificavam os fiéis da Assembleia de Deus, os quais já foram, de certa forma, o diferencial da denominação com relação a outros seguimentos evangélicos. Sua conduta moral, seu estilo sóbrio e sua postura, são facetas de uma descrição que sintetiza sua firmeza como serva de Deus.

Uma de suas netas contou que um dois dias antes de morrer, Zélia, no momento em que ouvia uma pregação em sua casa, disse, por três vezes: “Jesus vai me levar hoje”. Neste momento ela batia com os pés no chão e falava em mistério com Deus. Pouco mais de 24 horas depois Zélia havia sido chamada para o descanso eterno. Sua morte foi serena. Seu fôlego de vida sessou sem sofrimento. Ela que militou na obra de Deus, que foi ativa na igreja militante, agora descansa com a igreja triunfante.
A perda desta mulher empobreceu o arquivo vivo da história das Assembleias de Deus de Timóteo. Na celebração do culto memorial, minutos antes do caixão com seu corpo ser conduzido para o cemitério, o pastor Carmo Matias disse que a morte de Zélia era uma perda para a família e para a igreja, onde ela congregou por muitos anos. Carmo lembrou que ela era assídua nos cultos e recordou que, no domingo anterior, ela participou da Santa Ceia.
Em julho próximo a Assembleia de Deus do bairro Alvorada irá comemorar seu jubileu de ouro. Zélia não estará para receber a homenagem como uma das pioneiras do local e viúva do primeiro pastor da congregação. Entretanto, seu nome e do seu marido deverão ser citados como desbravadores e responsáveis por gloriosos capítulos históricos daquela igreja.
A vida prossegue e a história também. Nesta dinâmica, perde-se referenciais de uma época e de um povo. Recordar que Zélia não está mais entre nós, é uma prova desta realidade, às vezes dura como rocha. Porém, a certeza de que ela combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé, consola e evidencia que sua história foi um compêndio de êxitos que fazem da sua caminhada um exemplo para ser seguido. Os 50 anos de existência da congregação da Assembleia de Deus do bairro Alvorada serão comemorados brevemente. A falta de Zélia neste evento será uma sombra que sublinhará a homenagem aos que contribuíram para seu crescimento. Uma sombra que lança luz à lembrança de que “preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus Santos”. Zélia de Brito Félix, que deixou 12 filhos, 33 netos, 34 bisnetos e 5 tataranetos, descansa com o Senhor!